Infantilizar os idosos é prejudicial e favorece o declínio cognitivo

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Tratar o idoso como criança não deixa de ser uma forma de violência. Afinal de contas, ele já passou pela infância, adolescência, juventude e agora está na maturidade. A fase da vida é diferente, por isso, a abordagem precisa ser adequada. Imagine-se em um encontro com o maestro João Carlos Martins e perguntando se ele vai tocar seu “pianinho” esta noite. Faz sentido? Que tal sugerir ao ex-atleta Edson Arantes do Nascimento, sim, ele mesmo, o Pelé, a brincar de “bolinha” com ele. Parece normal? Falaria para a cantora Elza Soares que é hora dela ir para a “caminha”? E assim é a situação de qualquer pessoa que já contribuiu na vida. O tratamento infantilizado é falta de respeito, e não quer dizer que a pessoa idosa não mereça um pouco mais de paciência, já que suas funções cognitivas e motoras já não respondam com a mesma celeridade da juventude. Tratamento adequado é respeito e paciência.

Exemplos de infantilização do idoso
Expressões no diminutivo (comidinha, roupinha, caminha); Falar apenas com o acompanhante ou como se o idoso não estivesse presente; Não inserir os idosos em programas como shows, teatros, festas e viagens em família; Não comentar e conversar sobre temas da atualidade; Desconsiderar a opinião da pessoa e o histórico dela em decisões como fazer festa de aniversário, usar determinados tipos de roupa e fazer atividades como uma dança, por exemplo.

Contribui para o declínio cognitivo
Com o avanço da idade, as dificuldades são evidentes e fugir delas não é uma opção. O raciocínio fica mais lento, a memória não é mais a mesma e as habilidades de realizar alguns movimentos podem ficar comprometidas. Porém, a perda das capacidades não anula todo o histórico de vida dos idosos. Muitos deles ainda têm pleno controle das funções e ficam irritados quando ouvem palavras no diminutivo ou alteração de voz, como é feito com os bebês. Ao lidar com uma criança, os pais precisam dar bronca, impor limites, dizer não e ensinar tudo sobre a vida. O idoso já tem suas próprias experiências e histórias, por isso, não precisa desse retrocesso. Se você trata seu pai dessa forma, ele se sentirá incapaz e pode perder a habilidade de raciocínio e comprometer as funções cognitivas.

Prejudica o desenvolvimento do idoso
A infantilização do idoso é uma forma de promover a dependência. Porém, a autonomia é essencial para que ele mantenha as capacidades físicas e mentais. Essa liberdade impede que seu pai se sinta inútil ou entediado. Se os cuidados com idosos forem iguais aos das crianças, eles podem se sentir desestimulados e não praticar as atividades básicas do dia a dia — o que pode prejudicar muito o seu desenvolvimento.

Afeta a autoestima e a autoconfiança
Ao impedir o idoso de fazer as tarefas que ainda consegue, a confiança dele pode ficar abalada. Não há necessidade de dar comida na boca, se ele é capaz de fazer a atividade sozinho, por exemplo.
O excesso de cuidado e carinho pode ser mal interpretado pela pessoa na terceira idade. Mesmo quando o idoso perde parte das suas capacidades cognitivas, é importante tratá-lo como o adulto que é.

Atrapalha a socialização
O idoso pode ficar constrangido com a forma de tratamento e, em razão disso, evitar o relacionamento com as pessoas. Além de ser consequência da infantilização, o isolamento social também pode ser sinal de uma perda auditiva. A perda auditiva dificulta a comunicação e gera frustração ao idoso. A disfunção, aliada ao tratamento similar ao dado às crianças, pode favorecer o aparecimento de doenças mentais, como a depressão e até a demência. O ideal é ficar atento a qualquer alteração de comportamento e procurar um médico especialista. Muitas vezes, o uso do aparelho auditivo pode fazer o idoso voltar a interagir com a família. Os cuidados com idosos precisam ser adequados à faixa etária deles. O tratamento infantilizado pode afetar as capacidades cognitivas e comprometer a qualidade de vida do cidadão na terceira idade. Ele precisa de carinho sim, mas sem desrespeitar a individualidade nem ignorar sua trajetória de vida. Acredite: os idosos têm ótimas histórias para contar, dê ouvidos a eles.