Butantan identifica molécula com potencial para combater superbactérias

2015-04-10_190211

Substância ‘doderlina’ eliminou bactérias como Escherichia coli e Pseudomonas aeruginosa, que causam infecções gastrointestinais e pulmonares

Pesquisadores do Instituto Butantan, da Secretaria de Saúde de São Paulo, identificaram uma molécula, batizada de Doderlina, que apresentou atividade antimicrobiana contra diferentes bactérias e fungos, segundo estudo publicado na revista “Research in Microbiology”.

O trabalho é objeto de pesquisa de mestrado da estudante Bruna Souza da Silva, mestranda em Biotecnologia no Laboratório de Toxinologia Aplicada do Instituto Butantan.

Segundo o Butantan, a molécula é extraída da Lactobacillus acidophilus, uma bactéria que habita a microbiota humana, o composto não é tóxico e tem potencial para se tornar um novo antibiótico no futuro e ajudar a combater infecções resistentes.

Em testes em laboratório, o novo composto desenvolvido no Butantan combateu bactérias que já foram amplamente relatadas como microrganismos multirresistentes, como a Escherichia coli e a Pseudomonas aeruginosa. A primeira está associada ao trato gastrointestinal e urinário e à meningite neonatal, e a segunda pode causar infecções pulmonares e gastrointestinais.

A Doderlina se mostrou eficaz, inclusive, contra o fungo Candida albicans, causador da candidíase e conhecido pela capacidade de provocar infecções recorrentes. A infecção por Candida é uma das mais comuns em pessoas imunossuprimidas, e algumas cepas têm apresentado resistência contra o antifúngico padrão.

A hipótese dos pesquisadores é que a molécula poderia ser utilizada tanto na indústria farmacêutica, para o desenvolvimento de medicamentos, como na indústria alimentícia, para evitar contaminação e tratar animais infectados.

“Os peptídeos antimicrobianos são compostos sintetizados por todas as formas de vida, com o objetivo de se proteger de ameaças e aumentar sua competitividade para sobreviver em um ambiente específico”, explica o pesquisador Pedro Ismael da Silva Junior.

Ameaça à saúde pública

A resistência antimicrobiana é considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma das 10 maiores ameaças à saúde pública, e tem como principal causa o uso indiscriminado de antibióticos.

Com 1,2 milhão de mortes causadas por bactérias resistentes a cada ano, e quase 5 milhões de óbitos indiretamente associados, a entidade estima que o problema pode custar U$ 100 trilhões à economia global até 2050, e destaca que é preciso ampliar o desenvolvimento de novos antibióticos o quanto antes.