Segundo as análises, próximas semanas podem ser marcadas por um novo agravamento da pandemia
Na semana em que o Brasil se aproxima das 500 mil mortes por covid-19, epidemiologistas e cientistas de dados alertam para um novo agravamento da pandemia na maioria dos Estados e regiões do país. Essa “terceira onda”, expressão popularmente aceita para descrever o agravamento dos números após uma relativa melhora, está relacionada a diversos fatores como o relaxamento das medidas restritivas, retorno de atividades sociais e comerciais e o consequente aumento da circulação de pessoas pelas ruas.
A preocupação é que essa retomada acontece num período em que os sistemas de saúde ainda estão bastante fragilizados e sem condições de dar vazão à chegada de milhares de novos pacientes. De acordo com as projeções do Instituto de Métricas em Saúde da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, o Brasil pode contabilizar um total de 727 mil mortes por covid-19 até outubro de 2021.
Ao contrário de outros países, que têm picos muito bem definidos, a doença permaneceu relativamente estável por aqui durante muitas semanas de 2020 e 2021. Mesmo nos períodos de maior calmaria, a taxa de infectados e mortos nunca esteve realmente abaixo da casa das centenas ou até dos milhares.
Onde estamos?
Após o pico observado nos primeiros meses do ano, o Brasil viveu nas últimas semanas um momento de relativa estabilidade nas hospitalizações e nas mortes por covid-19. Vale reforçar novamente que isso ocorreu em patamares muito altos, com números elevados de novas internações e óbitos relacionados ao coronavírus.
O aumento nas hospitalizações e mortes por covid-19 é apenas a ponta do iceberg que indica uma taxa de transmissão comunitária do coronavírus extremamente alta. E o problema fica ainda pior quando se considera que o número de leitos de enfermarias e UTIs é limitado, bem como a quantidade de médicos, equipamentos e insumos farmacêuticos. O colapso no sistema de saúde, portanto, amplia a taxa de óbitos e torna essa avalanche da pandemia ainda mais dramática.
Ingredientes do repique
Mesmo com estatísticas nada animadoras, prefeitos e governadores anunciaram no final de abril e começo de maio o relaxamento das medidas mais restritivas, que determinavam o fechamento de comércios e atividades não essenciais.
Com bares, restaurantes, lojas e shoppings abertos novamente, as pessoas voltaram a circular com mais intensidade pelas ruas. Para completar, as últimas semanas foram marcadas por eventos que motivaram aglomerações e encontros de pessoas em lugares fechados.
Outro fator que entra nessa equação é a chegada da temporada de frio em boa parte do Brasil: apesar de o coronavírus ser transmitido em qualquer temperatura, é natural que as pessoas permaneçam mais tempo em locais fechados e próximas umas das outras durante o outono e inverno, o que facilita a propagação da doença.
Vírus ‘repaginados’ e ritmo lento
Além dos fatores comportamentais e políticos, há outros dois componentes que preocupam a comunidade científica: a chegada de novas variantes do coronavírus e o ritmo lento de vacinação no país.
A variante Gama, detectada pela primeira vez em Manaus, por exemplo, teve papel decisivo na explosão de casos e mortes registradas não só no Brasil, mas em toda a América Latina, durante esse primeiro semestre de 2021.
A chegada da variante Delta, identificada pela primeira vez na Índia, já encontrada no nosso país desde o final de maio, é vista com grande apreensão pelos especialistas: não se sabe se ela pode se tornar dominante e complicar ainda mais as coisas por aqui.
O que as autoridades deveriam fazer
Do ponto de vista de saúde pública, muitos especialistas defendem que o Brasil (ou ao menos algumas regiões do país) necessita de um lockdown urgente. Mas é difícil imaginar que, passados tantos meses de pandemia, prefeitos, governadores e o próprio governo federal tomarão alguma medida nessa linha.
As políticas que inibam as aglomerações, aliás, teriam um efeito muito melhor se fossem tomadas num momento anterior ao aumento de hospitalizações e mortes: se os gestores públicos agissem na etapa prévia, quando a transmissão do vírus pela comunidade começa a subir, isso evitaria aquele efeito dominó que se reflete no agravamento de todo o cenário.
Há ainda outras atitudes primordiais para conter a pandemia que o Brasil, como por exemplo, monitorar os casos leves com uma boa política de rastreio e isolamento de casos confirmados. Também melhorar os sistemas de vigilância epidemiológica e genômica, para que termos indicadores adequados e avaliar a transmissão comunitária do coronavírus e a distribuição das variantes.
E o que eu posso fazer?
Do ponto de vista individual, as medidas de prevenção continuam a valer e são primordiais para proteger todo mundo. As recomendações dos especialistas são aquelas já divulgadas há algum tempo: fique em casa e fuja de aglomerações sempre que possível.
Se precisar sair, use máscaras (de preferência, modelos profissionais como a N95 ou a PFF2, que vedam bem o rosto) e mantenha um distanciamento mínimo de 1,5 metro das pessoas que não fazem parte do seu convívio diário.
Lembre-se sempre de que o coronavírus é transmitido pelo ar. Portanto, procure ficar o menor tempo possível em locais fechados, sem janelas ou sem um bom sistema de ventilação. Lugares abertos e bem arejados são sempre mais seguros.
Vale, claro, lavar as mãos com água e sabão ou álcool em gel com alguma frequência. E, por último, quando chegar a sua vez de tomar a vacina, vá até o posto de saúde mais próximo de sua casa. E anote na agenda a data para voltar nessa mesma unidade e receber a sua segunda dose.