O vazio emocional que a pandemia deixou

2015-04-10_190211

Psicóloga Viviane Tremarin Pós-graduanda em Terapia Cognitivo-Comportamental

A perspectiva de um novo ano não alegra mais. As atividades parecem exigir o dobro de concentração para serem finalizadas. É melhor assistir pela enésima vez o mesmo filme do que pensar em escolher um novo. A ida até a geladeira se transforma em um labirinto mental por esquecer o que ia fazer quando estava na metade do caminho. A vacinação não é o bastante para trazer sensação de segurança. Mas há disposição, o que exclui hipóteses de bournout e ansiedade. Há esperança, o que descarta a possibilidade de depressão. Isso pode ser “languising”.

Muitas das consequências da pandemia para a nossa saúde mental são notáveis e discutidas. A ansiedade em relação ao futuro, o medo de uma doença pouco conhecida, a depressão pela perda de pessoas queridas, o esgotamento mental de ter todo o comportamento mudado de uma hora para outra por dois anos. Já sabemos que esses sintomas tem a ver com o momento que o mundo vive. Entretanto, um novo estado emocional tem sido observado nas pessoas, decorrente do coronavírus. É o que especialistas tem chamado de “languising”. O termo em inglês é uma definição para a sensação de vazio.

Esse estado mental não se caracteriza pelo bem-estar e nem pelo mal-estar. Ele fica no meio do caminho. Mas isso não o torna neutro ou agradável. É um limbo para as emoções. O sentimento de apatia que já conhecíamos desde antes da pandemia, de forma individual e com explicações pessoais, agora se tornou coletivo e com uma causa única. Assim como os outros sintomas, esse também tem aparecido mais em mulheres, e também tem prejudicado o público jovem, que tem sentido o impacto de perder interações sociais que são importantes para o desenvolvimento nessa fase da vida.

No Brasil, o termo foi traduzido para “definhamento”, que significa perder as forças e enfraquecer. Isso tudo pode levar a desmotivação, sensação de insegurança quanto ao futuro e assim prejudicar a produtividade das pessoas. E motivação não diz respeito apenas ao ambiente de trabalho. A desmotivação também prejudica a vida pessoal, já que ela é um fator importante para a nossa alegria.

Pequenas atitudes diárias podem ajudar a contornar a apatia, entre elas tentar viver o momento presente permitindo se encantar com as sutilezas do dia a dia. Driblar a sensação de anestesia pede um esforço consciente para sair do “modo sobrevivência” em que entramos. Quando ficamos sem perspectiva de futuro, é necessário revisarmos as nossas expectativas e mudarmos alguns padrões. Essa não é uma boa época para cobrar de si mesmo(a) perfeição, por exemplo. Mas sim de ser mais compassivo(a) consigo, afinal, esses sentimentos não são nossa culpa.