Um cigarro é suficiente para bloquear produção de estrogênio no cérebro de mulheres

2015-04-10_190211
A portrait of a young female smoking in the street

Isso pode explicar várias diferenças comportamentais em fumantes do sexo feminino, incluindo por que elas são mais resistentes do que os homens a deixar o tabagismo

A dose de nicotina equivalente à encontrada em um único cigarro é suficiente para bloquear a produção do hormônio estrogênio no cérebro das mulheres. Isso pode explicar várias diferenças comportamentais em fumantes do sexo feminino, incluindo por que elas são mais resistentes do que os homens a deixar o tabagismo, segundo um estudo apresentado pela Universidde de Uppsala, na Suécia, no Congresso do Colégio Europeu de Neuropsicofarmacologia (ENCP), realizado na Áustria. O efeito foi demonstrado no tálamo, que faz parte do sistema límbico. Esse circuito está envolvido em respostas emocionais e de comportamento.
“Pela primeira vez, conseguimos ver que a nicotina desliga o mecanismo de produção de estrogênio no cérebro das mulheres. Ficamos surpresos ao observar esse efeito mesmo com uma única dose da substância, mostrando o quão poderosos são os efeitos do tabagismo no cérebro de uma mulher”, disse a principal pesquisadora, Erika Comasco. “Trata-se de um efeito recém-descoberto e ainda é um trabalho preliminar. Ainda não temos certeza de quais são os resultados comportamentais ou cognitivos; só que a nicotina atua nessa área cerebral.”
Os pesquisadores trabalharam com um grupo de 10 voluntárias saudáveis. As mulheres receberam uma dose de nicotina comercialmente disponível por via intranasal, ao mesmo tempo em que foi injetada, como marcador radioativo, uma molécula que se liga à enzima aromatase. Também conhecida como estrogênio sintase, trata-se a enzima responsável pela produção de estrogênio.
Inibição
 
Os escaneamentos cerebrais de ressonância magnética e PET scan permitiram que os cientistas visualizassem a quantidade de aromatase e onde ela estava localizada no cérebro. Eles descobriram que uma única dose de nicotina reduz moderadamente a produção da molécula.
Sabe-se há algum tempo que mulheres e homens respondem de forma diferente à nicotina, sendo elas mais resistentes à terapia de reposição de nicotina, apresentando maior tendência a recaídas ao tentar parar de fumar. No entanto, a base biológica para essas diferenças não é compreendida. É a primeira vez que o efeito inibitório na produção de aromatase foi demonstrado em humanos.
“A descoberta nos leva a acreditar que o efeito da nicotina na produção de estrogênio tem um impacto significativo no cérebro, mas talvez também em outras funções, como o sistema reprodutivo — ainda não sabemos”, afirmou Comasco. “Precisamos, agora, entender se essa ação da nicotina no sistema hormonal está envolvida em alguma das diferenças de comportamento das mulheres em relação ao tabagismo. Claro que este é um grupo comparativamente pequeno. Apesar disso, a mensagem é que a nicotina tem vários efeitos no cérebro, inclusive na produção de hormônios sexuais como o estrogênio.”
Para Wim van den Brink, professor emérito de psiquiatria e dependência do Centro Médico Acadêmico da Universidade de Amsterdã, a descoberta é muito importante, mas ele destaca que mais estudos devem aprofundar o conhecimento sobre as diferenças na ação da nicotina nos cérebros de homens e mulheres. “Deve-se notar que a dependência do tabaco é um distúrbio complexo, com muitos fatores contribuintes. É improvável que o efeito específico da nicotina no tálamo (e na produção de estrogênio) explique todas as diferenças observadas no desenvolvimento, tratamento e resultados”, afirmou van den Brink, que não participou do estudo.

*(função do o estrogênio exerce ações neuroprotetora, neurotrófica, de proteção contra o estresse oxidativo, contra a hipoglicemia e contra o dano causado pela proteína amilóide; também estimula a produção de fatores de crescimento neural, aumenta a concentração e número de receptores dos neurotransmissores (serotonina, dopamina e norepinefrina), além de melhorar a perfusão cerebral (efeito vasodilatador similar ao que ocorre nas artérias coronárias) e de exercer importante ação antiinflamatória)