Em todo o mundo, milhões de pessoas trabalham à noite. Há poucos dados oficiais, mas de acordo com um estudo realizado pela Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, estima-se que de 7% a 15% da força de trabalho em países industrializados esteja envolvida de alguma forma com trabalhos noturnos.
E, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o trabalho noturno é uma das prováveis causas de câncer, devido à ruptura do ritmo circadiano – período de aproximadamente 24 horas em que se baseia o ciclo biológico.
A origem
Desde que inventaram a lâmpada, fomos capazes de virar a noite a um custo baixo, e o sono foi a primeira vítima”, explica Russell Foster, professor da Universidade de Oxford, no Reino Unido, especialista em sono.
“A grande questão é que temos esse relógio biológico interno que é ajustado pelo mundo externo como resultado da exposição ao ciclo claridade / escuridão”, acrescenta.
Segundo ele, os trabalhadores noturnos são expostos a níveis reduzidos de luz durante o turno da noite, mas como se deparam com a intensa claridade natural da manhã na jornada de volta para casa, o relógio biológico interno fica travado no padrão de claro/escuro dos trabalhadores diurnos.
“Então, você passa constantemente por cima do impulso biológico que diz que você deveria estar dormindo.”
E não importa se você estiver trabalhando em turnos noturnos regularmente, acrescenta Foster. A menos que você consiga se esconder completamente da claridade, após terminar de trabalhar e o sol começar a raiar.
Efeitos no organismo
Mas que tipo de efeitos o trabalho noturno pode ter no organismo?
Foster explica que a ato de passar por cima do relógio biológico faz com que você ative seu “eixo de estresse”, que é como o corpo reage em uma situação de luta ou fuga.
“Estamos esguichando glicose na circulação, estamos aumentando a pressão arterial, estamos gerando alerta para lidar com ameaças potenciais e, claro, não deveria ser o caso, estamos apenas trabalhando”, afirma o especialista.
Ele alerta que níveis continuados de estresse podem levar a doenças cardiovasculares ou distúrbios metabólicos, como diabetes tipo 2.
O estresse também pode suprimir o sistema imunológico, o que pode ser a origem de uma incidência maior de câncer colorretal e de mama.
Esses são os possíveis resultados em longo prazo, mas a privação de sono também tem consequências mais imediatas.
O efeito mais evidente é o cansaço. A dificuldade de assimilar informações corretamente, os lapsos em captar sinais sociais e a perda de empatia são alguns sintomas.
Como qualquer pessoa que já trabalhou à noite sabe, não é fácil ter acesso a alimentos saudáveis.
E, curiosamente, pesquisas mostram que o consumo de carboidratos pode aumentar de 35% a 40% após apenas quatro ou cinco dias de sono reduzido, devido à elevação do nível de grelina, hormônio responsável por estimular o apetite.
Ele faz com que a gente sinta fome, incentivando o consumo de açúcar e carboidrato.
Em última análise, isso não é bom para obesidade ou algumas condições, como diabetes tipo 2.