Pesquisadores concluíram que subvariantes da Ômicron conseguem escapar de anticorpos gerados por infecção prévia ou por três doses dos imunizantes
A alta de casos de Covid-19 no Brasil e em outros países leva a uma série de dúvidas, uma vez que grande parte da população está vacinada ou foi contaminada recentemente durante a primeira onda da variante Ômicron, provocada pela BA.1, em janeiro. No entanto, a ocorrência cada vez mais comum de reinfecções pode ser explicada pela prevalência de novas versões do vírus: as sublinhagens BA.4 e BA.5, que crescem no mundo.
Um novo estudo, publicado na revista científica The Lancet Infectious Diseases, mostra que as subvariantes conseguem escapar dos anticorpos gerados tanto pelas infecções anteriores, como as durante os primeiros meses do ano, como pelos imunizantes. Porém, reforça que as vacinas continuam a proteger contra as formas graves da doença.
O trabalho, conduzido por pesquisadores alemães, se soma a outras evidências publicadas nas últimas semanas, nos periódicos Nature e New England Journal of Medicine, que também constataram a baixa eficiência dos anticorpos em neutralizar as sublinhagens atuais. Em todos os estudos, os dados foram obtidos por meio da análises de amostras em laboratório.
Segundo a última análise do Instituto Todos pela Saúde (ITpS), feita com dados dos laboratórios Dasa e DB Molecular, a proporção de casos prováveis da BA.4 e BA.5 no Brasil passou de 44% para 79,3% durante o mês de junho. As demais amostras são da sublinhagem BA.2. No mesmo período, a positividade da Covid-19 – percentual dos testes com resultado positivo – subiu de 38,9% para 49,1%.
Novo estudo
Os responsáveis pelo estudo da Lancet avaliaram a ação dos anticorpos após infecção pela BA.1 e BA.2 – subvariantes que circulavam no início do ano –, após a aplicação de três doses da vacina da Pfizer/BioNTech e também após uma combinação dos imunizantes com a contaminação. A última, chamada de imunidade híbrida, demonstrou a maior atividade de neutralização do vírus entre as três, embora seja menor em comparação à observada para versões anteriores do patógeno.
“A robusta evasão da neutralização pela BA.4 e BA.5 indica que estas são variantes de evasão da resposta imune e que são mais aptas que a BA.1 ou a BA.2 para se espalhar em populações vacinadas, em (pessoas durante) recuperação da (infecção pela) Ômicron, ou ambos”, escreveram os pesquisadores.
Ainda assim, eles ressaltam que os imunizantes conferem proteção contra hospitalização e óbito pela Covid-19 – eficácia que pode ser observada com o crescimento da curva de internações e mortes em ritmo consideravelmente menor que o número de casos da doença.
“A vacinação ainda protegerá contra doenças graves induzidas por essas variantes, mas a proteção pode ser um pouco menos eficiente do que a medida para variantes circulantes anteriormente”, afirma Markus Hoffmann, um dos autores do estudo, em comunicado.
Vacinas para a Ômicron e anticorpos monoclonais
Essa menor proteção leva diversas farmacêuticas a desenvolverem novas versões dos imunizantes, principal estratégia de combate ao vírus. Recentemente, a Pfizer/BioNTech e a Moderna divulgaram dados de eficácia de uma nova dose de reforço feita especificamente para a variante Ômicron.
As aplicações aumentaram de 8 a 19 vezes o número de anticorpos neutralizantes para a subvariante BA.1, mas em ambas as formulações o crescimento foi cerca de três vezes menor para as sublinhagens BA.4 e BA.5.
Ainda assim, os laboratórios defendem que se trata de uma opção eficiente para as versões atuais da Ômicron, e buscam um aval da FDA para darem início à distribuição a partir de setembro.
Além das vacinas, os cientistas do estudo publicado na Lancet testaram ainda a eficiência de terapias com anticorpos monoclonais utilizados hoje em neutralizar as novas subvariantes. Entre dez tratamentos analisados, apenas um, o Bebtelovimab, da farmacêutica Eli Lilly, conseguiu bloquear a infecção pela BA.4 e BA.5. A terapia foi aprovada pela Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora dos EUA, em fevereiro para uso emergencial, mas ainda não recebeu o aval no Brasil.