Uma tecnologia para produção de tomate está sendo desenvolvida pela Embrapa e pode mudar muito vida dos produtores da fruta. O Sistema de Produção de Tomate em Cultivo Sustentável (Tomatec) está sendo implantado em uma cidade no interior do Rio de Janeiro e impactou a renda de alguns agricultores na lavoura do tomate com ganhos acima de 200% em relação ao custo de produção, graças à parceria com a rede de supermercados carioca Zona Sul. “Essa união com o Zona Sul transformou o tomate na principal cultura econômica desses produtores. Eles recebem mais pelo Tomatec do que por qualquer outra cultura de rotação, como alface, brócolis ou ervilha”, revela o pesquisador da Embrapa Solos (RJ) José Ronaldo Macedo.
Em 2006, o produtor rural Sílvio Vieira Silva, de São José de Ubá (RJ), perguntou para José Ronaldo porque mesmo realizando todas as práticas conservacionistas preconizadas pela Empresa ainda não conseguia receber um melhor pagamento pelos tomates que comercializava. “Aquela pergunta ficou um bom tempo na minha cabeça”, conta o pesquisador. “Depois de pensar bastante, concluí que para esse tomate ser valorizado precisávamos de um diferencial, como, por exemplo, um fruto que chegasse sem resíduo de agrotóxico à mesa do consumidor”.
Daquela pergunta nasceu o Tomatec. Mas para contar essa história temos que voltar ainda mais no tempo. A Embrapa Solos chegou em 1995 a Paty do Alferes, município fluminense no qual o tomate era o principal cultivo. “Iniciamos um trabalho de manejo do solo em microbacias com nossa equipe de pedologia (estudo do solo em seu ambiente natural) e de conservação do solo nesta região, que também incluía Miguel Pereira e Vassouras”, recorda José Ronaldo.
Quando chegou à área, a equipe da Embrapa encontrou um cenário complicado. O cultivo do tomate na região não utilizava práticas de conservação do solo, como consequência havia erosão, poluição dos mananciais, queimadas e uso excessivo de agrotóxico. Vale lembrar que, ao lado das culturas da batata, mamão e morango, a do tomate é uma das que apresenta maior resíduo de agrotóxico nos frutos. “Não era possível deixar de plantar tomate, então resolvemos mudar o sistema de produção”, recorda José Ronaldo.
Essas mudanças compreendiam alguns dos pilares do que viria a ser o Tomatec: plantio direto, rotação de culturas e plantio em nível, fertirrigação por gotejamento, manejo integrado de pragas (MIP) e tutoramento vertical da planta com fitilho. Outra prática, fundamental para livrar os frutos dos agrotóxicos, a proteção física do fruto pelo ensacamento das pencas, foi adotada em um segundo momento.
O ensacamento da penca do tomate complementou as ações do MIP e teve a dupla função de proteger o fruto dos ataques das brocas e dos resíduos de agrotóxicos, evitando o depósito da calda na casca do tomate. Essas práticas permitiram que o produtor conseguisse um tomate isento de agrotóxico, pois acontece a redução do uso do mesmo devido ao MIP e à proteção física do saco.
A fertirrigação proporciona maior eficiência no uso da água e de adubos mais solúveis, reduzindo, assim, os fortes níveis de adubação registrados nas lavouras de tomate, enquanto o plantio direto diminui a erosão que pode surgir com o preparo inadequado do solo.
Ao fim do processo da adoção do Tomatec, o fruto surge como um tomate limpo, resistente e de excelente aparência, com selo de qualidade e rastreabilidade, o que proporciona ao produtor receber melhor preço pelo seu produto.
Análises feitas na Fiocruz, no Rio de Janeiro, atestaram que o fruto sai da lavoura sem resíduos de agrotóxicos, assumindo como livre de resíduos resultados analíticos obtidos quando da leitura do equipamento for menor do que o limite de quantificação, como consta do laudo da Fiocruz.
O produtor rural de São Sebastião do Alto, Roberto Ferreira, um dos primeiro a adotar o Tomatec, atesta a importância desse aspecto. “Esse zero resíduo que o Tomatec proporciona foi o que primeiro me atraiu”, conta Ferreira.
O pesquisador da Embrapa Hortaliças (DF) Nuno Madeira aponta outros benefícios da tecnologia: “Creio que os diferenciais do Tomatec são proporcionar segurança quanto à qualidade do fruto para o consumidor e permitir o acompanhamento pleno do sistema produtivo e de seus custos para o fazendeiro”.
O que vem por aí
Como todo sistema em desenvolvimento, o Tomatec ainda tem espaço para aprimoramento. “Talvez, algum ajuste regional para os níveis de danos no MIP”, diz Madeira. “Outra coisa que por vezes não acontece é a aplicação do cultivo em plantio direto. Muitas vezes, os produtores se sensibilizam pelo processo, mas já iniciam a partir da fase seguinte, fazendo preparo de solo convencional. E, certamente, os benefícios do plantio direto estão mais do que consagrados”, reitera.
Este ano espera-se que o Tomatec se consolide no Rio de Janeiro e se expanda para os estados de Espírito Santo e São Paulo.