Comportamento eleitoral: como os eleitores decidem seu voto?

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Você já tentou compreender a razão para alguém votar em determinado candidato? Já ficou indignado ou sem entender por que um amigo ou familiar apoia um político? Aposto que sim! Com a polarização política nesse período anterior ao segundo turno, vemos muitas discussões, pessoalmente ou em redes sociais, sobre o comportamento eleitoral das pessoas ao nosso redor – questionando-o ou tentando entender suas origens.
Nesta análise iremos pontuar sobre como os eleitores se comportam nas eleições e o que interfere nesse comportamento. Esse assunto é muito importante para entendermos melhor como as estratégias de campanhas são construídas, as quais buscam causar efeitos específicos no público, que podem se refletir nas urnas. Além de nos ajudar a entender as escolhas das pessoas ao nosso redor, esse conceito nos permite refletir sobre a nossa própria escolha.
Para isso, devemos interpretar o que o dicionário diz sobre o que é comportamento. Existem duas definições importantes, a primeira é a de que é um conjunto de atitudes específicas de alguém diante de uma situação, tendo em conta seu ambiente, sociedade, sentimentos, etc.; a segunda é o estudo sistemático das reações individuais aos estímulos. Mas e comportamento eleitoral, o que é?

Quais modelos já existem para estudar o comportamento eleitoral?
Para entendermos o que é o comportamento eleitoral, primeiramente precisamos compreender alguns modelos. Os modelos são como lentes, que permitem que a gente possa enxergar o comportamentodo eleitor a partir de visões diferenciadas. Alguns elementos têm sido estudados ao longo do tempo:

Modelo sociológico
O primeiro par de lentes é o modelo sociológico (modelo da Columbia), o qual defende que o contexto social e político acaba por influenciar as decisões eleitorais, ou seja, características que se relacionam com a cultura, religião, economia, etnia ou razões ideológicas que diferenciam grupos sociais. A conjuntura política de um país, por exemplo, pode influenciar diretamente o não voto, isto é, o nível de votos nulos, brancos e abstenções em uma eleição. Dessa forma, como o contexto ao longo dos anos poderia influenciar as escolhas nas eleições?
Durante o ano de 2013, por exemplo, aconteceram vários protestos ao redor do Brasil, cuja pauta era a melhoria de serviços públicos básicos como transporte, saúde, segurança e educação. Nas eleições presidenciais de 2014, os candidatos não só se basearam nesses acontecimentos para construir suas propagandas eleitorais, mas isso também foi um fator que influenciou o eleitorado.

Modelo psico-social
O modelo psico-social (sociopsicológico, ou de Michigan), por sua vez, elenca um conjunto de fatores que vão interagir simultaneamente dentro da cabeça do eleitor, ou seja, o foco está mais no comportamento individual do que no pertencimento a um grupo. Apesar deste modelo concordar que experiências históricas e sociais são importantes para que o(a) eleitor(a) cristalize uma ligação partidária, uma série de outras coisas estarão exercendo maior influência, como por exemplo a opinião de amigos e familiares, a imagem construída pelo(a) candidato(a), a mídia e as ações do governo.

Modelo da escolha racional
Já o modelo da escolha racional (de Rochester ou econômico) apresenta o(a) eleitor como alguém que não está ligado à crenças ou outros fatores sociais. Na verdade, o cidadão faz um cálculo de custo-benefício de qual candidato será melhor, tendo em vista as propostas apresentadas e quais benefícios por parte deste(a) candidato(a) ele pode adquirir. Desta forma, podemos entender também que o(a) eleitor(a) pode votar prospectivamente, ou seja, quem vota cria expectativas futuras sobre o mandato do(a) candidato(a) baseado em suas propostas. Por exemplo, quando lemos os planos de governo dos candidatos podemos criar expectativas sobre o que o(a) candidato(a) vai fazer e, a partir disso, tomar a nossa decisão.
Agora que já foi definodo como pensar em comportamento eleitoral, vamos compreender, de forma mais concreta, o processo de tomada de decisões nas eleições. Para isso, vamos discutir os atalhos cognitivos.

O que são atalhos cognitivos e como eles afetam as decisões?
Com as eleições se aproximando, o voto tem sido o alvo de muitos estudos. Por mais difícil que seja entender o que leva alguém a votar em outra pessoa, já que é uma decisão complexa e pessoal, os atalhos cognitivos (ou Heurísticas Políticas) usados pelos eleitores são processos mentais, em que se ignora parte da informação que recebe, de forma automática e quase inconsciente, com o objetivo de tornar a escolha do candidato mais fácil e rápida. Mas como esses atalhos mentais se relacionam com o comportamento eleitoral? Quais são os principais tipos de atalhos?

Como o eleitor toma uma decisão “informada” mesmo quando é desinformado?
Antes de entender os tipos de atalhos, deve-se notar que as pessoas estão mais preocupadas com coisas que as influenciam diretamente, do que com conseguir informações sobre algum político. Além disso, pode haver algum custo de tempo ou financeiro em conseguir essas informações – que muitos não estão dispostos a se submeter.
O grande número de dados recebidos diariamente sobre quem vai se candidatar para as eleições – tanto na internet, quanto em jornais, na televisão e no rádio, é difícil de ser compreendido ao mesmo tempo, tendo em vista a dinâmica das redes sociais. São muitas informações, o que torna a assimilação de todas elas muito complicada cognitivamente.
Por isso, os atalhos nos fazem chegar à conclusões políticas que consideramos confiáveis e fazem sentido para nós (individualmente), mesmo com todas as dificuldades em nos manter informados. As heurísticas políticas carregam informações básicas que por si só já são suficientes, por isso elas ajudam o eleitor a decidir, mesmo quando ele está desinformado.
Os atalhos cognitivos que carregam informações básicas, percebidas de maneira quase inconsciente, que afetam nosso comportamento eleitoral, ajudando a escolher um(a) candidato(a) de maneira mais “fácil e rápida”. São elas:

Apoio de grupos
Aqui a atenção está na credibilidade que o grupo ou pessoa passa para o eleitor. No lugar de considerar com cuidado a posição de cada candidato em relação à políticas específicas em uma eleição, ele(a) pode simplesmente checar se o candidato tem o apoio ou não de um grupo específico que tem relação com o assunto em questão e que tenha interesse nas políticas que o eleitor valoriza. Nesse caso, o esforço em analisar o candidato é confiado ao grupo. Tudo que é necessário é saber se o candidato é apoiado por determinado grupo, e sua atitude em relação a ele. Uma vez que o eleitor descobre se há apoio ou não do grupo, ele consegue presumir a posição do candidato em relação a diversos aspectos, e provavelmente decidirá votar conforme o que o grupo pensa e diz.
O apoio de uma organização ou partido à candidatos num segundo turno, de movimentos sociais, apoio de celebridades, apoio internacional, de associações religiosas, sindicatos, etc. pode ajudar bastante. O eleitor pode não conhecer o tal candidato, mas se ele receber apoio de uma organização que você acompanha e respeita muito, você pode passar a considerar conhecê-lo melhor e até mudar o seu voto.

Um exemplo fictício para entender melhor: se o candidato Paulo é apoiado pelo movimento feminista, o eleitor pode assumir, que ele é um candidato progressista, que vota à favor das diversas causas sociais (que não apenas a de gênero). Sendo assim, se o eleitor é apoiador desse movimento, irá considerar votar em Paulo.
Estereótipos
partidários/
ideológicos
O eleitor irá atribuir um rótulo ao candidato de acordo com estereótipos ligados ao partido dele ou à sua ideologia. Outro exemplo: se o candidato Alexandre é do Partido Republicano (dos Estados Unidos), o eleitor pode presumir que ele vai defender fortemente impostos mais baixos, vai ser contra a intervenção do governo na economia, contra o aborto, dentre outras posições que estejam de acordo com os estereótipos ligados a um partido de direita e conservador.

Estereótipos pessoais/sociais
De acordo com os Cientistas Políticos David P. Redlawsk e Richard L. Lau, no capítulo “Political Heuristics” do livro “How Voters Decide?”, este é o atalho mais utilizado, pois é o mais fácil de entender, já que tem relação com características físicas. Basta olharmos para a pessoa (neste caso, o(a) candidato), para presumirmos uma série de coisas a seu respeito. Somente com a imagem do candidato, recebemos muitas informações sobre ele, como gênero, raça, idade, e também o “nível de simpatia” (se estiver sorrindo ou não, por exemplo), o que trás imediatamente muitas conclusões e interpretações relacionadas à essas características para o(a) eleitor(a).
A imagem de quem se candidata também podem desencadear emoções, que podem ter grande impacto em sua avaliação. As pessoas que não entendem absolutamente nada sobre política (e as que entendem também), sabem bastante sobre pessoas e fazem julgamentos de todos os tipos com grande eficiência cognitiva com esses estereótipos sociais.
Por exemplo, tente identificar o que você sente, ou o que você acha que este político representa, quando olha a primeira imagem abaixo, e depois quando observa a segunda imagem:

Viabilidade do candidato
Por último, a viabilidade do candidato, ou seja, as chances reais dele de ganhar as eleições, servem como atalho, sendo uma forma importante do eleitor reduzir seu peso na tomada de decisão. Geralmente, esse eleitor irá se basear nos resultados das pesquisas, que informar quais candidatos estão a frente nas campanhas e quais estão muito atrás nas intenções de voto.
Além disso, ver um candidato liderando nas pesquisas fornece um tipo de “consenso” (consensus information) que pode motivar o eleitor que já tinha rejeitado previamente ou ignorado um candidato, a olhar com mais cuidado pra ele – “afinal, se várias pessoas o consideram bom, não deve ser à toa” é o que ele pode pensar.

Afinal, como esse conhecimento pode ser útil para mim?
Agora que se sabe de que forma os eleitores decidem seu voto e o que afeta o comportamento eleitoral, é mais fácil entender as motivações pelas quais aqueles seus amigos e parentes votaram em alguém que você discorda, por exemplo. Mas, mais importante do que isso, é, através dos conceitos aprendidos, refletir quais atalhos cognitivos você leva em consideração na hora de decidir seu voto, e pensar como você pode melhorar as suas decisões, se baseando em critérios concretos. Afinal, apesar dos atalhos serem usados de maneira automática e quase inconsciente por todos nós, é importante não esquecer de como fazer um voto consciente.

Na primeira imagem, podemos ver Emmanuel Macron, atual presidente da França, com um semblante descontraído, enquanto as pessoas que estão atrás na foto sorriem. Na segunda imagem, o presidente se mantém com uma aparência séria e concentrada, sem a presença de outras pessoas. Um(a) eleitor(a), então, pode simpatizar com o político por conta da primeira foto, considerando-o descontraído. Já um outro(a) eleitor, mais conservador e com ideais opostos ao anterior, pode considerar, pela primeira foto, que o presidente francês é incompetente por aparecer publicamente dessa forma, mas ao olhar para a segundo foto, tenderá a considerá-lo responsável.