Os 6 erros mais comuns na estrutura da redação do Enem, segundo quem corrige simulados

2015-04-10_190211

O peso que ela tem na nota do Enem e as dificuldades de muitos alunos com a escrita fazem com que a redação seja uma das partes mais temidas pelos estudantes que se preparam para o primeiro dia do Exame Nacional do Ensino Médio, marcado para o dia 3 de novembro.

Em linhas gerais, é bom lembrar que ela é avaliada sob cinco competências, cada uma valendo de zero a 200 pontos: domínio da escrita formal; compreensão e desenvolvimento da proposta (tema); saber selecionar, relacionar, organizar e interpretar argumentos, informações e opiniões na defesa de um ponto de vista; demonstrar ter conhecimento dos mecanismos linguísticos para construir uma argumentação; e saber elaborar uma proposta de intervenção (conclusão) para o problema abordado no tema, sempre respeitando os direitos humanos.

Foram ouvidos três especialistas que corrigem simulados de redação em cursinhos e projetos preparatórios voltados a jovens de escolas públicas, e ouviu deles quais são os erros comuns de estrutura (para além de erros de ortografia, gramática e pontuação) que levam à perda de pontos nos textos.

Veja, também, algumas precauções para ajudar na escrita de uma redação que alcance a nota mil.

Erro 1: Não construir uma linha de argumentação

É muito comum que as redações se “percam” ao longo do texto, sem seguir a linha exigida pelo Enem–de introdução, desenvolvimento do texto e conclusão, diz Eva Albuquerque, professora de redação do Cursinho da Poli, em São Paulo.

Nesses casos, falta o que ela chama de um “projeto de texto”: o aluno não tem claro como vai abordar o tema, quais argumentos vai usar e qual proposta de intervenção (ou seja, como acha que o problema precisa ser atacado).

Como se precaver: Primeiro, lembre-se de que a redação tem que ter começo, meio e fim, interconectados entre si–em outras palavras, uma introdução que apresente uma tese bem elaborada, uma boa argumentação com dados factuais e referências, e uma conclusão, embasada pelos dados apresentados no próprio texto, diz Fabiano Gonçalves, gerente de operações educacionais do Instituto Proa.

Eva Albuquerque sugere também dedicar alguns minutos, antes mesmo de começar o rascunho, a planejar o esqueleto de seu texto – assim como um arquiteto planeja a casa que vai construir: como vou entrar no tema? Quais meus argumentos principais e secundários? Qual vai ser a minha conclusão?

Uma grande dificuldade dos jovens é justamente ter repertório para construir uma boa argumentação, interpretar dados e colocar informações em contexto, afirma Fabiano Gonçalves.

Esse repertório vem de nossas experiências pessoais e culturais: os livros que lemos, filmes, passeios em museus, notícias que acompanhamos, os debates que temos com os amigos, familiares e professores. E, também, nossos conhecimentos das demais disciplinas, como história, geografia e até mesmo a matemática.

Quanto mais o jovem tiver dessa “bagagem”, mais fácil vai ser acessar informações na cabeça para construir uma argumentação coerente e relevante na redação do Enem.

Gonçalves sugere também treinar antes o uso do tempo, cronometrando para escrever sobre um determinado tema dentro de uma hora, que é mais ou menos o tempo que se dedica à redação no dia do Enem.

O ideal, para quem puder, é fazer simulados que sejam corrigidos por pessoas que entendam as competências exigidas no Enem.

rro 2: Escrever em primeira pessoa

Fazer a redação em primeira pessoa (“eu”), escrever “acho que” ou “opino que”, ou fazer conclusões que não tenham nenhuma relação com os argumentos citados no texto é motivo comum de perda de pontos na redação.

“Isso é visto como uma evidência de que o aluno não entende a estrutura das redações exigidas pelo Enem, que devem ser embasadas por dados e fatos”, explica Gonçalves.

Como se precaver: Diferenciar fatos de opiniões é um bom começo para não se perder, diz Albuquerque.

“A proposta de intervenção (ou seja, a conclusão) é algo pessoal, mas não pode ser escrita em primeira pessoa, porque ela é embasada pelas referências (de argumento) do texto. Se minha conclusão é de que ‘sou contra o Exército nas ruas’, tenho de dizer que isso pode ser ruim por tais e tais motivos, mas não ‘porque eu acho’.”

Erro 3: Fugir do tema proposto

Quando o aluno não entende bem o tema proposto pelo Enem ou quando se dispersa ao longo do texto, é comum que as conclusões não sejam consistentes com o que os corretores esperam.

Albuquerque conta que, no Enem de 2017, cujo tema da redação eram os “desafios para a formação educacional de surdos no Brasil”, alguns alunos se perderam em assuntos relacionados, mas diferentes, como a educação de cadeirantes.

Como se precaver: O jeito é ficar muito atento, ao longo de todo o texto, e “puxar a si mesmo” para o tema central se você vir que começa a se dispersar dele.

“Cuidado para não tangenciar, que é estar próximo do tema, mas não falando do tema em si”, adverte Daniely do Nascimento, que já foi corretora do Enem e corretora voluntária no projeto Salvaguarda, que atende a jovens de escolas públicas em Ribeirão Preto (SP).

Erro 4: Repetir frases e ‘encher linguiça’

Corretores afirmam que muitos simulados contêm muitas frases, palavras e argumentos repetidos, que acrescentam pouca informação ao texto.

“Muitos alunos tentam encher linguiça, criar volume de linhas escritas, com frases genéricas que não dizem nada”, diz Fabiano Gonçalves, do Instituto Proa..

Como se precaver: Olhe para cada palavra e frase e se pergunte: ela agrega informação ao texto? Se você retirá-la e isso fizer pouca diferença no texto, é sinal de que ela não agrega valor à sua redação.

“Lembre-se de que o espaço previsto pelo Enem dá justo para apresentar o tema, falar sobre ele e daí apresentar uma conclusão”, diz Gonçalves.

Erro 5: Usar linguagem informal

A primeira competência exigida pelo Enem é o domínio da escrita formal. Mesmo assim, esse é um dos itens mais descumpridos pelos alunos, afirma Daniely do Nascimento.

“É muito comum que os jovens escrevam abreviações, como ‘vc’ e ‘pq’, porque estão acostumados a escrever assim na internet”, diz ela. Mas gírias e expressões que usamos apenas na linguagem oral (e nas redes sociais) são garantia de pontos perdidos na redação.

Como se precaver: Nada de abreviações, e evite também palavras usadas na linguagem oral, como “ficou ligado”, “bem”, “você”, e expressões variantes, “bem, para começar”, “de repente você vê que…”.

Mas, atenção: isso não significa usar palavras difíceis, apenas usar a norma culta.

“O aluno que tenta ser muito rebuscado no texto acaba se atrapalhando ainda mais, porque ele não domina aquela linguagem”, diz Eva Albuquerque. “O ideal é ser objetivo e claro.”

Erro 6: Fazer um texto desorganizado

Frases incompletas, em que a informação não fica clara para o corretor, ou parágrafos soltos, que não tenham conexão com o que veio antes ou vem depois, podem levar a perdas de pontos em duas das cinco competências exigidas pelo Enem, adverte Nascimento.

Isso porque a redação acaba não tendo coesão.

Como se precaver: Elaborar um “projeto de texto”, como o sugerido no item 1 por Eva Albuquerque, pode ajudar a evitar essa desorganização.

A professora do Cursinho da Poli afirma, ainda, que, para alunos que tenham dificuldade em iniciar um texto, uma boa estratégia é citar alguma referência histórica ou obra cultural relacionada ao tema da redação.

Por exemplo, se o tema é violência urbana, pode-se abrir citando algum episódio recente de bala perdida que tenha causado comoção, algum caso histórico no Brasil ou mesmo alguma frase relevante de livro, filme ou seriado que aborde o mesmo assunto.

Mas é preciso ter cuidado para não cair em uma “enrascada”, diz Nascimento. “Às vezes os alunos citam autores só por citar, sem ter nenhuma conexão com a argumentação do texto.”

Para a professora, o melhor jeito de ter um texto organizado é praticar antes. “Não dá para ficar um ano sem escrever e deixar para fazê-lo só no dia do Enem. Escrita é treino – é escrever e ler bastante para além das redes sociais”, diz Nascimento.