“Se essas afirmações encontrarem ressonância, provavelmente temos ambivalência de características em alto grau”, afirma Hohnsbehn.
A ambivalência de características ajuda a nos proteger desse tipo de pensamento excessivamente simplista – e pode também nos ajudar de outras formas.
Estudos de Schneider indicam, por exemplo, que pessoas com alto grau de ambivalência de características também são menos propensas ao “viés da correspondência”, que é uma tendência a ignorar o contexto do comportamento de alguém e, em vez disso, atribuir fracassos e sucessos diretamente às próprias pessoas.
Para dar um exemplo direto: se alguém escorregar, o viés de correspondência pode nos levar a concluir que ele é inerentemente desajeitado (fator interno), sem reconhecer que o piso pode estar escorregadio (fator externo).
O viés de correspondência pode também nos levar a considerar que alguém tem dificuldades de aprendizado simplesmente por falta de inteligência, sem considerar suas dificuldades financeiras ou responsabilidades na família.
Pessoas com alto grau de ambivalência de características são mais propensas a reconhecer esses outros fatores do que as pessoas que fazem julgamentos rápidos e confiantes.
As pesquisas de Hohnsbehn devem ser boas notícias se você já se sentiu impaciente com sua incapacidade de chegar a uma decisão com rapidez.
“A experiência geral de ser ambivalente precisa ser aceita”, sugere ela. “Ela pode nos dar a pausa necessária, sinalizando que as coisas são complexas e que precisamos nos dedicar a pensar com mais cuidado, por mais tempo, sobre nossa decisão.”
Somente quando esse processo se torna excessivo, começamos a enfrentar problemas. “Como ocorre com a maioria das questões, existe um equilíbrio que precisa ser atingido”, acrescenta Hohnsbehn.
Isso pode explicar por que as pessoas indecisas, muitas vezes, têm avaliações mais baixas em termos de satisfação na vida. Sua ambivalência, ao enfrentar escolhas importantes, é devastadora.
Uma medida simples pode ser estabelecer um limite de tempo para sua decisão final, para não passar tempo demais ruminando sobre as diferentes opções sem avaliar novas perspectivas.
Dependendo do tipo de problema que você esteja enfrentando, Hohnsbehn sugere até considerar uma série de tarefas – como dedicar duas horas à busca de novas informações, por exemplo, antes de passar um certo período de tempo deliberando.
Se, mesmo assim, você ainda se sentir paralisado, pode buscar inspiração em um estudo do economista Steven Levitt, da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, que examinou a felicidade geral das pessoas depois de realizar mudanças importantes na vida.
Levitt é um dos autores do livro Freakonomics e criou um site onde as pessoas descreveram diversos dilemas que estavam enfrentando nas suas vidas – desde fazer uma tatuagem até mudar de casa, voltar a estudar ou pedir demissão. Pede-se então aos participantes que joguem cara-ou-coroa para que o resultado defina se eles devem ou não tomar uma atitude.
Ao acompanhar os participantes nos meses que se seguiram, Levitt concluiu que muitas pessoas haviam corrido o risco. Quando a moeda disse que eles deveriam seguir em frente, a maioria fez a mudança de vida.
E eles relataram estar significativamente mais felizes do que aqueles que continuaram como estavam (independentemente do resultado do cara-ou-coroa), sem sair do emprego, mudar-se ou fazer aquela tatuagem.
Podemos supor que, antes do estudo, a maioria desses participantes já havia pensado cuidadosamente sobre a situação em questão, mas suas preocupações em fazer a escolha errada haviam evitado que elas corressem o risco. A moeda agiu simplesmente como um empurrãozinho para que eles finalmente superassem sua ambivalência.
A moral do estudo, portanto, não é que devemos basear todas as decisões em um resultado de cara-ou-coroa. Mas que superar a dúvida e a hesitação pode deixar você mais feliz do que imagina.
“Uma boa regra geral na tomada de decisões é que, sempre que você não conseguir decidir o que fazer, escolha a ação que represente uma mudança, em vez de manter o seu status quo“, conclui Levitt.
Como Chidi em The Good Place, podemos ponderar todos os prós e contras de cada situação e essa ambivalência nos ajudará a tomar decisões mais inteligentes.
Mas, depois que o pensamento ambivalente tiver cumprido sua função, você precisa aprender a colocá-lo de lado – com a certeza de que qualquer decisão frequentemente é melhor que não fazer nenhuma escolha.
*David Robson é escritor de Ciências e autor do livro O efeito da expectativa: como o seu pensamento pode transformar sua vida (em tradução livre do inglês