UFRGS realiza mapeamento de movimentação de massa decorrentes das chuvas recentes

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A área total do mapeamento, chamada de Região Hidrográfica do Guaíba, possui, aproximadamente, 12 mil km2, e compreende as bacias hidrográficas do Taquari-Antas, Caí, Sinos, Pardo, Alto Jacuí e Vacacaí-Mirim. Até agora o grupo analisou 40% da área total atingida e identificou 5.000 cicatrizes

Desde o dia 6 de maio uma equipe da UFRGS vem realizando o mapeamento de cicatrizes de movimentos de massa decorrentes do acúmulo de chuvas entre 27 de abril e 13 de maio no Rio Grande do Sul. A partir desse estudo coordenado pelo Laboratório Latitude, vinculado ao Instituto de Geociências (IGEO) da UFRGS, em parceria com o Centro Estadual de Pesquisas em Sensoriamento Remoto e Meteorologia (CEPSRM), foi divulgada uma Nota Técnica que aponta esse extremo meteorológico de 2024 como sendo o maior evento de movimentos de solo e rocha nas encostas já ocorrido no Brasil.

A área total do mapeamento, chamada de Região Hidrográfica do Guaíba, possui, aproximadamente, 12 mil km2, e compreende as bacias hidrográficas do Taquari-Antas, Caí, Sinos, Pardo, Alto Jacuí e Vacacaí-Mirim. Até agora o grupo analisou 40% da área total atingida e identificou 5.000 cicatrizes. Segundo Clódis de Oliveira de Andrades-Filho, professor do Departamento de Geodésia da UFRGS e coordenador do mapeamento, o último evento de grande magnitude de movimentos de massa no RS ocorreu em 2017, na região de Rolante, e gerou 335 cicatrizes de movimentos de massa. “O trabalho segue em andamento e a estimativa é que o número total possa superar 12 mil cicatrizes ao final da força-tarefa de mapeamento. Esses números impressionantes revelam o desafio da reconstrução nessas regiões e da necessidade de convívio com o risco, que perdurará”, revela ele.

Imagem: Antes (esquerda) e depois (direita) das encostas no Vale do Taquari no Rio Grande do Sul a partir de imagens de satélite de Maio de 2024.

A análise está sendo realizada com imagens de altíssima resolução espacial, cedidas para uso emergencial pela National Geospatial-Intelligence Agency-NGA / Diretoria de Serviço Geográfico-DSG, Exército Brasileiro, com o apoio de verificação em visitas in loco das cicatrizes de movimentos de massa mapeadas. Nos dias 30 e 31 de maio a equipe esteve na cidade de Santa Tereza e no dia 21 de junho está prevista a ida para Nova Petrópolis, sendo que os membros da equipe já estiveram em Putinga, Ilópolis, Arvorezinha e Catiporã. “Os municípios dos Vales do Taquari-Antas são os mais afetados, e foi a região onde o acumulado de chuvas foi maior. Nessa região, está, por exemplo, o município de Santa Tereza, que embora possua uma pequena área (73 Km2), possui 170 movimentos de massa mapeados”, ilustra Clódis.

Toda essa movimentação de terra, envolvendo deslizamentos e fluxos de detritos e lama, ocorreu numa região de relevo bastante acidentado, com encostas expressivamente íngremes. São em sua grande maioria áreas rurais, de mais difícil ocupação, porém, bastante propícias para o cultivo de alguns tipos de lavouras, especialmente para fruticultura. Segundo o professor, as características da geologia, os tipos e as espessuras do solo e as formas de relevo, diante do expressivo acumulado de chuvas, podem explicar grande parte da desestabilização do terreno nessas áreas. “Ao ficar saturado de água, o solo ficou instável provocando as movimentações de massa”.

 

WebMapa registra o movimento de massa

Os dados gerados pelo estudo estão sendo registrados no mapa online “WebMapa de Movimentos de Massa para equipes de apoio na situação de calamidade-RS – Maio de 2024”, que conta com uma equipe composta por 40 membros entre professores, estudantes e técnicos e coordenação do professor Clódis e do pós-graduando Lorenzo Fossa Sampaio Mexias. A visualização em imagens permite o planejamento do trabalho de campo e aperfeiçoa a análise de risco geológico. “Muitas vezes, em campo, se observa poucos metros de uma cicatriz de movimento de massa, mas em alguns casos pode ter até 2 km de comprimento, localizadas em encostas íngremes, de difícil acesso. O mapeamento poderá auxiliar as equipes de apoio geotécnico da Defesa Civil, Bombeiros e Prefeituras em situação de calamidade pública nos mais de 100 municípios atingidos”, explica o Clódis.

No WebMapa é possível visualizar, medir e obter coordenadas geográficas das cicatrizes dos movimentos de massa mapeados pela equipe, assim como visualizar imagens, hidrografia, geologia, manchas de inundação, curvas de nível e pontos de movimentos de massa mapeados pela National Aeronautics and Space Administration (NASA). O Webmapa faz parte do Repositório de informações geográficas para suporte à decisão – Rio Grande do Sul 2024 da UFRGS.

Pode-se observar nas imagens a predominância nas encostas de dois tipos de movimentos: deslizamentos e fluxos de detritos e lama. Os resultados desse fenômeno são marcas no terreno, ou seja, cicatrizes que são visíveis por imagens de satélite. Além disso, ocorreram na região dos Vales as quedas de bloco e rastejamentos do solo, este último, visível nos locais pelas comunidades de moradores, sobretudo das áreas rurais, a partir de fissuras, “degraus” e rachaduras no solo. A Nota Técnica pontua que “tais ocorrências, além de destruírem estruturas e residências urbanas e propriedades rurais, causaram dezenas de mortes e ocorrências de desaparecidos. Muitas áreas seguem com potencial risco e carecem de avaliação de condições de uso, habitação e trânsito”.

Assim, muitas áreas precisam ser avaliadas, diagnosticadas, para determinação de recomendações e definições importantes sobre a viabilidade ou não de permanência dos habitantes e trabalhadores urbanos e rurais. Para essas comunidades a água baixou, mas a insegurança e incertezas com relação ao risco permanecem.

 

Imagem de fluxos de detritos e lamaum tipo de movimento de massa que aproveita uma área do relevo já predisposta a escoamentos de água, em casos de chuva extrema, formando um veloz “rio” de fragmentos de rocha, lama, troncos de árvores, e o que mais tiver no caminho. Crédito: Laboratório Latitude/UFRGS.

Neste sentido, a princípio o mapeamento feito pela UFRGS auxiliou em resgates e também em buscas de desaparecidos (ainda em andamento). Na sequência, tem sido usado para o planejamento e a análise de avaliação de risco geológico nas áreas afetadas, visto que o risco permanece e permanecerá por tempo ainda indeterminado em muitas áreas. “A UFRGS está gerando um levantamento que permite o uso emergencial e em curto prazo como medida de segurança à vida das pessoas e aos seus bens materiais, bem como as condições de tráfego e acesso nas estradas. Em médio e longo prazo, o levantamento está auxiliando para o melhor planejamento da ocupação e uso nas áreas urbanas e rurais, pois em parte expressiva desses municípios está sendo necessário o reposicionamento de moradias e lavouras, além do planejamento de áreas onde será priorizada a recuperação e estabelecimento de áreas verdes”, pondera Clódis.

Além disso, esse mapeamento envolve a tríade da essência da Universidade: o ensino ao aperfeiçoar aprendizagens entre os estudantes envolvidos; a extensão universitária ao proporcionar que o conhecimento de tecnologias espacial sirva para a segurança das pessoas e para qualificação do trabalho de profissionais de diferentes áreas; a pesquisa a medida em que novos parâmetros deverão ser investigados e definidos à cerca do risco geológico nas encostas do RS.