Nas últimas duas décadas, foram mais de 8 mil casos registrados junto à Vigilância Epidemiológica , configurando um dos principais tipo de ocorrência tóxica de Bento
De acordo com os dados fornecidos pela Secretaria da Saúde, através da Vigilância Epidemiológica de Bento, foram registrados 8.154 casos de acidentes causados por animais peçonhentos, numa média de 510 casos por ano – entre 1998 e 2016. A maioria das ocorrências atingem os homens (aproximadamente 53% dos casos). Esses dados caracterizam esse como o principal evento tóxico do município.
Segundo o enfermeiro sanitarista José da Rosa, que coordena a Vigilância Epidemiológica do município, a aproximação dos meses frios – que em geral, reduzem os casos – não deve ser motivo para descuidos. “É necessário manter os cuidados de prevenção para evitar acidentes com aranhas, que ocorrem ao longo de todo o ano, e com as taturanas, que apresentam maior atividade durante o início do outono – entre março e abril – diferentemente do que se observa com os outros animais”, explica.
Ele ressalta que existem várias espécies de taturana em nossa região, que podem ser encontradas em árvores e folhagens. “A maioria, entretanto, causa apenas sintomas locais, como sensação de queimação, ardência e dor. Todavia, deve-se chamar a atenção para a taturana do gênero Lonomia – animal encontrado principalmente em plátanos, mas, também, pode ser observado em outros tipos de árvores frutíferas”, alerta.
O enfermeiro sanitarista frisa que acidentes com este tipo de taturana devem ser considerados graves. “Ela possui espinhos que perfuram a pele e injetam o veneno na corrente sanguínea da pessoa, capaz de provocar sangramentos algumas horas após o acidente”, esclarece. Por essa razão, o coordenador recomenda que a pessoa acidentada procure rapidamente atendimento num serviço de saúde.
Cuidados devem se estender o ano todo
José da Rosa chama a atenção para o fato de que as aranhas são os animais que mais causam acidentes – aproximadamente 39% do total de casos (cerca de 212 ao ano). “Abelhas são responsáveis por 24% das ocorrências e as lagartas urticantes, 10%”, pontua. Em uma menor proporção, segundo ele, estão os acidentes envolvendo serpentes e escorpiões.
Em relação às aranhas, o enfermeiro sanitarista explica que por serem cosmopolitas, são facilmente encontradas na maioria das residências humanas, o que aumenta a sua proximidade com as pessoas e as chances de ocorrerem acidentes. “Entre elas, destacam-se a aranha marrom (Loxosceles) que pode ser encontrada dentro de armários, roupas, sapatos, atrás de quadros e de móveis e a aranha armadeira (Phoneutria) – ambas com potencial de causar quadros clínicos graves nas pessoas”, alerta.
Já os acidentes causados por abelhas costumam ser de baixa gravidade, de acordo com o coordenador, provocando, quase sempre, dor no local da picada. “Entretanto, pessoas alérgicas ao veneno deste inseto podem desenvolver sintomas bem mais graves, necessitando de internação hospitalar”, ressalta.
Os dados da Vigilância Epidemiológica apontam uma média de 130 acidentes por ano em Bento, causados por abelha. E em relação aos acidentes com escorpiões e serpentes, a frequência é menor, conforme as informações da Secretaria de Saúde. Mas José da Rosa alerta.
“No caso de jararacas – comumente encontradas em nosso município – o veneno causa complicações generalizadas que exigem o uso de soroterapia”.
*As fontes dos dados citados são o Sistema Nacional de Agravos de Notificação (SINAN) e o Sistema de Informações sobre Intoxicações (SININTOX), cujo gerencimento está sob a responsabilidade da equipe do Serviço de Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal da Saúde de Bento Gonçalves.
O que fazer em caso de acidentes com esses animais:
A recomendação da Vigilância Epidemiológica para o caso de pessoas expostas a animais peçonhentos é tentar capturar o animal que causou o acidente e levá-lo junto até o serviço de saúde. Isso permite a identificação do animal e ajuda a equipe de saúde a decidir as medidas terapêuticas que serão necessárias. Em Bento Gonçalves, as equipes de Vigilância Epidemiológica e Ambiental é que fazem a identificação dos animais peçonhentos.
Medidas de prevenção:
– Use botas de cano alto ou perneira de couro. Esses calçados podem evitar cerca de 80% dos acidentes com serpentes.
– Use luvas de couro para manipular folhas secas, montes de lixo, lenha, palhas, etc. e para podar árvores ou colher frutas.
– Não coloque a mão em buracos, sob pedras e troncos podres.
– Verifique sinais de presença de animais peçonhentos antes de subir em árvores para colher ou podar.
– Limpe paióis e terreiros, não deixe acumular lixo. Feche buracos de muros e frestas de portas.
– Evite o acúmulo de lixo ou entulho, de pedras, tijolos, telhas, madeiras, bem como, mato alto ao redor das casas que atraem e abrigam pequenos animais que servem de alimentos às serpentes e escorpiões.
– Acondicione o lixo em recipientes e sacos fechados.
– Elimine insetos e ratos que servem de alimentos para os animais peçonhentos.
– Mantenha jardins e quintais limpos. Limpe periodicamente os terrenos baldios vizinhos, pelo menos numa faixa de dois metros junto das casas.
– Sacuda roupas e sapatos antes de usá-los, pois aranhas e escorpiões podem se esconder neles.
– Use telas contra insetos em ralos do chão e de pias.
– Respeite a natureza.