Sentir raiva pode ser benéfico, apontam estudos 

2015-04-10_190211

 

Mesmo em um período de relativa paz e prosperidade, como indicam estatísticas da ONU, OIT e vários governos ao redor do mundo, a raiva parece ser uma emoção prevalente. Isso despertou o interesse de Oliver Burkeman, escritor e jornalista britânico conhecido por suas análises sobre a busca pela felicidade, que agora explora o sentimento de raiva.

A questão central é: por que nos sentimos com raiva, quais são os gatilhos mais frequentes e, principalmente, a raiva é necessariamente um sentimento ruim?

Segundo Aaron Sell, professor de psicologia e criminologia na Universidade Heidelberg, a raiva pode ser um sistema muito sofisticado de controle mental, capaz de forçar a valorização de uma pessoa ao modificar a percepção de outrem. Essa capacidade pode ser identificada em características como expressões faciais de raiva, que fazem alguém parecer fisicamente mais forte.

Sell sugere que pessoas que expressavam raiva de maneira particular no passado se reproduziram mais que aquelas que não o faziam. A raiva permitiu que esses indivíduos barganhassem por tratamento melhor, prevalecessem em conflitos de interesse e “recalibrassem” o comportamento dos seus colegas, garantindo um tratamento mais favorável. Isso poderia explicar a evolução da raiva como uma vantagem.

Quando estamos com raiva, nosso sistema nervoso simpático é ativado, aumentando a frequência cardíaca e a respiração, e reduzindo a atividade do sistema digestivo, como explica o professor Ryan Martin da Universidade do Wisconsin em Green Bay. A raiva também provoca uma maior focalização no pensamento para sobrevivência ou vingança.

Apesar do progresso, a vida moderna ainda pode alimentar a raiva. Demandas aumentadas e a sensação de ser constantemente ‘atrasado’ podem intensificar o sentimento de raiva, especialmente em tarefas consideradas desnecessárias ou que geram impotência.

Apesar disso, a professora Maya Tamir da Universidade Hebraica de Jerusalém acredita que temos mais controle sobre a raiva do que imaginamos. A raiva, argumenta, não precisa necessariamente desencadear agressão, pois as emoções também são ferramentas aprendidas e podemos cultivá-las de maneira criativa.

A raiva, quando controlada e direcionada de maneira eficaz, pode ser uma poderosa ferramenta para a ação. O filósofo e psicoterapeuta Mark Vernon aponta o conceito de “raiva justa” na tradição filosófica aristotélica e platônica, onde a raiva poderia ser canalizada para algo produtivo. Assim, é possível usar a raiva para inspirar coragem ou formular um bom argumento em defesa da justiça.

Em resumo, a raiva não é necessariamente ruim. O controle consciente sobre essa poderosa emoção pode permitir que ela seja direcionada de maneira produtiva, evitando uma espiral infinita de ódio e agressão.