De acordo com uma pesquisa da Universidade de São Paulo (USP), cerca de 7% dos brasileiros — ou 15 milhões de pessoas — jogam futebol regularmente.
Mas, do ponto de vista da ciência, esses indivíduos são considerados ativos ou sedentários?
Tudo vai depender do estilo de vida que eles levam quando estão fora das quatro linhas dos gramados ou das quadras.
Em outras palavras, embora seja melhor do que não fazer nada, quem apenas joga uma partida com os amigos no fim de semana, mas fica sentado a maior parte do tempo nos dias úteis, por exemplo, pode correr riscos à saúde.
A medida ideal
A Organização Mundial da Saúde (OMS) preconiza que adultos de 18 a 64 anos façam, pelo menos, 150 a 300 minutos de atividade física aeróbica moderada por semana.
Lembrando que os treinos aeróbicos são aqueles que trabalham grandes grupos musculares e ocorre a aceleração dos batimentos cardíacos e da respiração. Alguns exemplos são correr, andar de bicicleta, nadar…
A entidade admite que é possível reduzir esse tempo para 75 a 150 minutos se o exercício for mais intenso.
Além das modalidades aeróbicas, recomenda-se fazer atividades de fortalecimento muscular (como treinos na academia) por pelo menos dois dias na semana.
Também é importante apostar em práticas que trabalhem o alongamento e a elasticidade do corpo.
Já a Academia Americana de Medicina Esportiva estipula que todos os adultos façam 30 minutos de atividade física moderada por pelo menos cinco dias na semana, ou treinos mais vigorosos por 20 minutos em três dias.
Ou seja: se considerarmos apenas essas orientações mais genéricas, jogar futebol por 60 ou 90 minutos no domingo não é suficiente para se livrar completamente do sedentarismo.
‘Petiscos de exercício’
O fisiologista Orlando Laitano, professor da Universidade da Flórida, nos Estados Unidos, vai além: ele entende que de nada adianta correr atrás da bola num único dia se, no resto da semana, você fica a maior parte do tempo sentado na cadeira do escritório ou no sofá.
“Estudos feitos nas últimas duas décadas mostraram que, mesmo aquelas pessoas que atendiam as recomendações de exercício, mas passavam o resto do dia sentadas, perdiam parte dos benefícios”, explica.
“Vamos pensar no caso de uma pessoa que acorda de manhã e vai para a academia fazer crossfit. Se depois ela fica parada o dia todo no escritório, grande parte dos ganhos do exercício são mascarados”, exemplifica.
O pesquisador destaca que a ciência encara cada vez mais o sedentarismo não tanto pela quantidade de exercício que alguém faz, mas, sim, pelas horas em que o corpo fica praticamente em repouso, sentado ou deitado.
Para lidar com isso, Laitano cita o snack exercise (ou “petiscos de exercício”, em tradução livre), um conceito relativamente novo na medicina esportiva.
“Você pode trabalhar alguns minutos de pé ou instalar debaixo da mesa do escritório aqueles pequenos pedais de bicicleta ergométrica para movimentar as pernas enquanto participa de uma reunião por videochamada”, sugere.
“Outra ideia é subir alguns lances de escada entre um compromisso e outro”, complementa.
Essas pequenas movimentações espaçadas ao longo da rotina ajudam a fazer mais atividade física, mesmo que não estejamos falando de um exercício formal e estruturado.
E para quem pratica futebol?
O médico Jorge Pagura, da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), pondera que jogar futebol uma vez por semana “já é melhor do que não fazer nada”.
Mesmo assim, ele considera que é importante preparar o corpo ao longo dos outros dias, até para que o desempenho dentro das quatro linhas seja o melhor possível.
“É essencial que cada um escute o próprio corpo e avalie as informações que ele fornece. A dor, por exemplo, é um sinal de que é preciso parar e eventualmente passar por uma avaliação médica”, orienta.
“Não adianta querer jogar numa situação dessas, porque a tendência é que você acabe estourando os músculos ou piorando o quadro.”
Pagura também cita a importância de se manter bem hidratado, até para evitar lesões mais sérias.
Além dos “petiscos de exercício”, Laitano aponta que o jogador de futebol amador também precisa se engajar em outras atividades para fortalecer os músculos e manter o condicionamento físico.
“Caminhar de 7 a 10 mil passos por dia é um bom começo”, resume.
O fisiologista reforça a importância de começar aos poucos — e, se possível, com a orientação de um profissional de saúde.
“A recomendação é sempre iniciar de maneira progressiva. Da primeira vez, você pode jogar por 15 minutos e pedir para sair. No próximo jogo, aumentar para 20 minutos. Até que esteja confortável para disputar a partida por 45 ou 90 minutos”, sugere.
“Agora, quem começa já correndo uma hora e meia pode ter uma experiência no mínimo desagradável”, conclui.
Todas essas recomendações das entidades e dos especialistas ajudam a fugir de um dos maiores vilões da saúde no mundo moderno: o sedentarismo.
A OMS calcula que 2 milhões de mortes que acontecem todos os anos podem ser atribuídas à inatividade física, o que a torna uma das dez principais causas de óbitos no planeta.
Ainda segundo a entidade, entre 60% e 85% da população mundial têm um estilo de vida considerado sedentário.
E isso, por sua vez, está relacionado às mais variadas doenças, como problemas cardiovasculares, diabetes, obesidade, hipertensão, câncer, osteoporose, ansiedade e até depressão.