VANESSA DAL PONTE
*Advogada mediadora, pesquisadora e esoecialista em representação dos direitos das mulheres
Chegamos em setembro mês que carrega a mensagem de visibilidade a prevenção do suicídio – setembro amarelo.
Justamente embalada nesse sentimento de conscientização, recebi ontem a notícia da morte de uma colega que, segundo uma amiga querida “morreu porque amava demais”.
Junto com a notícia recebi um último desabafo escrito por ela.
Naquelas sofridas linhas ela contava o quanto sofria com as infidelidades do marido e como se sentia impotente, dizendo que se fosse se defender “com aquilo que aprendeu” passaria por louca.
Afinal, ele era o menino de ouro, simpático e carismático, só que em casa esbravejava, quebrava objetos e lhe agredia. Para a amante ela dá um conselho: tenha sempre gelo e maquiagem, não questione nem o desagrade.
Ele não iria mudar, ia ficar mais violento e, afinal o problema era ela.
Já em tom de despedida, ela manda um recado a todas as mulheres – Lembrem-se meninas! Sejam fortes e não fracas como eu.
Não se intimidem.
Na foto que mandaram dela junto com o relato ela aparecia rindo, mas aqueles olhos tristes eu conhecia, não dela, porque não a conheci pessoalmente.
Mas já vi esses olhos tantas outras vezes, escondidos por um sorriso falso.
Lamentei profundamente por não tê-la conhecido. Não só por não ter podido ter lhe dizer que meu sonho era ter um currículo impecável e bordado de láureas acadêmicas como o dela e que já havia ouvido falar tão bem de suas aulas.
Mas por não poder ter lhe dito que ia ficar tudo bem. Que eu já estive na parte baixa dessa montanha russa da vida e sim ia ficar tudo bem!
Nas frases delas, tantas Anas, Marias e Joanas. E aí me dei por conta do que minha amiga disse: “ela morreu porque amava demais”.
Será que ela morreu por ama-lo demais ou por se amar de menos?
Quantas outras mulheres amam demais para reagir?
Pesquisando o tema descobri que existe um grupo MADA (Mulheres que Amam Demais Anônimas), cujo único requisito para ser membro é desejo de evitar relacionamentos destrutivos – https://www.youtube.com/c/GrupoMada.
Realmente, aprender a se relacionar consigo mesma e com os outros de forma saudável e construtiva não é tão fácil como uma receita de bolo e amor próprio não vende em farmácia.
Bem, se você leu até aqui respire fundo, eu também estou aprendendo com tudo isso.
Mas acho que dava para começar buscando conversar com a menina que você era com 10 anos.
O que ela lhe diria hoje?
O que você diria a ela hoje?
Acho que ainda dá tempo. Contem comigo