Viúvos da covid sofrem com pensão menor, após reforma da previdência

2015-04-10_190211

Pensionistas foram prejudicados de um dia para o outro, sem transição

Há dois anos, o Congresso aprovou a reforma da Previdência com regras mais duras para pensões por morte e aposentadorias por invalidez. Três meses depois, a Covid chegou ao Brasil, e a mudança atingiu em cheio a renda de famílias de mortos e de pessoas que ficaram incapacitadas para o trabalho.

Nas pensões por morte não houve regra de transição. Morrer em 12 de novembro de 2019 significava deixar uma pensão de 100% do salário de contribuição para os dependentes. Morrer no dia seguinte reduziria a pensão em mais de 60%. O mesmo vale para aposentadorias por invalidez (incapacidade permanente) decorrente de sequelas da covid.

Dados do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) revelam que o número de pensões previdenciárias disparou nos últimos três anos. De janeiro a setembro de 2021 foram concedidas 338 mil pensões para famílias trabalhadores urbanos, 62% a mais do que no mesmo período de 2019 (209 mil).

Não há detalhes sobre a causa da morte que levou à concessão da pensão. Especialistas dizem que parte do aumento pode ser atribuída a pedidos represados, mas que um crescimento deste porte se deve principalmente à Covid, que já matou mais de 610 mil pessoas no Brasil (68% delas em 2021).

Pensionistas foram prejudicados de um dia para o outro, sem transição. Antes da reforma, o cálculo excluía até 20% dos salários de contribuição, o que permitia chegar a uma média mais alta. Essa média, limitada ao teto da Previdência (hoje R$ 6.433,57), era a aposentadoria para sequelados que não podem mais trabalhar, ou a pensão por morte a ser dividida pelos dependentes do trabalhador.

A partir da reforma, acabou a possibilidade de se excluir até 20% dos salários mais baixos. Além disso, o INSS só paga pensão de 100% da média se homens contribuírem por 40 anos e mulheres por 35 anos. Abaixo disso, o ganho é proporcional. Homem que contribuiu até 20 anos e mulher até 15 anos ganham só 60%.

No caso da pensão por morte, os cortes não param por aí. Esse valor é novamente reduzido para 60% se houver apenas um dependente, 70% se houver dois, 80% se houver três, ou 90% se houver quatro dependentes. Só a família com cinco dependentes receberá a pensão sem essa última etapa de redução.

Em um exemplo hipotético, uma trabalhadora que contribuiu por quase 15 anos com salário médio de R$ 3.500 e morreu antes da reforma deixou uma pensão de R$ 3.500 para o único filho dependente. Se a morte fosse após a reforma, a média de salário cai para R$ 3.100 (porque não exclui os piores salários da carreira), e a pensão por morte para o único filho ficaria em R$ 1.116 —uma diminuição de 68% em relação à regra antiga.