Pronunciamento machista e nada inteligente de vereador gera polêmica nas redes sociais

2015-04-10_190211
Vereador Leopoldo Benatti, o Raquete, líder do Republicanos na Câmara de Bento.

Semana após semana, a Câmara de Vereadores de Bento Gonçalves protagoniza pronunciamentos lastimáveis, geralmente, por pura ignorância. A polêmica da vez, na sessão da última segunda-feira (19), foi protagonizada pelo vereador Leopoldo Benatti, o Raquete (Republicanos). Frase dita em meio ao seu discurso, ele afirmou que as mulheres “estão ficando mais inteligentes”.
A frase infeliz do vereador apareceu após sua fala sobre candidaturas para Deputados de Bento Gonçalves.
Segundo Benatti, um candidato à Assembleia Legislativa ou Câmara dos Deputados é preciso fazer companha muito antes das eleições. “O cara vai fazer voto como se não sai de Bento. Tem que trabalhar dois anos antes se quer se eleger”, constata.
Seguindo em sua fala, Benatti citou o projeto de apoio às mulheres na política, do vereador Thiago Fabris (PP). “As mulheres, coitadas, eles pegam elas(sic) de última hora, 10 dias antes, faz (sic) elas concorrer, não dão nada pra elas, não dão um bairro para trabalhar, como vão eleger mulher? A gente tinha duas na Câmara, nem mais mulher tem na nossa Câmara”, indagou.
O vereador sugeriu que gestores públicos deveriam dar mais oportunidade para as mulheres em cargos de relevância. “Tem que chamar as mulheres, dar serviços para elas fazerem, para elas se promoverem”, analisa o vereador.
Até então um discurso interessante, porém, em seguida Raquete demonstrou todo machismo estrutural enraizado na nossa sociedade. “Vai chegar na próxima campanha e não vai ter mulheres, porque elas estão ficando inteligentes agora. Elas vão dizer que só ‘estão nos usando’”, finaliza.

Reação
De imediato, as redes sociais foram inundadas por repúdio com a frase do vereador. Uma das mulheres que se pronunciou sobre o assunto foi a advogada Vanessa Dal Ponte, pós-graduanda em direito da mulher, que aproveitou a postagem para cobrar uma sugestão de lei para combater o machismo com educação dentro da escola de sua autoria, que “não recebeu parecer favorável” do jurídico da Câmara de Vereadores.
“Não estamos ficando inteligentes, sempre fomos. Vocês que custaram a perceber e admitir. A fala infeliz foi seguida da tentativa de justificativa que usa o escudo das mulheres da família. Acho que toda retratação é importante, mas ela não pode ser a única coisa. O que a gente precisa é de uma mudança muito maior”, aponta.
A Lei de Combate ao Machismo e Valorização das Mulheres, proposta por Vanessa, defende o papel fundamental da educação na alteração de comportamentos discriminatórios.
Segundo a advogada, quanto mais cedo começar a educação para uma cultura não machista, mais cedo os meninos aprenderão a respeitar as meninas. “Temos que buscar práticas de igualdade entre gêneros, uma equidade entre feminino e masculino”, explica. No caso específico do pronunciamento, ela cita o machismo estrutural. “Eis aí o claro exemplo do machismo estrutural. Não que seja uma justificativa, mas é uma explicação. Então eu pergunto: até quando ensinaremos nossas crianças com esses comportamentos inadequados que mantém esse machismo institucionalizado?”, questiona a advogada.

Explicação
O vereador Raquete publicou nas redes sociais uma justificativa pela fala e afirma ter sido mal interpretado. “Na realidade eu estava elogiando as mulheres e tinha intenção de ajudá-las”, justifica. Segundo Benatti, ele quis dizer que, na verdade, estava cobrando uma maior participação feminina e comparou com candidaturas masculinas onde, segundo ele, os homens saem em vantagem, já que muitas vezes os candidatos a vereador na cidade já faziam parte da política local, ou são de cargos importantes da administração pública.
“Eu até peço desculpas pela minha colocação, não tem problema nenhum, mas minha intenção foi outra. As pessoas que mais me ajudam são mulheres, tenho carinho muito grande por mulher, tenho duas netas, duas noras, nunca faria nada contra mulher”, afirma
Lei de Combate ao Machismo
Ao contrário do que acontece em cidades importantes do Brasil, em Bento Gonçalves, o projeto idealizado por Vanessa Dal Ponte e apresentado pelo vereador David Da Rold (PP), com o objetivo de conscientização e educação ao combate ao machismo não teve parecer favorável no jurídico da Câmara e, por conta disso, não avançou. De acordo com Dal Rold, um projeto substitutivo será apresentado em breve. (Presumivelmente para dar mais esta atribuição ao Comdim, que, de órgão fiscalizador, passará também a (conflitantemente) a executor, diferentemente de outras cidades, que a lei proposta , já existe da maneira em que foi proposta pela advogada.)