Vacina contra câncer cerebral tem resultados promissores em pessoas e cães 3 de maio de 2024 Pesquisadores dos EUA apresentam resultados de um estudo preliminar com quatro indivíduos vítimas de glioblastoma, o mais agressivo e letal tumor de cérebro A ciência avança cada vez mais na busca por tratamentos eficazes contra diversos tipos de câncer. É o que demonstra um estudo publicado nesta quarta-feira (1º) no periódico Cell. Pela primeira vez, um ensaio clínico — isto é, com humanos — demonstrou o efeito de uma possível vacina contra o glioblastoma, o mais agressivo e letal tumor maligno que pode atingir o cérebro. A pesquisa ainda tem um longo caminho pela frente. A princípio, o experimento foi feito em apenas quatro pessoas, e a próxima etapa é analisar a vacina em um ensaio de fase 1, com até 24 adultos e crianças diagnosticados com glioblastoma. Mas os resultados são semelhantes aos observados em uma análise anterior, feita com dez cachorros vítimas de câncer no cérebro. A vacina age recrutando o sistema imunológico do indivíduo a combater o tumor. Com tecnologia mRNA e nanopartículas de lipídio, ela é personalizada, já que é feita com células malignas do próprio paciente. E ainda conta com um mecanismo avançado de distribuição do princípio ativo. “Em vez de injetarmos partículas individuais, estamos injetando aglomerados de partículas que se enrolam umas nas outras como cebolas, como uma sacola cheia de cebolas”, compara autor sênior Elias Sayour, oncologista pediátrico da Universidade da Flórida, nos EUA. “E a razão pela qual fizemos isso no contexto do câncer é que esses aglomerados alertam o sistema imunológico de uma maneira muito mais profunda do que partículas individuais”, diz ele, em comunicado. Administrado por via intravenosa, a rapidez com que o imunizante agiu impressionou os pesquisadores. “Em menos de 48 horas, pudemos observar esses tumores mudando do que chamamos de ‘frio’ — muito poucas células imunes, resposta imune muito silenciada — para ‘quente’, uma resposta imune muito ativa”, detalha Sayour. Atualmente, o tratamento do glioblastoma envolve cirurgia, radioterapia e quimioterapia. E o prognóstico dos pacientes é de apenas 15 meses de vida, em média. Como a vacina funciona Após remover o tumor cerebral nos quatro participantes selecionados, a equipe extraiu o RNA das células malignas. Depois, o RNA mensageiro (mRNA) — responsável por “transmitir” informações do nosso código genético — foi amplificado e envolvido em uma “embalagem” de nanopartículas lipídicas biocompatíveis. O objetivo é fazer com que as células tumorais pareçam com um vírus perigoso quando reinjetadas na corrente sanguínea e induzam uma resposta do sistema imune. “A demonstração de que a fabricação de uma vacina contra o câncer de mRNA dessa forma gera respostas semelhantes e fortes em camundongos, cães de estimação que desenvolveram câncer espontaneamente e pacientes humanos com câncer cerebral é uma descoberta realmente importante, porque muitas vezes não sabemos o quão bem os estudos pré-clínicos em animais vão se traduzir em respostas semelhantes em pacientes”, diz Duane Mitchell, diretor do Instituto de Ciência Clínica e Translacional da Universidade da Flórida e do Programa de Imunoterapia de Tumores Cerebrais da instituição, além de coautor do artigo. A vacina vem sendo estudada há mais de sete anos. Os cães que a receberam viveram, em média, 139 dias — mais que o dobro do que vivem cachorros diagnosticados com tumor cerebral, de 30 a 60 dias. Se os estudos de fase 1 forem bem-sucedidos, a equipe pretende seguir para a fase 2, que incluiria 25 crianças. “Estou esperançoso de que isso possa ser um novo paradigma para como tratamos os pacientes, uma nova tecnologia de plataforma para como podemos modular o sistema imunológico”, afirma Sayour.