*Alerta de gatilho*

2015-04-10_190211

VANESSA DAL PONTE – Advogada, pós-graduada, especialista em direito das mulheres e práticas feministas. Pesquisadora integrante do Grupo de Estudos de Gênero da UFRRJ

Alerta de gatilho foi a hashtag que tomou conta das redes sociais essa semana depois do vídeo da agressão covarde do DJ Ivis a sua ex-mulher Pamella Holanda.
As cenas aterrorizantes, na frente da filha recém nascida do casal, da mãe da vítima, de um funcionário e registradas pelas câmeras dispararam um “gatilho” em muitas mulheres vítimas de violência doméstica.

Por meio de suas redes sociais o DJ Ivis se pronunciou justificando as agressões, alegando ameaças e chantagens. Como recompensa, ganhou mais 200 mil seguidores no Instagram, um tipo de apoio que fomentou o sentimento de impunidade. A indignação ganhou força com a manifestação de artistas e autoridades públicas.

Não demorou muito para vários cantores cancelarem a parceria com o DJ, que teve suas músicas retiradas de playlists editoriais do Spotify e várias rádios decidiram não tocar mais suas músicas durante a programação. Uma resposta da sociedade que não tolera mais violência contra a mulher.

O questionamento que segue sem resposta é sobre as responsabilidades do Instagram diante de casos como esses e porque a rede social derruba vídeos por contrariarem suas regras morais, mas permite que agressores de mulheres mantenham as contas com selo certificado. Meter a colher é salvar a mulher da agressão!

Ao lado das agressões, causa espanto a inação das testemunhas, em especial do homem que aparece nas filmagens e que foi identificado como funcionário do Dj Ivis, um exemplo claro da banalização e da normalização da violência contra a mulher.

Não dá mais para varrer a sujeira para debaixo do tapete. Precisamos começar a olhar para essa situação pelo ponto de vista da educação para entender por que quando ocorre algo assim a gente fica chocado, mas a reação da sociedade logo passa e o Poder Judiciário acaba não enfrentando essa situação da forma adequada.

Na quarta-feira o pedido de prisão preventiva feito pela polícia civil foi acatado pelo judiciário. Obviamente que não dá para respirar aliviada, quando a cada um minuto, 25 mulheres sofrem violência no Brasil (pesquisa Ipec/2020).

Não adianta nos chocarmos hoje e depois deixar esse caso cair em esquecimento. É preciso que as mulheres desapeguem desse ideal de manutenção da família, e tenham coragem e amparo para sair de relacionamentos abusivos.

Ao dar fim a esse ciclo a Pamela poupou a pequena Mel (filha do casal), de viver em um lar de conflitos, aprendendo conceitos deturpados sobre amor e respeito.
Muitas outras mulheres não tiveram essa coragem, esse amparo e essa força.

Espero, enfim, que justiça seja feita e, se não for pedir demais, que seja autorizada a saída do valentão para o desafio proposto pela rainha do UFC Cris Ciborg.