Pesquisa do Instituto do Coração (Incor) aponta que falta de cuidado com a higiene bocal está diretamente relacionada a riscos de infecção
Uma pesquisa do Instituto do Coração (Incor), do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), concluiu que a falta de cuidado com a higiene bucal está diretamente relacionada ao risco de doença no coração.
As enfermidades odontológicas que mais levam a problemas cardíacos são cárie dentária, inflamações da gengiva (doença periodontal) e infecções nos canais das raízes dentárias (periodontite apical).
O estudo mostrou que o Streptococcus viridans é o microrganismo mais encontrado na boca, representando 96% dos casos. Segundo a pesquisa do Incor, 57% dos pacientes tinham cárie; 45% apresentavam periodontite apical; 77% tinham risco moderado a alto para inflamação da gengiva; e 78% dos pacientes tinham perda dentária.
Endocardite infecciosa
Todas essas complicações são fatores de risco para a endocardite infecciosa, que atinge a camada interna do coração.
Isso porque, por meio de sangramento gengival, lesão de cárie ou pequena lesão bucal, as bactérias da boca podem entrar na corrente sanguínea e se alojar nos defeitos da parte interna do coração, causando assim a infecção.
Pesquisa do Incor
O levantamento abrangeu 567 casos de endocardite em pacientes internados no InCor entre 2009 e 2019, sendo 206 casos causados por bactérias da boca.
Desses 206, cem casos foram avaliados pela pesquisa. De acordo com o estudo, 70% eram homens com média de 45 anos de idade que não mantinham higiene bucal adequada.
Renda
De acordo com a autora do estudo e cirurgiã dentista do InCor, Tânia Montano, em países com alta renda, a endocardite infecciosa tem se mostrado, nas últimas duas décadas, como uma doença típica do envelhecimento.
Nessas regiões, cada vez menos, a infecção do coração está relacionada às bactérias orais. Já em em países de baixa renda, como o Brasil, a endocardite afeta pessoas mais jovens e está relacionada a problemas bucais.
“O que revela a falta de acesso aos cuidados médico e odontológico, carência de informações sobre higiene oral, dificuldade de aquisição de escova e fio dental, e ausência de saneamento básico. Tudo isso também associado ao baixo grau de escolaridade, conforme 88% da nossa amostra de pacientes não concluíram os estudos”, explicou a autora.