Pesquisadores da UFRJ descobrem canabidiol sem alucinógeno em planta nativa brasileira

2015-04-10_190211
Pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) descobriram que uma planta nativa brasileira, chamada Trema micrantha blume , é capaz de produzir canabidiol (CBD) em suas flores e frutos sem a presença do tetrahidrocanabinol (THC), substância psicoativa presente na Cannabis sativa, que é tolerada de ser cultivada por produzir droga alucinógena, a maconha. Com a descoberta, aguardo é que o uso de medicamentos sem barreiras legais seja potencializado no país.
O coordenador da pesquisa, Rodrigo Soares Moura Neto, do Instituto de Biologia da UFRJ, explica que a Trema micrantha blume conseguiria driblar as barreiras legais impostas hoje à Cannabis. No ano passado, uma resolução do Conselho Federal de Medicina determinou que os médicos só podem prescrever o CBD para tratamento de epilepsias na infância e na adolescência. No entanto, o Congresso Nacional Brasileiro ainda divulga o lançamento do cultivo da planta em escala industrial, como ocorre nos Estados Unidos, no Canadá e em Portugal.

De acordo com Neto, quando se comercializa canabidiol, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) impõe restrição na fórmula, que só pode ter 0,2% de THC.

— No caso da planta brasileira, isso não seria um problema, porque não existe nada de THC nela. Também não haveria a restrição jurídica de plantio, porque ela pode ser plantada à vontade. Na verdade, ela já está espalhada pelo Brasil inteiro. Seria uma fonte mais fácil e barata de obter o canabidiol — informado.

Efeito anti-inflamatório e analgesia

 

Por ser nativo, os pesquisadores afirmam que a espécie não precisa de lugar e condições específicas para ser cultivada. Inclusive, a Trema micrantha blume é bastante usada em áreas de reflorestamento. Por nunca ter sido estudado detalhadamente, ela ainda precisará passar por alguns processos de manipulação para que possa ser consumida como um medicamento fitoterápico.

— A pesquisa nada mais é que a descoberta de um novo fitoterápico. A espécie será mantida a processos de purificação, caracterização química e estrutural para, enfim, fazer um efeito farmacológico in vitro dividido em vários sistemas. Depois, em um segundo estágio, serão feitos testes em animais de laboratório — explica Neto. — Devido à similaridade com a Cannabis, o estudo medicinal é facilitado.

Tecnicamente, ainda não há estudos que apontem os tipos de doenças que podem ser tratadas com a planta. No entanto, as técnicas de medicamentos caseiros demonstram que a tem espécie de efeito anti-inflamatório e analgesia.

Químicos, biólogos, geneticistas e botânicos estão mapeando os métodos mais eficazes de análise e herança do canabidiol da planta. Segundo o professor, em seis meses começarão os processos in vitro, quando será analisado se o componente tem a mesma atividade que o canabidiol extraído da Cannabis sativa.

A pesquisa conta com R$ 500 mil de recursos, obtidos por meio do edital de Ciências Agrárias, da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro (Faperj), ligada à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do governo do estado .