— Temos identificado que os serviços de streaming estão aumentando seus preços e limitando o acesso compartilhado em mais de um domicílio, mas destaco alguns pontos: um domicílio pode ter mais de uma assinatura e optar por reduzir a quantidade de serviços. Além disso, a restrição de compartilhamento de telas afeta mais as televisões do que os celulares e nem todos os serviços implementaram essa restrição.
Alysson Portella, economista e pesquisador do Insper, avalia que o mercado de streaming pode estar enfrentando um momento de saturação no país. Ele lembra que, diferente da TV a cabo, o modelo de negócios do ainda não está consolidado. O setor, portanto, passa por um período de ajuste em busca de um modelo rentável e atrativo para o usuário.
— Talvez o consumidor esteja se dando conta que não consegue arcar com tantas plataformas. Ao mesmo tempo, as empresas aumentam as mensalidades pela necessidade de dar lucros. Esse é um período chave do mercado. É difícil saber para que lado ele vai, mas acho que os números estão indicando que ele está chegando talvez a uma espécie de saturação, acomodação — conclui.
O rendimento médio mensal real per capita nos domicílios que tinham acesso a serviço pago de streaming de vídeo era de R$ 2.731 no ano passado. É mais que o dobro daqueles que não usufruíam desse serviço (R$ 1.245).
O streaming está mais presente na região Sul, onde quase metade dos lares (49%) com TV também têm acesso ao serviço de vídeos pago. O Centro-Oeste aparece em segundo lugar, com 48,2% dos lares, seguido da região Sudeste, com 47,6%. Já as Regiões Norte (37,5%) e Nordeste (28,2%) apresentaram os percentuais mais baixos.
Segundo o IBGE, todas as regiões tiveram quedas na taxa na passagem de um ano para o outro. As mudanças mais expressivas foram a redução de 280 mil domicílios (queda de 5%) no Nordeste e o aumento de 283 mil domicílios (alta de 1,9%) no Sudeste.
TV por assinatura perde espaço
A TV por assinatura continua perdendo espaço nas casas brasileiras, segundo a pesquisa. Um quarto (25,2%) dos domicílios com TV (ou 18,6 milhões deles) tinham acesso a canais pagos em 2023. Esse percentual era de 27,7% em 2022 e já chegou a ser de 33,7% em 2016, primeiro ano do levantamento.
Entre os motivos para a não-contratação da TV a cabo, 54% dos moradores disseram não ter interesse pelo serviço e 34% relataram que não consideram adquirir por considerá-lo caro. Juntos, esses dois motivos foram os mais indicados, abrangendo 88,9% desses domicílios.
Apenas 9,5% dos entrevistados relataram que não tinham TV por assinatura em casa porque substituíam o serviço pelos vídeos (inclusive de programas, filmes ou séries) acessados pela Internet, incluindo o streaming.
O Sudeste continua sendo a região com maior percentual de lares com TV a cabo (32,4%), enquanto o Nordeste segue com o menor (14,2%). Todas as regiões tiveram redução na participação da TV por assinatura entre 2022 e 2023.
Apesar da contínua redução da presença da TV a cabo, os números da pesquisa mostram que ainda é comum famílias que acumulem os dois tipos de serviços (TV por assinatura e streaming). Dentre os domicílios que tinham acesso a serviço pago de streaming de vídeo, 39,5% também possuíam acesso a canais pagos de TV.
A renda pode ser um dos fatores para a manutenção dos dois serviços ao mesmo tempo. O rendimento média mensal per capita dos domicílios que tinham tanto o acesso pago a streaming de vídeo quanto aos canais fechados de televisão foi de R$ 3.603.
A pesquisa também revela que têm crescido o movimento de domicílios que utilizam apenas plataformas de streaming para assistir filmes e séries e deixam de ter canais de televisão em casa. Segundo o IBGE, 6,1% dos que tinham acesso a streaming não tinham acesso a TV aberta ou TV a cabo no ano passado. Esse percentual era de 4,7% em 2022.
A presença do aparelho de televisão em casa é um movimento que se observa desde 2016, ano em que o IBGE iniciou o levantamento. O instituto não pergunta o motivo dos moradores do domicílio não terem televisão em casa, mas os pesquisadores avaliam que a perda de interesse pode ser um dos fatores.
— Talvez o interesse possa estar diminuindo. É uma coisa gradual, que acontece ano a ano desde 2016 e de forma lenta — diz Gustavo Geaquinto, analista da Pnad TIC.
Outra possibilidade é que as pessoas estão utilizando outras telas, como o celular, para assistir à televisão, acrescenta Leonardo Quesada, também analista da pesquisa.