Alta foi puxada por vencimentos de despesas de impostos, gastos escolares e contribuições para órgãos de classe, entre outras
A proporção de famílias brasileiras endividadas cresceu 0,3 ponto porcentual (p.p.) em fevereiro ante janeiro, para 78,3%, após dois meses de estabilidade, informou nesta quarta-feira (8) a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), ao divulgar a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic). Na comparação com fevereiro de 2022, o crescimento foi de 1,7 p.p.
Embora tenha atingido, em 2022, uma média anual recorde na série histórica da Peic, iniciada em 2010, o endividamento – que considera qualquer tipo de dívida, incluindo o uso de cartão de crédito, mesmo que pago em dia – “vinha apontando perda de fôlego desde outubro” do ano passado, diz o relatório divulgado pela CNC.
A alta de fevereiro foi puxada por “vencimentos de despesas típicas do primeiro trimestre (tributos, despesas escolares e contribuições para órgãos de classe, entre outras)”, continua o relatório.
A CNC destacou ainda que a evolução recente do mercado de trabalho, com melhora na renda disponível, e o alívio na inflação acumulada em 12 meses evitaram novas rodadas de aumento da inadimplência.
Em fevereiro, 29,8% das famílias entrevistadas pela Peic relataram ter dívidas em atraso, 0,1 p.p. abaixo do registrado em janeiro. Na comparação com fevereiro de 2022, há um aumento de 2,8 p.p. nessa proporção.
Por outro lado, a leitura de fevereiro da Peic não sinaliza para um alívio continuado na inadimplência. Isso porque 11,6% das famílias relataram não ter condições de pagar as dívidas, mesmo nível de janeiro e 1,1 p.p. acima do registrado em fevereiro de 2022.
“Quem tem dívidas mais antigas segue enfrentando dificuldade de sair da inadimplência, em função dos juros elevados. A proporção de consumidores sem condições de pagar dívidas atrasadas de meses anteriores chegou a 11,6% do total, estável em relação a janeiro, mas a proporção mais alta desde outubro de 2020”, diz o relatório da CNC.
Entre os inadimplentes, 44% têm dívidas atrasadas por mais de 90 dias. “O tempo médio de atraso nos pagamentos foi de 62,7 dias, o maior desde janeiro de 2021”, diz o relatório da CNC.
Ainda conforme a entidade, a alta da proporção de endividados em fevereiro foi puxado pelas famílias com renda superior a três salários mínimos.
Entre as famílias mais pobres, que ganham até no máximo três salários mínimos por mês, a proporção de endividados caiu de 79,2% em janeiro para 79,0% em fevereiro. Já entre os entrevistados com rendimentos de três a cinco salários mínimos por mês, houve aumento de 78,8% para 79,4%.
Mulheres
Por conta do Dia Internacional da Mulher, comemorado nesta quarta-feira, a CNC divulgou algumas informações desagregadas por gênero na Peic de fevereiro.
Entre as mulheres, o endividamento subiu 1,1 p.p. em fevereiro ante janeiro, para 79,5% do total de entrevistadas, acima da variação agregada – entre os homens, houve queda de 0,1 p.p., para 77,2% dos consumidores entrevistados na Peic.
Entre as mulheres endividadas, 18,8% se consideram “muito endividadas”, enquanto, entre os homens, essa proporção ficou em 15,5% em fevereiro.
“Isso indica que as condições financeiras e orçamentárias estão mais apertadas para o público feminino”, diz o relatório da CNC.
A inadimplência também ficou maior entre elas, em fevereiro: 30,3% das entrevistadas relataram ter dívidas em atraso, enquanto 29,1% dos homens fizeram o mesmo.
“Mas uma vez inadimplentes, as mulheres buscam resolver mais rápido o problema: enquanto elas ficaram em média 62 dias sem pagar dívidas, os homens permaneceram 63,5 dias com dívidas atrasadas”, diz o relatório.