O jornal Gazeta ouviu mães, professoras, Centro dos Professores do Estado do Rio Grande do Sul e Famurs, para saber qual a opinião sobre a proposta apresentada pelo Governador Eduardo Leite para a volta às aulas
Eduardo Leite propôs que o retorno das aulas inicie com a educação infantil ( pública e privada), a partir do dia 31. Os estudantes e professores do ensino superior voltariam às salas de aula no dia 14 de setembro. Enquanto para o ensino médio e técnico, o retorno das atividades estaria marcado para o dia 21. E por último, no dia 28 de setembro, estariam autorizados a voltar os estudantes do ensino fundamental, sendo que os primeiros anos do l deveriam retornar a partir de 8 de outubro. As aulas em creches, pré-escolas e escolas estão suspensas no Rio Grande do Sul desde março. No Ensino Superior, há permissão para disciplinas práticas e laboratoriais de fim de curso. Conforme a assessoria de imprensa do Palácio Piratini, , o retorno seria permitido apenas para municípios sob bandeira amarela e laranja, respectivamente, risco baixo e médio para coronavírus.
“Uma vida vale mais do que um ano letivo”
Juçara de Fátima Borges, Diretora Geral do Cepers na região, tem um posição bem clara sobre a proposta de retorno às aulas do Governador Eduardo Leite. “Nós, como Sindicato, defendemos a escola fechada, vidas preservadas. ” Para ela é inadmissível voltar agora, num momento que ainda estamos com a curva alta de contaminação. “Não tem nenhuma condição de as escolas estaduais conseguirem seguir o protocolo de saúde que o governo está propondo. As escolas têm no máximo 3 funcionários, como vamos coneguir higienizar, com um volume de ate mil alunos?” indaga a diretora. Juçara também questiona se o governo vai doar máscaras e quem vais esta lá para medir as temperaturas? Para ela, a proposta de retorno coloca em risco a vida dos alunos, dos professores e da comunidade. Os professores estaduais não pensam em retornar enquanto não houver segurança, seja uma vacina, uma queda drástica dos casos, uma ação que deixe a comunidade segura. No momento as escolas estão funcionando com apenas uma funcionária fazendo atendimento de plantão, mesmo assim houve um caso de contamição em Osório, e a funcionária que estava trabalhando acabou falecendo por Covid-19. “Já vimos o exemplo da Europa, as escolas retornaram, houve aumento de contaminação e elas tiveram que volta atrás na decisão e fechar novamente” , afirma Juçara. O governo está passando a responsabilidade para os prefeitos, o que incomoda a diretora. “O ano letivo pode ser recuperado, as vidas, não” , com essa firmação, Juçara deixa claro que, independente da opinião do governados, as escolas estaduais não vão voltar.
“Se for o caso de voltar, não há unanimidade para isso. A maioria é contrária”,
O presidente da Famurs, Maneco Hassen, considerou apressada a atitude do governo, ao indicar o retorno já em 31 de agosto, em menos de 20 dias. A preocupação é com as condições dos estabelecimentos municipais para atender a protocolos definidos pelo próprio Estado. “Se for o caso de voltar, não há unanimidade para isso (entre os prefeitos). A maioria é contrária”, adianta Hassen. A federação vai começar uma consulta com os 497 municípios gaúchos para levantar a posição de cada um em relação ao calendário proposto e as condições para isso. Como a Educação Fundamental voltaria até começo de outubro, a dúvida é com o transporte escolar e condições para ter distanciamento entre os usuários. Também pode ter dificuldade com pessoal e limitações impostas pelas regras eleitorais que impedem agora contratações. Nova rodada de discussões foi agendada para terça-feira (18) e deve contar com oTribunal de Contas do Estado e Ministério Público. As 27 regionais da Famurs também vão debater a proposta e apresentar uma posição. Hassen avalia que o retorno das escolas não deve ser regulado pelo decreto da cogestão do distanciamento controlado com os municípios. Como a intenção é definir limites de flexibilização dentro da cada bandeira, poderia abrir para uma regionalização das medidas em relação à educação, que até agora ficou fora e com orientação da cúpula do governo. “Se ficar com as cidades, fica a pressão desnecessária sobre os prefeitos. Saímos do debate das bandeiras para o abre e fecha das escolas. Temos de trabalhar unidos”, defendeu o presidente da Famurs.
Opinião das professoras
Aurea Seben, professora
É um momento complexo que estamos vivendo e de incertezas. Expor o que pensamos pode ter interpretações diversas porque a comunidade escolar está dividida quanto as suas posições e nós somos funcionários públicos e sabemos que devemos cumprir com nosso papel como educadores. É importante esse espaço para dizer que em momento algum a EMI Feliz da Vida esteve distante da sua comunidade escolar, pois desde o dia 18 de maio estamos atendendo nossas crianças através do Educar WEB, WhatsApp e entrega de atividades presenciais. Uma nova realidade, que embora possa não parecer, é bastante intensa. Mas não há como substituir a vivência do abraço, o sorriso e até mesmo do choro das crianças. Angustia…além de seres educadores somos seres humanos com medos, famílias e todo dia aguardando a certeza da segurança…por enquanto…VAI PASSAR!
Antoniéla Fonseca, Auxiliar de Educação Infantil
“Criança requer amor, cuidado, carinho, proteção e educação, mas como demostrar afeto sem o toque? Sem o beijinho? Sem o abraço? São essas e outras questões que nos fazem refletir sobre a volta às aulas, já que as aulas encontram-se suspensas desde o dia 19 de março devido à pandemia causada pelo Novo Coronavírus, que entre suas medidas prevê o distanciamento social, não compartilhamento de objetos, o uso de máscara e a higienização constante das mãos. Porém, os profissionais que atuam nas escolas percebem que as crianças necessitam de afeto umas com as outras e por parte de seus cuidadores, o quanto o brincar junto, o interagir, a troca de objetos (brinquedos) é importante, sem contar que a recreação é indispensável para liberar as energias, bem como seu contato com o meio ambiente, correr, brincar, pular são atividades presentes no desenvolvimento infantil. Mesmo que a escola juntamente com a Prefeitura forneçam os materiais e cuidados necessários e cada aluno utilize máscara, estão sujeitos a não ficar todo dia com ela, podendo até mesmo trocar com o coleguinha ou perder em meio às brincadeiras. Outro ponto para pensar sobre o retorno é que a responsabilidade não é inteiramente da escola, envolve os pais ou responsáveis para levar e buscar, também o meio de transporte que irá utilizar como van ou ônibus, logo são várias pessoas com as quais a criança tem contato, estando exposta a ficar doente. Então, acredito que a volta às atividades escolares deva ser segura, em que todos os responsáveis envolvidos garantam proteção aos pequenos, lembrando que há riscos, mas os cuidados preventivos são essenciais, cada um deve fazer a sua parte e medir as consequências, pois no mês de agosto o cenário atual do estado rio-grandense encontra-se em bandeira vermelha, e a divisão das regiões coloca a Serra gaúcha em bandeira laranja. Será que este é um bom momento para o retorno das aulas presenciais?!
Taís Helena Riboldi, professora
“Por mais que o Parecer 11 do CNE – Conselho Nacional de Educação, procure organizar normas e emita orientações a respeito de medidas de segurança para o retorno, e que o município tenha estruturado muito bem um “Protocolo de Retorno”, ainda me sinto temerosa com relação à efetividade dessas medidas de higiene e segurança. Dentro das escolas estamos lidando com muitas vidas: de professores, funcionários e alunos. E todos esses convivem com seus familiares fora da escola. Penso ser muito complicado conter as interações físicas e o contato, principalmente em se tratando de crianças e adolescentes, que geralmente, são muito espontâneos. Enquanto não houver uma forma mais segura de barrar o avanço do vírus, juntamente com um tratamento eficaz para a doença acusada por ele (Covid-19), acredito ser muito improvável a volta às salas de aula e ao ambiente escolar.”
Angélica Gatto Del Savio, professora
“Acho muito arriscado, pois, eles se abraçam, se beijam, trocam chupetas, ,eles tem envolvimento, muito amigável com os colegas.. parceria.
Muito difícil vê-los de máscaras, isolados não seria legal, são uns amores… estou morrendo de saudades… difícil…”.
Carine Gugel Paini, monitora de escola e mãe de duas crianças, uma de educação infantil, 3 anos, e de ensino fundamental, 8 anos.
“Por mais que tentarmos distanciar as crianças e reduzir o número de crianças na escola, escala de alunos para retornar, sabemos que é impossível deixar as crianças afastadas umas das outras, o contato é impossível. Dizem que as crianças não sofrem com o vírus, mas elas transmitem para as pessoas da casa. A escola, funcionários e equipe diretiva, bem como COE-E, vão fiscalizar, mas com a retomada das aulas, veremos o número de casos graves aumentar e aí sim, o que estávamos tentando evitar, o grande número de pessoas nos hospitais. Se já estamos no ensino remoto desde março, poderemos ficar por mais um tempo assim e manter todos em segurança.”
Sandra Forest, professsora
“O modelo híbrido de aulas parece a melhor opção. Dessa forma conseguimos manter distanciamento na maior parte do tempo, mas não abrimos mão do presencial. Todos os alunos terão acesso a internet? Provavelmente não, portanto deve ser avaliado com cuidado as formas de garantir o acesso. Outro ponto é a condição mental em que se encontrarão tanto alunos quanto professores. Vemos noticias de pessoas falecendo na mídia; temos pessoas perdendo seus empregos; a situação está instável. Alguns podem até ter familiares e amigos afetados. Não se pode esperar o mesmo rendimento e a mesma cobrança, estamos em momento atipíco o qual pede medidas atípicas. Garantiremos condições suficientes para todos, alunos, professores e servidores? Como eles se deslocarão até o trabalho? Como será o intervalo dos alunos? Teremos recursos para distribuir álcool em gel para todos? Teremos máscaras suficientes? Corrermos o risco de novamente ter de fechar, estaremos colocando nossas vidas e as vidas de nossas crianças e adolescentes em risco.”
O que as mães pensam
Depoimento de Cinara Manfroi Dallagnse, empresária e mãe do Gianluca
“Eu sou uma das mães que está sofrendo muito com essa situação de ensino a distância. Meu filho fez oito anos, está no segundo ano de ensino e, infelizmente, o online para ele não funciona. Ele é comunicativo, gosta de interação, gosta de estar presente, com amigos, colegas, professoras, então não funciona essa aula a distância. Para ele eu preciso de uma aula presencial, vai produzir muito mais, a atenção dele vai ser dada e o aprendizado também com certeza vai ser melhor. Eu concordo com o ensino dividido, entre online e off-line, não tem problemas. “
Depoimento de Lisi Castro, líder comunitária e mãe de Lucas,Ana Julia, Ana Luiza) e José Henrique.
“ Meus filhos, por minha decisão, não irão retornar àdescaupais aulas este ano. Minha decisão consiste em um olhar preocupado com a realidade que vivemos hoje, a insegurança não nos permite falhar com nós mesmos, com o próximo e ainda mais com nossos filhos. Eu assumo o risco de trabalhar e me cuidar da maneira adequada, mas não vou permitir que meus filhos assumam este risco .”
Depoimento de Paula Almentes Pellin, mãe de Mathias, jornalista e organizadora de eventos
“Vejo com certa temeridade esse retorno das escolas, principalmente na educação infantil, mas entendo a importância econômica dessa volta gradual, visto que muitas famílias estão se obrigando a deixar os seus filhos com cuidadoras e até mesmo em creches clandestinas. Claro que a instituição de ensino precisa oferecer as condições adequadas de segurança sanitária. Acho que as famílias têm a decisão escolher sobre o retorno das crianças às escolas. Espero que aqueles pais que tenham condições de permanecer com seus filhos em casa o façam, para que os que precisem utilizar os serviços de educação possam adotar o processo de retomada com mais segurança.
Depoimento da empresária Priscila Da Ré Galant, mãe de Guilherme e Mariana,
Aqui em casa tenho uma no 2 ano E.F e um no 5 ano E.F. Como posso ficar em casa pela manhã consigo dar atenção as atividades da escola. Vejo que, mesmo num ritmo mas lento, eles estão aprendendo e o mais importante é que a escola está reforçando o que já aprenderam tentando assim diminuir o dano que um ano como esse pode ocasionar nas crianças. Mesmo que a escola consiga se estruturar e organizar um possível retorno ainda tenho minhas dúvidas. Entendo que é um teste e ele pode ou não funcionar