Por que temos boas ideias no chuveiro? A ciência explica

2015-04-10_190211

Você se sente mais criativo no banho? É lá que surgem as respostas para os seus problemas? Entenda o que há por trás desses momentos de epifania

O matemático grego Arquimedes talvez seja o primeiro e mais famoso exemplo do chamado “shower effect” – “efeito banho” ou “efeito do chuveiro”, nome dado àquela criatividade que parece surgir naturalmente assim que abrimos o shampoo e a água quente começa a cair.

A história
Arquimedes teria recebido uma difícil tarefa de um rei – atestar se a sua coroa tinha realmente a quantidade de ouro que foi dada ao artesão. Sem ideia de como fazer isso, o matemático teria entrado em uma banheira e percebido que o volume de água que subia era igual ao volume de seu corpo. Eureca: para descobrir o volume (e, consequentemente, a densidade) da coroa, bastava reproduzir o processo e jogá-la n’água. Problema resolvido.
Milhares de anos depois do banho de Arquimedes, um grupo de pesquisadores resolveu destrinchar o “efeito do chuveiro” e para entender se ele existe, de fato, e como funciona.
Em seu estudo, publicado na revista Psychology of Aesthetics, Creativity, and the Arts, da Associação Americana de Psicologia, eles explicam o que o efeito significa para nossa mente, o que provavelmente o ativa – e como podemos usá-lo a nosso favor
A epifania vivenciada sob o chuveiro é consequência da natureza despretensiosa da tarefa. Segundo a pesquisa, o “shower effect” acontece quando nos engajamos em algo que não demanda muito da nossa cognição – como caminhar, praticar jardinagem e, claro, tomar banho. Ao deixarmos nossa mente vagar livremente (mas não tão livre a ponto de ficar distraída), estaríamos mais propensos a pensar em algo inovador e criativo. Pesquisas anteriores já tinham abordado esse tema.
Os seus resultados iniciais pareciam confirmar que, ao praticar uma atividade pouco exigente, o cérebro tende a vagar – e nossa criatividade, a fluir. Contudo, não foram todas as que produziram resultados similares.
O que pode ter
acontecido?
Uma hipótese apresentada pelo novo estudo é de que, anteriormente, o que era realmente medido era o quão distraídos os participantes estavam – o que não é o mesmo que divagar.
Outro problema com alguns desses estudos são as tarefas que os participantes realizaram: em um deles, por exemplo, as pessoas eram expostas a uma sequência de números, e deveriam apertar um botão toda vez que o número 3 aparecia. Segundo a nova pesquisa recente, essas atividades até podem estimular a mente da maneira correta, mas não traduzem bem o mundo real – ou seja, falham em simular tarefas do dia a dia.

Como o estudo
foi feito
Para testar essa hipótese, os pesquisadores dividiram os participantes em dois grupos.
O objetivo era pensar e apresentar usos alternativos para um tijolo ou um clipe de papel.
Antes, cada grupo assistia a um vídeo diferente. O primeiro viu assistiu um vídeo monótono, em que dois homens dobravam roupas.
O outro assistiu a um “razoavelmente envolvente”: uma cena da comédia romântica Harry e Sally – Feitos Um para o Outro (1989). Os vídeos desempenhavam o mesmo papel do banho: foram escolhidos justamente por serem algo comum, tarefas que realizamos com frequência.
“O que queríamos saber não era qual vídeo estava ajudando você a ser mais criativo”, conta Zac Irving, um dos envolvidos no estudo. “A questão era: como a divagação mental está relacionada à criatividade durante tarefas chatas ou envolventes?”
Após os vídeos, os participantes listaram usos alternativos para os objetos. Eles também relataram o quanto suas mentes viajaram durante as cenas.
Os pesquisadores descobriram que deixar a mente viajar ajuda a desenvolver ideias mais criativas. A divagação levou a um maior número de ideias, mas só quando os participantes assistiram ao trecho do filme – o que não aconteceu com o vídeo “chato”. “Imagine que você está empacado em um problema.
O que você faz?”, questiona Irving. “Provavelmente não será algo absurdamente chato como ver tinta secar. Em vez disso, você faz algo que te deixa ocupado, como caminhar ou tomar banho. Atividades que sejam moderadamente envolventes.”
Então, fica o conselho: se estiver precisando de uma dose extra de criatividade, caminhar até a padaria ou tomar um banho pode, realmente, te ajudar na epifania que você precisa.