Produção acima da média restabelece os estoques de vinhos e sucos perdidos com a safra de 2016, na qual ocorreu uma quebra de cerca de 50%
A safra da uva deste ano é analisada de forma positiva pelos pesquisadores da Embrapa, tanto em função da quantidade, quanto da qualidade. Em 2017, observando os vinhedos da Embrapa e de diversas áreas nas regiões vitícolas do Rio Grande do Sul, pelas condições favoráveis com um inverno com muitas horas de frio abaixo de 10 °C e excelente brotação das gemas, que ocorreu em agosto/início de setembro, e pelas condições adequadas na primavera, na fase de floração e pegamento de frutos (com quase nada de doenças, como o míldio) já garantiu uma safra com elevado potencial de quantidade. Ao que tudo evidencia, 2017 terá uma produção, possivelmente maior que 710 milhões de quilos, um viés bem acima do normal, que deverá restabelecer os estoques de vinhos e sucos perdidos com a safra de 2016, na qual ocorreu uma quebra de cerca de 50%.
Com relação a qualidade da safra, todos os modelos climáticos sugeriam que o tempo neste verão seria mais seco, por causa do fenômeno La Niña, o qual, surpreendentemente, não se confirmou. A esse respeito, o último relatório do NOAA (National and Oceanic Atmospheric Administration), dos EUA, de 9/02/17, acena que, definitivamente, tivemos em fevereiro um clima sem a influência dos dois maiores condicionadores do tempo na região sul do Brasil: La Niña ou El Niño.
Comparativamente à safra de 2016, tem-se que dezembro de 2016 foi menos chuvoso do que 2015 (o que é muito positivo para a safra 2017) e o mês de janeiro ficou dentro do normal de precipitação pluviométrica, o que o torna medianamente chuvoso. Isso fez com que as uvas precoces colhidas e agora as uvas intermediárias como a ‘Riesling Itálico’, ‘Trebbiano’, e em algumas áreas a ‘Merlot’, apresentassem uma qualidade intermediária/boa, muito dependente do local do vinhedo.
Vinhedos bem localizados (de encostas) e bem drenados, empregando mudas de qualidade e tratos culturais adequados lograram atenuar o efeito prejudicial das chuvas. Vinhedos com pior localização (mais planos), mal drenados, com videiras virosadas e com baixo nível tecnológico tem propiciado uvas com grau de maturação abaixo do adequado. O limite legal de 3 graus de chaptalização será desafiante para uma fração importante de vinhos da região, bem como alcançar o teor de açúcar mínimo para a elaboração de suco integral.
Este relato, enfim, aponta que a safra de 2017 será uma safra de grande volume e de qualidade, ainda, a ser definida pela aleatoriedade das chuvas de meados de fevereiro e março. E remete, cada vez mais, da importância de estabelecer os vinhedos no locais certos, com mudas de elevada qualidade, níveis de produtividade/planta não excessivos, com tratos culturais, controle de doenças e manejo adequados.
Recomendações pós-colheita:
O que deve ser feito para março-maio?
Pulverização com calda bordalesa para o controle do míldio tardio;
2) Pulverização com fungicidas triazóis (Folicur, Score, Caramba ou Domark) para o controle da mancha das folhas nas uvas americanas; uma aplicação a cada 15 dias (3x) para a manutenção da viabilidade e sanidade das folhas até maio. Nas cultivares que não apresentam sintomas de fitotoxicidade, (ex. Isabel), pode ser usado enxofre ao invés de triazóis.
Pré-poda (só a partir de maio)
1) Retirar os ramos secos da planta. Podar até encontrar o tecido interno sadio (verde) sem apodrecimentos. Efetuar o pincelamento de tinta látex + Score ou pasta bordalesa para proteção;
2) Durante o período de dormência realizar a pulverização do tronco, ramos e gemas com calda sulfocálcica 4 Bé, para redução de inóculo dos patógenos presentes na safra anterior;
3) Retirada de todos os restos culturais como ramos, cachos mumificados e troncos do solo dos vinhedos. Efetuar a queima ou compostagem. Não deixar nas proximidades do vinhedo, pois será fonte de inóculo das doenças na próxima safra.
Recomendações no próximo ciclo junho- março
1) Após a poda efetuar o tratamento dos cortes com fungicida triazol, Trichoderma, pasta bordalesa ou tinta látex
2) Adubação equilibrada orientada a partir de uma análise de solo recente e bem amostrada. Não é o excesso de adubos que irá recuperar as plantas, mas sim a disponibilidade equilibrada de nutrientes. O excesso de um elemento pode ocasionar a deficiência de outro, prejudicando o metabolismo interno da planta e aumentando a suscetibilidade a doenças, dentre outros problemas.
3) Evitar excessos de adubos ou de cama de aviário;
4) Racionalizar as pulverizações para não tornar as plantas extremamente dependentes de produtos químicos.
Pós-colheita da uva
Após a colheita, a uva deve ser enviada para o setor de embalagem (packing house) o mais rapidamente possível, para evitar desidratação das uvas, com seca dos engaços e desprendimento das bagas (degrana), que causarão grande prejuízo à qualidade.
No packing house, que deve estar em perfeitas condições higiênico-sanitárias e bem iluminada, será feita a limpeza, seleção, classificação e embalagem do produto.
Cuidados especiais são recomendados na manipulação durante colheita, transporte e embalamento a fim de se evitar a degrana, principalmente na cultivar BRS Morena, onde a aderência ao pedicelo é menor do que as outras cultivares. As bagas da cultivar BRS Clara e BRS Linda, por sua vez, têm boa aderência ao pedicelo, sendo bastante resistentes à degrana, mesmo após a seca do engaço. Mesmo assim, o manuseio cuidadoso dos cachos é sempre recomendado para manter a qualidade.
Após a classificação dos cachos por cor, classe (peso dos cachos) e categoria (qualidade da uva e demais parâmetros como cor, engaço e formato dos cachos), as caixas de uvas devem ser pesadas.
No embalamento, sempre cuidadoso, é necessário procurar obter o melhor aspecto visual possível. É muito importante que as embalagens escolhidas estejam de acordo com a Instrução Normativa Conjunta n°009, de 12/11/2002, que determina que as embalagens devem:
1-ser paletizáveis, com dimensões que permitam empilhamento padrão de 1,00 m x 1,20 m;
2-não causar danos aos produtos;
3-se descartáveis, devem ser recicláveis ou permitir a incinerabilidade limpa;.
4-se retornáveis, devem sofrer desinfecção a cada uso e
5-conter todas as informações de rotulagem que permitam a rastreabilidade do produto.
Depois de embaladas, as uvas devem ser resfriadas o mais rápido possível. O ideal seria que o calor das uvas fosse retirado através do pré-resfriamento, onde a temperatura é reduzida rapidamente nos chamados túneis de pré-resfriamento. Depois de pré-resfriadas, as uvas devem ser encaminhadas a câmaras de refrigeração, cuja função é manter a temperatura baixa.
A refrigeração permite que o produto seja armazenado por tempo muito mais prolongado que o produto mantido à temperatura ambiente. A temperatura ideal para conservação das uvas é de 0°C a 3°C, com umidade relativa do ar em torno de 90%, para evitar desidratação intensa. Nas cultivares BRS Clara e BRS Morena, por exemplo, o engaço desidrata relativamente rápido após colheita em condições de ambiente natural. Face ao exposto, o embalamento em sacolas de plástico ou cumbucas, que depois são acondicionadas em caixas, é uma providência importante para a comercialização dessa cultivar.
A BRS Linda é a cultivar de maior potencial de armazenamento após a colheita. Destaca-se pela alta aderência ao pedicelo, com alta resistência à degrana e engaço forte e resistente a murchamento, características importantes no período pós-colheita.
Além de baixa temperatura e alta umidade relativa no armazenamento, algumas tecnologias podem ser associadas para aumentar o potencial de conservação das uvas sem sementes, permitindo que elas atinjam mercados distantes, em épocas mais interessantes para a comercialização, como no caso do processamento mínimo.
O dióxido de enxofre (SO2) tem sido empregado comercialmente para proteger uvas de mesa contra podridões por Botrytis cinerea e outros fungos. Além de controlar fungos, possui ação antioxidante, influenciando nos processos fisiológicos. Pode ser aplicado como fumigante ou na forma de sachês contendo metabissulfito de sódio (Na2S2O5) que reage com a umidade, produzindo SO2. Quando usado como fumigante para uvas de mesa, o SO2 é oficialmente definido como pesticida, sendo obrigatório, de acordo com a Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA), que esteja presente em níveis abaixo de 10mg.L-1.