Análise da eleição municipal : o que esperar do desempenho dos candidatos na campanha 2020 em Bento Gonçalves?

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Esta campanha eleitoral está diferente por causa da pandemia e suas implicações de aglomerações, por causa das novas regras de coligações e outros tantos motivoso. A Gazeta convidou para fazer uma análise deste momento especial, o advogado, economista, especialista em sociologia rural, que entre tantos títulos, foi diretor do Ipurb, e teve uma Getúlio Lucas de Abreu. A proposta deste artigo é uma análise das candidaturas à prefeito, suas histórias e possibilidade de vitória, se a eleição feitas por agente não ligado, hoje, a nehuma das chapas. Com uma visão perspicaz, Getúlio Lucas de Abreu nos brinda com seu conhecimento. Boa Leitura!

Se não estou equivocado, a sociedade brasileira registra crescente desinteresse pela atividade política. O certo é que uma sociedade que se pretenda democrática deve manter vivo o interesse pela política e o quanto possível cada cidadão buscar espaço de participação, por mais desafiante que seja manter-se neste espaço. O Brasil tem um calendário eleitoral que separa a eleição Municipal, da eleição para os outros níveis de Governo: Presidente da República e Governadores. Com a eleição para Prefeito se elegem os representantes do Legislativo, Vereadores e com a eleição para Presidente e Governadores, os representantes do Legislativo Estadual, Federal e Senado. A eleição do próximo dia 15 de novembro acontece dentro de um cenário jamais imaginado. Em tempos normais, em comunidades como Bento Gonçalves já se tornava arriscado fazer algum prognóstico com relação à possível vitória de algum candidato, imagine agora!

Coligações proporcionais proibidas
Esta eleição, em especial, não está afetada apenas pela pandemia do Coronavírus, mas também porque é a primeira eleição municipal que se processa ao abrigo de regras eleitorais presentes na Lei n° 13.877/19, que promoveu razoáveis alterações na Lei dos Partidos Políticos, na Lei Eleitoral. Não vamos aqui tratar especificamente de cada uma das alterações trazidas pela nova legislação, pois este não é o escopo deste comentário. Apenas dizer que as chamadas coligações proporcionais foram proibidas. Na prática, pela antiga legislação tínhamos as denominadas coligações do tipo majoritária (cargo de Prefeito) e coligações do tipo proporcional (cargo de Vereadores). Então, formada uma coligação do tipo majoritária (Prefeito), estava armado o guarda-chuva que abrigava candidatos a Vereador que poderiam concorrer individualmente, junto a todos os outros partidos da sua coligação, ou ainda pela composição de alianças menores dentro da coligação.

Vereador se elege apenas com seus próprios votos
A nova legislação rompeu com este digamos assim: modelo. Com o advento da Lei 13.877/19 estão permitidas coligações partidárias do tipo majoritária (Prefeito). As coligações do tipo proporcionais (Vereador) não são permitidas. Nesse passo, cada Partido deve lançar a sua própria nominata de candidatos a Vereador. Equivale dizer que o candidato a Vereador se elegerá apenas com os seus próprios votos. Não tem mais aquela de um candidato fazer elevado número de votos e eleger outro na sua carona. Aqui em Bento, conforme dados publicados aqui na Gazeta, temos as seguintes coligações:
Diogo S. Siqueira/Amarildo Lucatelli PSDB, Progressistas e Republicanos.
Alcindo Gabrielli/Evandro Speranza MDB, PL, Patriotas
Paulo Calefi/Eliana Casagrande PSD, PDT, PTB
Volnei Tesser/Cleivania Ozelame PSL e cidadania
Marcio Jair Possan/Jorge de Oliveira PT
Carlos Roberto Pozza / Wilson Estivalet PSC
Álvaro Becker/Sandro Amaral Democratas
Volmar Giordani/Maria Cristina Kruguer PRTB
Moacir Camerini/Iliene Basso PSB

Um pouco da história recente das coligações
Convém observar que desde a última eleição municipal, aprofundou-se um processo de fragmentação partidária significativamente drástico nas estruturas partidárias aqui do Município.
Aido Bertuol, por exemplo, deixou o MDB, seu berço natural e filiou-se ao PSDB. Segundo o próprio Aido que se mantinha relativamente afastado da política, seu ato foi para evitar que “os Gabardos chegassem ao poder”. Conseguiu, pois a estreia de Cesar Gabardo na disputa para Prefeito, foi desconcertante. Pasin se reelegeu com 65,62% dos votos e Cesar Gabardo ficou com 17,29%.  Mas Aido parece ter conseguido um pouco mais, ou isso já fazia parte da sua ida para o PSDB, pois nesta eleição, é do seu Partido o candidato a Prefeito. Pasin e Aido, outrora em posições opostas – bem opostas – PP e o então PMDB disputavam a hegemonia do espaço e liderança política onde não era nada fácil lidar com Paulo Mincaroni e Darcy Pozza; estão em campo, em favor de seus candidatos. Se seus candidatos vão lograr vitória, já é outro assunto, mas será um teste para medir a avaliação que a sociedade faz do desempenho de Pasin, no seu segundo mandato.
Aido candidato, seria diferente, mesmo com vice do PP. Ao que tudo indica Aido se retira, mas na condição de vencedor, ao menos até aqui. Alcindo Gabrielli, parece não ter conseguido êxito com o PDT, ou mesmo o PTB e aí está coligado com o PL, tendo como vice Speranza, que já foi candidato a Prefeito pelo PDT, alcancando minguados 4,80% dos votos, ou seja, 3.230 votos.
Do Patriotas não disponho de maiores informações com relação aos seus filiados e dirigentes.

O empenho de Alcindo Gabrielli para permanecer no cenário político é apreciável, sem esquecer que já foi vice de Darcy Pozza e Prefeito de Bento eleito em outubro de 2004 com 35.865 votos. Votação nada desprezível. Qual será o seu desempenho, é matéria a conferir. Cesar Gabardo e Mário Gabardo, ao que parece estão longe de fazer qualquer movimento em favor do candidato Gabrielli. Custo acreditar, mas me chega a informação de que Cesar teria recebido uma ‘convocação’ e aceitou assessorar a coordenação da campanha de Caleffi. Ufa! Mas é digno de registro que Gabrielli, ao que se sabe, não teve aqueles tradicionais apontamentos do Tribunal de Contas, como foi a gestão do então Prefeito Lunelli. Paulo Calefi, que não é de hoje, vinha esperneando para ser candidato a Prefeito, fazendo coligação com o PDT e PTB, ao lado do seu PSD. Se apresenta como suplente de Deputado Federal e vários títulos que tem no âmbito da sua atuação empresarial, no setor Transportes.

Apoio setorial
Nos demais setores do empresariado local, não vislumbro que Calefi tenha forte apoio. Se bem que o meio empresarial em si, não elege prefeito algum. De outra parte, também observo comportamento diferente das novas lideranças empresarias: tanto faz o Prefeito que assumir, vão trabalhar com ele. Aliás, as entidades empresarias, ao abrigo do CIC, estão cada vez mais ajustadas entre si e o fruto disso é o resultado do trabalho Bento + 20, que contém o chamando de ‘Masterplan da cidade’ e que já está sendo entregue aos candidatos.

Segmentos de votos
Paulo Calefi tem como vice Eliane Casagrande. O que poderá representar para eventual sucesso da candidatura é algo a conferir, mas as mulheres representam 52,17% do total de eleitores nesta eleição que é de 89.488. São 3.890 eleitoras a mais do que os eleitores homens. Ainda, na faixa etária desta coligação, 60 anos e mais, estão 23,31% dos eleitores, que somam 20.861, contingente nada desprezível. Resta saber como a coligação poderá tirar proveito destas duas situações, sendo certo que o seguimento de mais idade é onde poderá ocorrer maior abstenção. Volnei Tesser também tem na sua coligação a presença da mulher, na pessoa Cleivania Ozelame e vale aqui para esta coligação as mesmas observações para a coligação Calefi/Eliane, com relação ao eleitorado feminino.  Embora se possa dizer que não é tão certo que mulher vota em mulher. Neilene Lunelli que já foi candidata a Prefeito que o diga, logrou 12,29% totalizando 8.266 votos na última eleição.  Para a coligação PSL/Cidadania, importa lembrar que na faixa etária mais jovem, dos 16 até 24 anos, são 10,08% dos eleitores, totalizando 9.011 eleitores.
Considerando que neste particular esta coligação se diferencia de Calefi/Eliana, resta saber como vão lidar com este eleitorado, o qual, ao contrário do seguimento mais idoso, tende a estar mais ativo, inclusive pelo que representa hoje a questão das redes sociais, não só para a eleição!

Lembrar ainda, que Volnei Tesser é servidor público municipal, mas será que tem cacife para trazer este grupo para o seu apoio? O PT não fez coligação. Não tenho maiores informações com relação aos candidatos à majoritária. Por certo que a aposta do Partido é com relação à possiblidade de eleição de alguém da sua nominata para o legislativo. Ao contrário de Caxias do Sul onde Peppe Vargas disputa a vaga de Prefeito, aqui os nomes mais tradicionais do Partido ficaram fora da disputa principal. São outros tempos. Também não disponho de maiores informações em relação aos candidatos do PRTB do Volmar Giordani, mas por certo que também apostam na eleição de alguém da sua nominata para o Legislativo Municipal, dando assim visibilidade ao Partido.
Álvaro Becker, é um policial civil de reconhecida atuação na cidade. Delegado de forte atuação na investigação de esclarecimentos de vários casos delicados, na Comarca. Sendo um servidor público, poderia ser acolhido por este segmento, nas demais categorias, em especial professores, mas também não sei se seu cacife chega a tanto. O certo é que diante da nova realidade da legislação eleitoral, o seu partido (DEM), tinha que lançar candidatos para Prefeito, em razão de não poder coligar para as proporcionais (Vereadores). Um candidato está com a situação de “indeferido com recurso”, que é o candidato Carlos Roberto Pozza. O próprio site esclarece que esta situação caracteriza “candidato não regular e com pedido de registro julgado indeferido; no entanto, há recurso interposto contra essa decisão e aguarda julgamento por instância superior”.

Carlos Pozza processo n° 0600113-86.2020.6.21.0008. Independente de que esta candidatura venha ser deferida ou não mantemos as considerações que julgamos oportuna para este candidato. Carlos Roberto Pozza frequenta a política desde sempre. Parece querer tirar proveito do nome Pozza, mas sinceramente não sei se consegue associar para si, a força deste nome. Apresenta-se como Evangélico. As Igrejas, sabe-se, têm lá a sua importância no cenário eleitoral, contudo não vejo esta circunstância para o caso da eleição municipal, especialmente para o cargo de Prefeito.  Para o cargo de Vereador, talvez tenha alguma importância. Se Carlos Pozza tiver a sua candidatura mantida veremos como será o seu desempenho. Já o candidato Moacir Antônio Camerini, processo n° 0600114-71.2020.6.21.0008, teve deferido o pedido de tutela de urgência nestes termos: “recebo o recurso com efeito suspensivo e determino o processamento do requerimento de registro de candidatura (RRC) em epígrafe, a fim de que o processo tramite sub judice de acordo com o art. 16-A da Lei n. 9.504/97 e o art. 51 e seguintes da Resolução TSE n. 23.609/19”. Moacir Antônio Camerini tem uma trajetória política conturbada, mas se revela um perseguidor de seus objetivos.

Como o eleitor vai receber a sua candidatura para o cargo maior de administrador do Município é o que veremos, se mantida a sua candidatura, quando do julgamento do mérito do Recurso.
É um candidato que também tem na vice uma mulher, na pessoa de Ilene Basso. Assim, vale para ele as considerações em relação à presença de candidata mulher na vice na chapa de Calefi e Tesser. Ou seja, o maior contingente do eleitorado é de mulheres. O que parece diferenciar o candidato Camerini de demais é a sua ligação maior com os setores mais populares do Município. É certo que não temos um grau de pobreza como nos grandes centros, mas pobreza existe sim. Não se olvide também, que Camerini tem trânsito sim em camadas médias do eleitorado. Tudo isso será medido, se permanecer candidato.