Coluna | “Regular as emoções é o primeiro passo para a inteligência emocional”

2015-04-10_190211

Viviane Tremarin – Psicóloga e Pós-graduanda em Terapia Cognitivo-Comportamental

Certo dia, enquanto estudava sobre procrastinação, me deparei com uma nova explicação para o comportamento de adiar intencionalmente as tarefas que precisam ser feitas. O artigo sugeria que a procrastinação tem a ver com regulação emocional. Ou seja, a ideia da tarefa criou uma sensação desagradável no cérebro, e ele, que por sua vez, vive buscando o prazer, tenta trazer de volta o humor que tinha antes de pensar na tarefa, então perdemos tempo vasculhando as redes sociais, que são uma grande fonte de prazer para muitas pessoas, para trazer uma emoção confortável à tona novamente e assim conseguir realizar a atividade.

Então comecei a observar quais eram os outros pontos da minha vida em que a regulação emocional seria o caminho. Eu frequento a academia na parte da manhã, e qualquer pessoa que faz isso (e acredito que as que não fazem também, é só imaginar) sabem como isso faz com que o dia já inicie com uma tarefa difícil – ainda mais no meio do inverno.

Num desses dias em que batalhas contra o frio são instauradas para sair da cama, meu cérebro estava tentando me convencer que ir à academia não era uma boa ideia. Meu humor mudou. Não julguei a emoção que estava atrapalhando meus planos naquele momento, não fiquei remoendo aquela sensação pensando como era ruim sentir aquilo e como eu só queria parar de sentir, não entrei em conflito interno brigando com o que meu corpo queria fazer enquanto a mente mandava fazer outra coisa.

Apenas voltei para a cama por cinco minutos, e dei ao meu cérebro o prazer do conforto que ele estava pedindo. Aproveitei esse tempo, senti o calor da cama, o conforto do travesseiro, o abraço das cobertas. Esses cinco minutos foram o bastante para melhorar meu humor, me fazer ir à academia e tornar a atividade mais prazerosa.

Todas as mudanças que o mundo exigiu de nós nos últimos tempos nos deixou estressados, cansados, sem paciência… eu não sei o que o dia vai te pedir, mas talvez regular a emoção seja a resposta. Regulação emocional é um processo que gerencia as emoções para inibir impulsos e construir respostas adequadas para as mais diversas situações que geram estresse, ansiedade ou exigem tomada de decisão.

Todos sentimos emoções de diferentes tipos e tentamos lidar com elas de maneiras tanto eficazes quanto ineficazes. O problema não é sentir tristeza, mas sim nossa capacidade de reconhecê-la, aceitá-la, usá-la quando possível e continuar a funcionar apesar dela.

Apesar das emoções serem importantíssimas para dar significado e conexão às nossas vidas, muitas pessoas se sentem sobrecarregadas com suas emoções, com medo delas e acreditam que esses sentimentos desagradáveis impedem um comportamento efetivo, assim ficam incapazes de lidar com elas. A desregulação emocional é a dificuldade ou a falta de habilidade de lidar com as experiências ou processar as emoções.

A regulação emocional inclui estratégias de enfrentamento que são usadas para confrontar a intensidade emociona desejada. Ela é como um termostato que regula a emoção e a mantém em um nível controlável para que então possamos lidar com ela.

A forma como lidamos com as emoções que surgem podem ser decisivas em situações de estresse. Por exemplo, uma pessoa que acabou de terminar uma relação pode sentir tristeza, raiva, ansiedade, falta de esperança e até alívio.

Conforme essas sensações se intensificam, ela pode vir a abusar de álcool e drogas, comer compulsivamente, ter insônia ou criticar-se. A forma problemática com a qual algumas pessoas lidam com a intensidade de suas emoções podem determinar se essas experiências estressantes vão leva-las a novos comportamentos problemáticos.

Claro que não vamos ter uma regulação emocional adaptativa o tempo todo, mas quando a supressão, paralisia, a ruminação ou esquiva diante das emoções se tornam um padrão de enfrentamento, existe o risco de agravar ainda mais o problema.

Cinco minutos
podem mudar tudo
É difícil falar sobre alguma prática na psicologia que não peça por autoconhecimento. O básico dele pelo menos. Com essa não é diferente. Como você vive a emoção? O que você faz, pensa ou sente depois da emoção? Quando você está sentindo ansiedade você recorre a esquiva, a ingestão compulsiva de alimentos, a ruminação dos pensamentos ou uso de bebidas?
Ou você busca apoio, validação e expressão dessas emoções? Você considera as emoções como normais, aceitando-as como naturais quando elas surgem, ou sente culpa, sobrecarga e confusão? Emoções são universais e evitar senti-las pode reforçar a ideia de que não se tem capacidade para lidar com elas.
Dar nome as emoções é crucial para processá-las. Nomeando é possível reconhecer o contexto em que elas surgiram. Uma boa forma de perceber que emoção estamos sentindo é analisar quais sintomas físicos elas carregam.
Se estiver com raiva, é possível notar o coração acelerado, sudorese e ondas de calor por exemplo. Para regular a emoção quando uma situação intensa surge podemos pensar como outras pessoas agiriam na mesma situação.
“Como alguém que eu gosto muito lidaria com isso? ”Essa atitude promove flexibilidade e nos mostra que existem outras saídas, além daquelas que imaginamos para nós mesmos, e agir mesmo com a emoção desconfortável nos ajuda a fazer um “teste de realidade”, será que aquela situação é um bicho de sete cabeças mesmo ou experimentar um pensamento e um comportamento diferentes te fazem atingir o objetivo?
Mudar o foco dos pensamentos também ajuda a regular a emoção para que possamos lidar com ela, pois tiramos o foco de nós mesmos. Isso pode ser feito analisando o ambiente aonde se está por exemplo.
Conte quantas pessoas estão ali, quais cores suas roupas carregam, quais cheiros estão no ar, apenas direcione a atenção para algo que esteja acontecendo no mundo externo.
Também podemos olhar para nossa linha do tempo e perceber que por mais desagradáveis que algumas emoções sejam, elas são temporárias. Não é necessário brigar com elas, pois naturalmente elas se vão após atingir seu pico.
Lembre-se da última vez que se sentiu triste, a emoção pode ter durando algumas horas ou dias, mas passou. Lembrar que tudo passa ajuda a associar que nem tudo pede uma ação, às vezes só precisamos deixar passar.