O uso incorreto do protetor solar pode causar conjuntivite tóxica

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Quem nunca sentiu uma ardência nos olhos quando está na praia ou na piscina? Essa sensação normalmente vem acompanhada de olhos vermelhos, lacrimejamento e melhora e pode sinalizar uma conjuntivite tóxica.

Esse quadro é bastante comum e ocorre quando há uma agressão direta aos olhos causada por um agente externo: pode ser um colírio de uso contínuo, o protetor solar, maquiagens e até mesmo o vapor do spray que é aplicado no cabelo.

Em linhas gerais, a conjuntivite tóxica é uma inflamação da conjuntiva —uma membrana fina e transparente que recobre a parte branca dos olhos (esclera) e que tem como função justamente proteger a superfície ocular de agentes externos e manter a lubrificação dos olhos, evitando o seu ressecamento.

A conjuntivite tóxica é uma agressão que acontece tanto na córnea quanto na conjuntiva. Ela causa um quadro muito semelhante às conjuntivites de outras etiologias, sejam elas virais ou bacterianas. A principal diferença é que existe esse fator causal de contato de alguma substância específica no olho.Adriano Biondi, oftalmologista do Hospital Israelita Albert Einstein

Segundo Biondi, a conjuntivite tóxica se confunde um pouco com as conjuntivites alérgicas e infecciosas causadas por vírus —ela apresenta um quadro um pouco mais irritativo, as diárias ficam um pouco mais inchadas, o olho fica avermelhado, com lacrimejamento aquoso que pode atrapalhar a visão e causar uma ceratite (inflamação na córnea).

Ela é diferente da conjuntivite bacteriana, em que existe uma especificidade purulenta mais exuberante. O médico explica que a conjuntivite tóxica não é contagiosa, já que é causada por um agente químico e não por um microrganismo.

No verão, os casos costumam surgir com mais frequência porque o excesso de suor acaba levando para dentro dos olhos partículas de produtos que são usados ​​no rosto (e até vapores desses produtos), especialmente os filtros solares.

Um levantamento realizado pelo Instituto Penido Burnier, com base nos prontuários de 270 pacientes que apresentaram conjuntivite no verão, indicou que 20% desses casos eram de conjuntivite tóxica.

Entre eles, 46% foram causados ​​pelo contato do protetor solar nos olhos, 39% pelo bronzeador e cremes faciais, e 15% por maquiagens e cola de acessórios postiços.

Não é para deixar de usar protetor solar no rosto, muito pelo contrário. A proteção solar é fundamental.

A recomendação é usar o protetor de forma correta, evitando a aplicação em excesso ao redor dos olhos para que o produto não escorra com o suor.

“Ao usar o protetor solar no rosto, espalhe protetor e não deixe acumular nos supercílios porque isso pode facilitar que escorra e entre em contato com os olhos. O uso de filtros solares infantis também é uma boa opção para proteção do rosto porque não possui propriedade hoje em dia também já existem filtros oftalmologicamente recomendados”, disse o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto.

Ele destaca ainda a importância de usar barreiras físicas para proteção, como usar chapéu, bandana e óculos que possuam filtro UVA e UVB nas lentes.

Diagnóstico e tratamento

O diagnóstico da conjuntivite tóxica é clínico, feito com base no relato do paciente e no exame em consultório. Durante a avaliação, o médico consegue identificar características mais específicas, sem a necessidade de um exame mais específico.

Uma vez apresentado, o tratamento é basicamente isolar o agente causador — por isso, é importante uma avaliação médica para direcionar o tratamento corretamente.

A principal recomendação é lavar o rosto abundantemente com água fria nos casos de proteção nos olhos durante os banhos de sol. Para um alívio maior, pessoas mais sensíveis podem aplicar compressas frias com água limpa, fresca, gelada —pode ser água mineral ou até mesmo soro fisiológico.

Se evoluir para uma conjuntivite alérgica, é preciso tratar com medicamentos, sempre com orientação médica. “Os colírios têm venda livre, mas não devem ser usados ​​nos olhos por conta própria. Alguns colírios possuem corticóides e o uso prolongado pode levar ao glaucoma ou catarata”, alertou Queiroz Neto.

Uso recorrente de colírios

Outra causa muito comum da conjuntivite tóxica é o uso específico de alguns colírios indicados para o tratamento de glaucoma —alguns deles possuem substâncias que podem se tornar irritativas devido ao uso prolongado.

Se essa for uma causa de conjuntivite, a recomendação é suspender o uso e substituir por outro que não cause os sintomas da doença.

“Para evitar esse tipo de ocorrência a olho nu, alguns laboratórios criaram colírios sem preservativos [as substâncias que levam à proteção] para quem precisa de uso regular e externo, especialmente pessoas com olho seco e que usam lágrimas artificiais. Opções de lágrimas artificiais que não carregam nessas composições preservativas e isso faz com que o uso prolongado e repetido não cause conjuntivite tóxica”, finalizou Biondi.