Uber ganha espaço em Bento Gonçalves e é alternativa de renda extra

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Ao final do percurso motorista e passageiro avaliam desempenho de cada um

Motoristas relatam que trabalhando cerca de 10 horas por dia é possível receber mais de R$ 3 mil mensais

Em 2014 o aplicativo Uber começou a funcionar no Brasil, e em novembro de 2015 os primeiros motoristas atuavam em Porto Alegre. Na Serra Gaúcha, Caxias do Sul foi a primeira cidade a aderir ao aplicativo, que chegou ao município em outubro do último ano. Em Bento Gonçalves o movimento foi mais lento, e apenas em fevereiro deste ano começaram a trabalhar os primeiros motoristas Uber.
O aplicativo, aos poucos, ganhou adeptos na cidade, e após mais de dois meses do início do funcionamento pouco mais de dez motoristas Uber atuam na cidade. A demanda de passageiros, no entanto, exige um número maior de motoristas, conforme afirma o vendedor aposentado Geraldo Ferla, que há uma semana é um motorista da empresa. Ainda com pouca prática, Ferla se diz feliz com o novo emprego. O idoso afirma que trabalha em torno de 10 horas ao dia e que já chegou a fazer mais de 40 corridas em 12 horas. Segundo ele e comum receber mais de três chamados enquanto realiza uma corrida.
De acordo com o aposentado, a empresa é criteriosa na seleção do motorista. “É realizada uma entrevista com eles, e tem que ter a habilitação para transporte de passageiro (com as letras EAR na CNH ). A carteira é fotografada e enviada para os Estados Unidos e aí eles irão dizer se você pode ou não trabalhar de Uber”, explica. Na seleção, o candidato é avaliado, e conforme lembra Ferla, é realizado uma espécie de “raio X” do motorista. “Eles vão avaliar quem eu sou, irão pesquisar se eu já me envolvi em acidentes, além de pesquisarem sobre o que eu faço”, afirma.
O GPS (utilizado pelo motorista) é utilizado também para monitorar o trajeto realizado. Cada corrida é importante para o motorista ganhar credibilidade com o passageiro e também com a empresa. O monitoramento é constante. “O carro é monitorado, e quando tem frenagem brusca ou aceleração somos avisados, por isso é importante manter a velocidade do carro no limite correto”, afirma.
O trajeto deve ser cumprido de forma correta, mas conforme afirma o motorista, é permitido mudar a rota, caso o cliente faça um pedido. “Às vezes o cliente pede para mudar a rota ou fazer outro trajeto, mas corridas realizadas por fora do aplicativo é por conta e risco do motorista”, ressalva.

Elas no volante
Ser um motorista Uber não é exclusividade para os homens, e em Bento Gonçalves elas já estão ganhando espaço entre eles. Na manhã da última quarta-feira, 19, uma motorista (que não quis se identificar), começava apenas o segundo dia de trabalho na função de Uber. Logo na saída do trajeto ela lembrou (para este repórter) da importância da utilização do cinto de segurança. De acordo com a motorista, foi o desemprego que a fez decidir trabalhar de Uber.
“É o meu segundo dia, e confesso que estou mais tranquila. No início da semana estava bem apreensiva porque era tudo novidade. Eu atendi quatro clientes na primeira manhã”, lembra. Quando chegamos ao destino, ela lembrou que existe algusn riscos com os taxistas, que segundo a motorista, alguns já fizeram pequenas ameaças.
“Os taxistas estão de certa forma revoltados e pela segurança. Alguns motoristas receberam ameaças de parar o serviço, mas eu, no entanto, não recebi intimidações”, garante.

Duas profissões
Luan Ferla, filho do aposentado, citado no início da reportagem, é operador de máquinas, e durante seis horas do dia é motorista Uber. Ele afirma que o processo de cadastro foi rápido e seguro. “Eu me cadastrei na internet, enviei os documentos e em 15 dias fui aprovado. Trabalho em torno de 6 horas por dia e posso dizer que é possível ganhar em torno de 500 reais por semana”, diz.
Um dos diferenciais de Luan, segundo ele, é que trabalha nos sábados e domingos, incluindo as madrugadas, quando poucos motoristas estão trabalhando. Luan já chegou a realizar mais de 70 corridas entre os dois dias, devido a falta de motoristas de noite. “Sábado de madrugada só havia um motorista trabalhando e os passageiros reclamam porque tem poucos Uber nas primeiras horas da manhã”, conta.
Ele ainda lembra que o profissional precisa ter uma boa reputação. “O motorista pode ser inativado se receber avaliação baixa”, afirma.

Opinião dos passageiros
A escolha do serviço na hora de sair de casa pode ocasionar dúvidas entre os usuários. Os adeptos dos táxis dificilmente trocam um taxista “amigo” por um “estranho” motorista Uber, enquanto que jovens entre 15 e 30 anos migram facilmente para o aplicativo. Francisco Souza Rizzon, de 65 anos, diz que utiliza táxi ao menos duas vezes por semana, e que há pelo menos 9 anos chama o mesmo motorista. Ele não pensa em trocar o táxi pelo Uber.
“Eu não confio nessas tecnologia, e nem cogito deixar de chamar meu taxista por um motorista estranho. Não sei quem ele é, e nem se posso confiar nesse sistema”, comenta. Rizzon acentua ainda que a violência dos últimos anos o deixa ainda mais temeroso ao sair de casa, e que o Uber não facilitaria sua vida.
“Um dia eu posso até tentar chamar esse tal de Uber, mas por enquanto vou continuar chamando meu amigo taxista para realizar o serviço. Ainda tenho medo de toda essa novidade”, ressalta.
Jonas Bernardo tem 22 anos e é estudante. Em seu celular, além do Uber, tem também o aplicativo Cabify (empresa espanhola de transporte urbano concorrente do Uber) que utiliza em suas viagens para Porto Alegre. Ele considera um vício a utilização dos aplicativos, e desde que baixou em seu Smarphone, não utilizou mais táxis.
“Aqui em Bento utilizo Uber, e só quando não encontro um motorista disponível sou obrigado a chamar um táxi, mas é em casos extremos. Quando vou à Porto Alegre costumo utilizar o Cabify, que é um pouco mais barato”, afirma. Ainda de acordo com o estudante, a praticidade na utilização do aplicativo fez a diferença no momento de “abandonar” os táxis. Ele reclama no entanto, do pouco número de motoristas em bento.
“Sempre que estou atrasado chamo um Uber, porém, seguidamenet acontece de não encontrar um motorista próximo ou ativo. Seria excelente se houvesse mais motoristas habilitados. Espero que em poucos meses tenhamos ao menos mais uns dez motoristas”, torce.

Indique um amigo
Com o desemprego em alta, o Uber se tornou uma alternativa de remuneração até para quem não possui carro próprio. No final de 2015, 7 mil motoristas atuavam com o aplicativo em todo o país. Hoje, são 50 mil condutores cadastrados para atender aos 8,7 milhões de clientes registrados no aplicativo.
“A demanda cresce continuamente por esse tipo de serviço, então novos motoristas entram na plataforma constantemente para garantir que os usuários tenham um carro rapidamente”, informou a assessoria de imprensa da empresa.
Para continuar crescendo nesse ritmo, o Uber não só facilita o cadastro como paga R$ 700 ao associado que indicar um amigo (desde que o novo motorista complete 40 corridas).

Como é em outros países

Estados Unidos
Algumas cidades exigem que os motoristas sejam submetidos a uma rigorosa verificação de antecedentes e a programas de treinamento. Os veículos são inspecionados por um mecânico autorizado.
Em 2015, na Califórnia, o aplicativo foi multado em US$ 7,3 milhões por não repassar informações sobre número de corridas, requisições de carros acessíveis para deficientes e causas de acidentes
Pode haver obrigatoriedade de seguro no valor de até US$ 1 milhão para cada corrida

México
A Cidade do México impôs um valor mínimo equivalente a US$ 12,6 mil para um veículo poder ser utilizado no serviço. O imposto de 1,5% do custo da corrida é destinado a melhorar os serviços de táxi.

Reino Unido
Em outubro, a Justiça decidiu que os motoristas do Uber são empregados da empresa, que deve arcar com todos custos trabalhistas, incluindo folga remunerada.