“A imprensa é podre”

A música Geni e o Zepelim, de Chico Buarque de Holanda, narra a história da prostituta desprezada que salvou a cidade depois de aceitar o pedido das “forças vivas” que, em romaria, choramingavam por misericórdia. A letra da música narra que, depois de se entregar ao algoz, a prostituta (Geni) foi apedrejada pelos mesmos que clamaram por ajuda.
A imprensa no Brasil diariamente é comparada à Geni. É a primeira a ser apedrejada em qualquer situação, seja relatando o ocorrido, seja para desviar o foco de um dedo culposo apontado ao nariz.
No episódio da “coordenadora de gabinete”, que apareceu nua nas redes sociais do vereador, a Gazeta declinou de relatar inicialmente o deslize por saber que nenhuma punição iria acontecer, que a moçoila (linda) não perderia o cargo, nem o apartamento luxuoso aos pés da Câmara de Vereadores.
O vereador manchado em sua honra, falou grosso na tribuna na sessão desta segunda-feira. Chamou a imprensa de podre, colocou – inacreditavelmente – no mesmo balaio de gato a assessora parlamentar e a sua esposa. Estufou o peito, cheio de orgulho, e bradou da tribuna:”este é um problema meu, da minha coordenadora de gabinete e da minha esposa”. Nem o grupo de comédia Porta dos Fundos faria uma atuação tão caricata deste momento.
Apelou para a vitimização para não perder o eleitorado, lembrando da infância pobre e honesta (??!! e daí?). Para encerrar o constrangedor pronunciamento, não tendo mais onde se agarrar, partiu para o clássico ataque aos políticos (.. opps) corruptos deste Brasil que o “judiciário teima em livrar da cadeia”.
Tempo e dinheiro dos contribuintes jogados no lixo. A imprensa mais uma vez é culpada, desta vez, pelo vereador ter “deixado escapar” a foto da moça bonita nua em sua rede social.
Mas, convicto que sua peraltice não levaria a nada – como a Gazeta previu – o vereador concluiu o tempo de tribuna com uma bravata inócua: “ longa vida aos meus inimigos, pois verão de perto a minha vitória”.
Não há argumento fantasioso que vá fazer algum ser humano, nem com a mesma capacidade intelectual do vereador, acreditar que seu celular foi hackeado.
Por fim vereador, podre é sua atitude de não renunciar ao cargo.