Roundup: Bayer condenada pagar US$ 1,56 bilhão em casos de câncer em agricultores

2015-04-10_190211

Um júri entendeu que a Bayer tem responsabilidade em casos de câncer envolvendo o uso do herbicida com glifosfato. Roundup é o agroquímico mais vendido no Brasil

Um júri do estado norte-americano de Missouri entendeu que a Bayer tem responsabilidade em casos de câncer envolvendo o uso do herbicida Roundup, marca comercial da primeira patente de glifosato.

Jurados do tribunal em Jefferson City decidiram que a companhia deve pagar US$ 1,56 bilhão, sendo US$ 61,1 milhões em danos e mais US$ 1,5 bilhão em indenizações punitivas, para Dan Anderson, Jimmy e Brenda Draeger e Valorie Gunther.

Eles alegaram que anos de uso do Roundup causaram linfomas não Hodgkin.

  •  SAIBA  MAIS
  • A gigante química e farmacêutica alemã Bayer perdeu mais um processo relacionado a acusações de efeitos cancerígenos do Roundup, um herbicida à base de glifosato.

    Um tribunal no estado americano de Missouri condenou o grupo na última sexta-feira (17/11) a pagar um total de US$ 1,56 bilhão a quatro pessoas, que alegam ter contraído câncer através do uso do herbicida, vendido pela multinacional Monsanto, pertencente à Bayer.

    A Bayer anunciou que vai recorrer da sentença.

    “Diferentemente dos processos anteriores, os tribunais têm, nos casos recentes, permitido indevidamente que os demandantes apresentem de forma deturpada os fatos regulamentares e científicos”, alegou a empresa.

    Valorie Gunther de Nova York, Jimmy Draeger do Missouri e Daniel Anderson, da Califórnia, receberam juntos US$ 61,1 milhões em indenizações compensatórias e US$ 500 milhões, cada um, em “indenizações punitivas”. Eles foram diagnosticados com linfoma não Hodgkin, que eles alegam ter sido causado pelo uso do Roundup na propriedade de suas famílias. A esposa de Draeger, Brenda, recebeu US$ 100 mil pelos danos que ela supostamente sofreu devido à doença de seu marido.

     

    Derrotas consecutivas

    Em outubro passado, a Bayer sofreu três derrotas consecutivas nos tribunais, após ter ganhado nove processos.

    A Bayer sempre rejeitou as acusações contra o glifosato. A empresa alemã disse que décadas de estudos mostraram que o Roundup e seu ingrediente ativo, o glifosato, são seguros para uso humano.

    Amplamente aplicado na União Europeia e em vários países do mundo, o glifosato tem estado no centro de um acalorado debate científico sobre seus efeitos na saúde e no meio ambiente.

    Em julho, a Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar (EFSA) declarou que não encontrou “áreas de preocupação crítica” que justificariam uma proibição do produto, embora tenha ressaltado que possuía poucos dados para avaliação.

    A EFSA informou que entre os aspectos que não puderam ser esclarecidos de maneira conclusiva estão os riscos nutricionais para os consumidores e avaliações de risco para plantas aquáticas. O material disponível também não permitiu chegar a conclusões sobre potenciais riscos à proteção de espécies. O caráter inconclusivo do relatório foi amplamente criticado por especialistas independentes.

    Entretanto, a Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC, na sigla em inglês), da Organização Mundial da Saúde (OMS) avaliou em 2015 a substância como “provavelmente cancerígena”.

     

    Licença será prorrogada na UE

    Na quinta-feira passada, a Comissão Europeia anunciou que prorrogará por mais dez anos a licença para o uso do glifosato na União Europeia (UE). A decisão foi tomada devido à falta de um consenso entre os 27 países do bloco sobre a extensão da licença ou a proibição do agrotóxico mais utilizado no mundo e cuja aplicação é alvo de polêmicas e intensos debates entre especialistas e ambientalistas.

    Segundo fontes diplomáticas, sete países, incluindo a França, Alemanha e Itália, se abstiveram na votação. Na última quinta-feira, uma nova votação também foi inconclusiva. A licença do glifosato expiraria em meados de dezembro. Devido ao impasse, a Comissão Europeia decidiu endossar a própria proposta e prorrogar por dez anos a autorização para o uso do produto.

    Cerca de 165 mil queixas foram feitas por danos pessoais supostamente causados ​​pelo Roundup, marca adquirida pela Bayer em 2018, quando a alemã comprou a produtora de glifosato Monsanto, por US$ 63 bilhões.

    Em 2020, a Bayer anunciou que direcionou mais de US$ 10 bilhões de dólares para encerrar aproximadamente cerca de 95 mil processos nos EUA relacionados ao herbicida Roundup. Cerca de 50 mil processos continuam em aberto.

    E no Brasil?

    No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) decidiu manter, com restrições, o uso do glifosato. A decisão foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) em 9 de dezembro de 2020 e marcou o fim de uma reavaliação do produto que se iniciou ainda em 2008.
    Em março de 2019, o órgão já havia publicado um parecer que concluía que a substância “não apresenta características mutagênicas e carcinogênicas” – ou seja, que não causa câncer – e que “não é um desregulador endócrino”, não interferindo, portanto, na produção de hormônios.
    No final de 2020, o órgão estabeleceu que, para aplicar o defensivo nas lavouras, os agricultores devem utilizar tecnologias que reduzam em 50% a deriva – dispersão das gotas do agrotóxico para fora da lavoura no momento da aplicação do produto, o que pode provocar contaminação de áreas próximas à plantação – para doses acima 1,8 mil gramas por hectare.
    Já para doses acima de 3,7 mil gramas por hectare, além da redução da deriva em 50%, a Anvisa exige uma margem de segurança de 5 metros no limite externo da plantação, em regiões próximas a moradias ou escolas.