Estudo quer explicar porque algumas pessoas expostas ao coronavírus não adoeceram

2015-04-10_190211

Resistência inata à covid-19 pode fornecer caminhos para pesquisa e desenvolvimento de medicamentos

Com o contato próximo e a convivência prolongada, pesquisadores querem desvendar qual mecanismo, possivelmente em genes do sistema imunológico, seria capaz de barrar o coronavírus. Abraçar, beijar na boca, fazer sexo e dormir junto, atitudes comuns entre casais têm desafiado a ciência a entender como e por que, em alguns casos, só um dos parceiros se infecta com o vírus.
É a chamada resistência inata à covid-19, que pode fornecer caminhos para pesquisa e desenvolvimento de medicamentos que impeçam o contágio. Não há estatísticas que estimem a ocorrência dos chamados casais discordantes, mas o fenômeno pode contribuir para o avanço do que já se sabe da prevenção e do tratamento à doença.
Um estudo, capitaneado pelo consórcio internacional COVID Human Genetic Effort, busca identificar quais mecanismos desencadeariam quadros graves em pessoas sem comorbidades, por exemplo. O grupo reúne cerca de cem laboratórios ao redor do mundo.
“Não temos tratamento específico para o vírus. Uma das formas de encontrá-lo é entender que mecanismos permitem que ele entre e se replique mais facilmente no organismo e em que situações o corpo impede a infecção”, descreve a imunologista e professora de Medicina Translacional do Instituto de Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe, Carolina Prando, que participa da iniciativa.
Falhas imunológicas
Em trabalhos anteriores, o consórcio de pesquisadores já descobriu falhas no sistema imunológico que ajudavam a explicar casos graves em pessoas sem comorbidades. Entre elas, alterações em genes que coordenam a produção dos interferons tipo 1, proteína fabricada por leucócitos e fibroblastos para atrapalhar a reprodução de microrganismos e células tumorais e favorecer a defesa em outras células.
Outra falha são os autoanticorpos, isto é, um anticorpo que neutraliza o interferon tipo 1. A médica compara a situação a uma espécie de “doença autoimune” subjacente, que não seria descoberta sem a pandemia, e explica que esse interferon é uma “via essencial” no combate à covid-19. “Cerca de 10% de pessoas com covid grave podem ter esses autoanticorpos e esse percentual aumenta conforme a idade. A presença deles é responsável por cerca de 20% dos casos de pneumonia de covid-19 letal acima dos 70 anos.”