Pão: dá para comer sem medo

2015-04-10_190211

Mesmo sendo demonizado, esse alimento se mantém em alta e vem se reinventando em receitas mais saudáveis. Tem gente até que começou a prepará-lo em casa

Farinha, água, fermento e sal. Você só precisa de quatro ingredientes para fazer um belo pão — algo que nossos ancestrais descobriram há coisa de 6 mil anos. Se considerar o tipo ázimo, não fermentado, a receita pode ter até 20 mil anos.Além do mais  ele está longe de ser símbolo de uma alimentação desajustada. Italianos, franceses e povos de países do Oriente Médio são grandes comedores de pão. E eles têm menos problemas de saúde do que outras populações com médias bem menores de consumo.
Ainda assim, a onda da low carb, dieta com baixa ingestão de fontes de carboidratos, angariou vários adeptos. Quem nunca viu um amigo ou familiar fugir de pães, massas e arroz para emagrecer? Na maioria das vezes, cortes assim levam a uma redução na ingestão calórica e, consequentemente, à perda de peso.Ocorre que isso não é sinal de sucesso. Após um tempo seguindo um cardápio tão restritivo, a tendência é voltar ao padrão (ou seja, ao peso) anterior. Em vez de focar em um grupo alimentar, o ideal é buscar mudar o estilo de vida. Os resultados demoram mais a aparecer, mas são realmente duradouros.

O pão dentro de uma rotina saudável e balanceada
Para além do emagrecimento, há quem enxergue a exclusão de pães e afins como solução para domar picos de açúcar no sangue e baixar o risco de diabetes e doenças do coração. “Mas, até o momento, não há evidências de que a redução exagerada de carboidratos faça realmente bem à saúde”, afirma a nutricionista Débora Bohnen Guimarães, coordenadora do Departamento de Nutrição da Sociedade Brasileira de Diabetes. O ponto-chave é a proporção. Porque, de fato, o excesso traz problemas; Quem viu de perto os dois lados da moeda foi a pesquisadora Sara Seidelmann, em um estudo conduzido no Brigham and Women’s Hospital, nos Estados Unidos, e publicado no respeitado periódico científico The Lancet.

Após analisar 15 428 americanos e cerca de 432 mil indivíduos de mais de 20 países, ela constatou que tanto a alta (70% ou mais) como a baixa (40% ou menos) porcentagem de calorias vindas de fontes de carboidratos elevavam a mortalidade. O menor risco ficou atrelado a um consumo de 50 a 55% de calorias representadas pelo nutriente — valor sugerido há tempos pelos especialistas.
Sara ressalta, porém, que, se as dietas pobres em carboidratos contam com proteínas e gorduras de origem vegetal como substitutas, o risco de morrer acaba sendo menor do que quando a troca é por proteínas e gorduras animais (carne, ovo…). De qualquer maneira, o recado é que ninguém precisa dar adeus ao pãozinho de cada manhã. “Esse alimento faz parte da dieta humana há dezenas de milhares de anos e pode integrar uma rotina saudável”, tranquiliza a estudiosa. Para ela, o pulo do gato é focar em versões ricas em grãos integrais, que fornecem fibras. “Elas costumam ter índice glicêmico baixo e ajudar na saciedade”, concorda Débora.

Por falar em índice glicêmico (ou IG, para os mais íntimos), que é a velocidade com que o alimento é convertido em açúcar e liberado na circulação, Luciana Lancha frisa que esse conceito não precisa ser levado a ferro e fogo pela população em geral. “Embora o pão branco tenho um alto IG, ele não é consumido puro”, explica. Quando o associamos a um queijo, por exemplo, o açúcar demora mais a dar as caras no sangue, porque ambos devem ser digeridos e absorvidos. “O organismo não pega o pão primeiro e depois o queijo. Vai tudo junto”, diz Luciana.
Apesar de não ser um sacrilégio sucumbir ao pão branco, o integral realmente soma mais vantagens. “É que o refinamento leva embora fibras, nutrientes e fitoquímicos”, resume Isabela.

O que considerar na hora da compra
No pacote: é interessante que a farinha integral, com mais fibras, apareça em primeiro lugar na lista de ingredientes, que é em ordem decrescente. Compare os teores de sódio e gorduras — em um pão com castanhas, é natural ter mais desse nutriente. Prefira os produtos com receitas mais simples, sem mil ingredientes.
Pão branco: fornece energia de forma mais rápida. Por isso, pode ser indicado no pós-treino para acelerar a recuperação. Porém, no processo de refinamento, perde fibras, vitaminas e minerais. E os picos de glicose facilitam o ganho de peso.
Pão integral: preserva mais nutrientes e fibras, que contribuem para a saciedade e auxiliam o trânsito intestinal. No entanto, nem todo mundo curte de cara o sabor do pão 100% integral. Uma boa é começar aos poucos, com misturas de farinhas.