O medo do escuro na hora de dormir é algo que pode acontecer com muitas crianças em determinado momento da infância. A forma como os pais lidam com estes medos afetam a capacidade da criança adormecer e a qualidade do seu sono. A explicação para esta fase prende-se, acima de tudo, com o fato da capacidade imaginativa das crianças ser estimulada ao máximo durante a infância, atingindo níveis praticamente ilimitados e irrefreáveis.
Trata-se de uma fase normal de desenvolvimento que, por vezes, se prolonga por mais tempo do esperado, iniciando-se por volta dos 2 anos e estendendo-se até aos 8 ou 9 anos de idade. Durante o período, os pequenos absorvem tudo o que os rodeia, a um ritmo alucinante e, consequentemente, a sua capacidade de imaginação é gigante – o que significa que agora ela é capaz de imaginar coisas novas e assustadoras.
Medo de escuro
E considerando que boa parte do dia das crianças é passado imersa em jogos fantasiosos (na companhia de dragões, dinossauros e vilões), pode ser difícil desligar desse mundo na hora de dormir. Até mesmo coisas familiares que nunca foram assustadoras antes, tais como o seu quarto, de repente podem parecer tenebrosas, quando sobrepostas com o pano de fundo inventivo que a criança evocou e desenvolveu ao longo do dia inteiro.
Além disso, nesta fase, os mais pequenos ainda estão a tentar aprender a traçar uma linha de separação entre a realidade e a fantasia, pelo que a possibilidade de uma criatura invisível estar debaixo da sua cama não parece minimamente inusitada. Adicionalmente, as crianças em idade pré-escolar começam a perceber que existem coisas e pessoas no mundo que podem fazer-lhes mal e não é raro quererem fechar janelas ou perguntar “e se os ladrões entrarem na nossa casa?”. A função dos adultos é ajudá-las a compreender a diferença entre um perigo real (aceitar boleia de um desconhecido) e algo que apenas parece um perigo (a “bruxa” no espaço vazio entre a cama e a parede).
Manifestações
As manifestações clássicas dos medos noturnos infantis incluem: medo do escuro, medo de seres sobrenaturais, medo de dormir sozinho, medo das sombras e medo de ruídos. Face a um ou mais medos como estes, as crianças podem recusar-se a ir dormir, ou arranjar os pretextos mais descabidos para retardar ao máximo a hora de enfrentar a cama.
Outras apresentarão choros compulsivos ou sinais de ansiedade, tais como tremores e suores frios. Urinar na cama também pode ser um sintoma de medos noturnos. No entanto, é importante ter em conta que cada criança lida com o medo do escuro de forma distinta, pelo que outras manifestações são perfeitamente possíveis.
Estratégias
Em primeiro lugar, é preciso identificar a causa do medo da criança, ouvindo-a com atenção e questionando acerca do motivo do medo. Evite brincar com ou descartar os medos da criança, pois, aquilo que parece engraçado ou trivial a um adulto, tem contornos extremamente reais aos olhos dos mais pequenos.
Neste aspeto, nunca se deve apoiar as crenças das crianças, mas sim negar e destruí-las. Por exemplo, os pais que afirmam que irão “matar” o lobisomem estão simplesmente a confirmar a existência de tal criatura, o que desassossega a criança e lhe retira conforto. Ao invés disso, mostre que não existe o monstro.
É necessário tranquilizar os pequenos e evitar que eles retornem a dormir no quarto dos pais. Seja firme e os apoie para ficarem nas suas camas. Fazer com que a criança permaneça na sua cama é extremamente importante, pois só assim ela aprenderá a confiar que o quarto é um local seguro durante a noite. Em última instância, o adulto pode juntar-se à criança no quarto dela, evitando o inverso. Caso a criança acorde durante a noite e chame os pais, deve-se perguntar novamente qual é o problema e, de seguida, dizer-lhe que está tudo bem, que ela está segura e nada vai incomodá-la, pelo que ambos podem dormir confortavelmente nas suas próprias camas.
Outra opção consiste em dizer à criança que será vigiada por um adulto, espreitando o seu quarto em intervalos temporais progressivamente maiores (inicialmente de 5 em 5 minutos, depois de 15 em 15 minutos, e assim sucessivamente).Esta estratégia assegura a criança de que alguém irá verificar que está efetivamente bem.
Outras dicas
Os momentos que antecedem a hora de dormir devem ser felizes e tranquilos. Nos 30 a 60 minutos anteriores à hora de deitar, a criança não deve ser exposta a programas televisivos com muita ação ou de terror; nem a jogos na tablete ou telefone; evitando-se ainda histórias assustadoras/perturbadoras ou outros estímulos inquietantes.
Devem ser permitidos objetos que projetem a sensação de segurança na pequenada. De modo a proporcionar calma e conforto à criança, é importante deixá-la dormir com o seu peluche, brinquedo ou cobertor favorito (ou mais do que um ou todos se isso ajudar!). Caso ela queira a luz acesa, é recomendável uma luz de presença que pode ficar ligada na sua configuração mais fraca dentro do próprio quarto. A porta do quarto também pode e deve ficar aberta.