A edição dedicada a vitivinicultura brasileira da renomada revista francesa tem 13 estudos, reunindo a expertise de 31 pesquisadores, divididos em quatro temas: O Vinho no Brasil; Novos territórios do vinho – do temperado ao tropical; Indicações Geográficas, tecnologia e identidade dos vinhos finos tranquilos e espumantes brasileiros; e Brasil – uma viticultura diversa.
A renomada revista especializada francesa Territoires du vin (Territórios do Vinho) dedicou a sua nona edição exclusivamente à vitivinicultura brasileira. O lançamento oficial em avant-première aconteceu na manhã desta sexta-feira,30 de novembro, com a presença da presidente da Chaire Unesco “Culture et traditions du vin” (Cátedra Unesco “Cultura e Tradições do Vinho”), Jocelyne Pérard, entidade que, em parceria com a Maison des Sciences de l’Homme, de Dijon, é responsável pela publicação. O evento aconteceu na sede da Embrapa Uva e Vinho, em Bento Gonçalves na manha da última sexta
“A razão de sucesso da Cátedra Unesco é a sua filosofia de valorizar a cultura e o patrimônio da uva e do vinho e de divulgar o mais amplamente possível essas informações. Sendo uma ferramenta de união entre os pesquisadores de todo o mundo, a qual foi prontamente aceita pelos participantes brasileiros desde o início”, destacou Jocelyne. Em especial ela salientou a longa e frutífera parceria com a Embrapa Uva e Vinho, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul e a Universidade de Caxias do Sul. Segundo ela, esse é um dos fatores que fizeram o Brasil ser o primeiro país fora da Europa a receber uma edição especial da Revista, tendo os anteriores apresentado a Itália e a Espanha.
Jocelyne também fez uma menção à evolução da vitivinicultura brasileira e especialmente sobre as Indicações Geográficas de vinhos.“O trabalho que vocês vêm desenvolvendo com as Indicações Geográficas vai fazer com que vocês entrem para a história do Brasil e também vai colocar o Brasil no mesmo grau de importância de vários países vitivinícolas do mundo”, destacou ela, se referindo à equipe de diferentes instituições que é capitaneada pelo pesquisador Jorge Tonietto .
Indicações geográficas
Na apresentação da revista na manha de sexta-feira (30) os profissionais franceses destacaram a importância da Embrapa Uva e Vinho para a qualificação da vitivinicultura nacional, disseminando, estimulando e dando o suporte técnico e científico aos produtores de vinhos na estruturação, e na conquista do registro de Indicação Geográfica,
“O reconhecimento de Indicações Geográficas (IG) de vinhos brasileiros estabeleceu um novo capítulo da vitivinicultura nacional, valorizando produtos tradicionais de determinados territórios, possibilitando a proteção da região produtora e garantindo aos consumidores vinhos diferenciados, atendendo requisitos específicos de produção de cada IG,” destacou Jocelyne.
“As Indicações Geográficas identificam vinhos originários de uma área geográfica delimitada quando determinada qualidade, reputação ou outra característica são essencialmente atribuídas a essa origem geográfica. No Brasil, existem duas modalidades de Indicações Geográficas: a Indicação de Procedência (IP) e a Denominação de Origem (DO). A IP se aplica às regiões que se tornaram reconhecidas na produção de vinhos. Já na DO, os vinhos apresentam qualidades ou características que se devem essencialmente ao meio geográfico, incluídos os fatores naturais e os fatores humanos,” pontuou a presidente da Chaire Unesco “Culture et traditions du vin” .
Jocelyne ainda reconheceu que a Indicação Geográfica traz como benefícios a organização coletiva dos produtores, o estímulo à economia local e a ampliação do renome dos produtos da região, com impactos na competitividade, bem como no aumento do potencial para a atividade do enoturismo. Cada IG está vinculada a uma associação de produtores que atua na gestão da mesma, incluindo o controle, a proteção e a sua promoção.
No início dos anos 1990, a Embrapa Uva e Vinho foi pioneira no Brasil ao disseminar, estimular e dar o suporte técnico e científico aos produtores de vinhos na estruturação, bem como na conquista do registro de Indicação Geográfica, que é chancelada pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), com base na Lei da Propriedade Industrial brasileira e outras normativas legais.
“É um importante espaço conquistado pelo vinho brasileiro, através desta janela para o mundo, via Chaire Unesco, que reúne uma grande rede de instituições do mundo vitivinícola”, avalia o pesquisador Jorge Tonietto, da Embrapa Uva e Vinho. Ele e as professoras Ivanira Falcade, da Universidade de Caxias do Sul (UCS), e Rosa Medeiros, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), foram os responsáveis pela coordenação deste número da revista dedicada ao Brasil.
Os artigos abordam temas atuais da diversidade brasileira no universo do vinho, incluindo abordagens inéditas, como a história do direito do vinho, cultura e patrimônio do vinho e o crescente enoturismo no país. A publicação aprofunda o diagnóstico de cinco novas regiões vitivinícolas produtoras de vinhos finos, localizadas em climas que vão do temperado ao tropical. Apresenta as qualidades e tipicidades dos vinhos de diferentes regiões, bem como faz uma caracterização do nível tecnológico da indústria vinícola, mostrando também os avanços obtidos na estruturação de indicações geográficas de vinhos brasileiros.
Segundo os coordenadores, a publicação priorizou a diversidade do vinho brasileiro, focando as diferentes regiões produtoras, apresentando a originalidade, a diversidade e a qualidade da produção. Pela especificidade do Brasil, o tema das uvas de mesa e dos sucos de uva também fazem parte da obra. “Sem dúvida será um marco com alcance internacional para evidenciar o patrimônio cultural, a ciência, a tecnologia e a inovação vitivinícola do país”, pontua Tonietto.
No primeiro semestre de 2019, a publicação ganhará versão em francês, ampliando assim,a visibilidade internacional do Brasil vitivinícola.