Jovem bailarina que iniciou no Projeto Coração Cidadão conquista os palcos da Coreia do Sul

2015-04-10_190211
Andreza Borges estudou por sete anos na Escola do Teatro Bolshoi, em Santa Catarina, e no final de maio deste ano foi morar na Ásia

Andreza Borges estudou por sete anos na escola de Santa Catarina, e no final de maio deste ano foi morar na Ásia

 

Quais os limites de uma jovem de 19 anos que foi buscar novos desafios na Coreia do Sul? Talvez o limite esteja na ponta da sapatilha, na dança que faz Andreza Borges voar entre a nova geração de dançarinos brasileiros. A jovem nasceu em Uruguaiana, mas foi em Bento Gonçalves que morou com a família. Ela, que desde o dia 29 de maio mora na Ilha de Jeju, ao sul da península da Coreia, não esconde a paixão que tem pela arte do ballet. O encontro de Andreza com o mundo da dança começou ainda na infância. Foi aos sete anos que ela começou a fazer aulas de ballet no Projeto Coração Cidadão, em Bento, que tem o objetivo de proporcionar aulas gratuitas para crianças e adolescentes que se interessam por dança e arte em geral.
“O Projeto Coração Cidadão foi o meu ponto de partida, foi lá onde dei meus primeiros passos, e hoje ver o que conquistei me deixa muito feliz, pois sei que isso pode inspirar outras crianças e adolescentes a não desistirem jamais de seus sonhos”, diz. Foi com o amor descrito nas palavras de Andreza, que despertou o interesse de profissionais renomados. Ainda em 2010 em um concurso que aconteceu em São Leopoldo, um dos professores da escola Bolshoi, de Santa Catarina, indicou a jovem para fazer teste na escola, sendo aprovada ainda naquele ano.
Andreza lembra com saudades dos tempos em que estudou na principal escola de ballet do Brasil. Neste ano ela recebeu o diploma de técnica em dança, após sete anos estudando na escola.
“A escola Bolshoi em Joinville é a única escola do teatro Bolshoi fora da Rússia, então a estrutura da escola é maravilhosa , professores russos , e uma carga horária digna de uma escola profissional. O curso dura 8 anos, porém eu fui aprovada para a segunda série da escola, então eu fiquei 7 anos na escola Bolshoi. Tínhamos que ter boas notas na escola de ensino regular, sempre em turno contrário ao Bolshoi e à noite muitos ensaios, para aprimorar ainda mais o que aprendíamos nas aulas”, recorda.
Os tempos em que Andreza morou em Joinville serviu como uma preparação intensa para que, hoje, aos 19 anos, dance em alto nível na Coreia do Sul. Durante todos esses anos morando em Santa Catarina, o apoio da família foi fundamental para o desenvolvimento pessoal e profissional de jovem.
“Eu morava com minha mãe e meu irmão em Joinville, meu pai ficou no Rio Grande do Sul por conta do trabalho, então o que foi bem difícil era a saudade da família. Mas, o que me fortalecia era receber o apoio e incentivo diário deles. Mas a maior dificuldade, foi a cobrança que nos é colocada por estar em uma escola com nível profissional tão alto, mas que agora vejo que valeu a pena”, se emociona.

O convite para morar na Coreia
A bailarina que começa de forma brilhante a vida profissional fora do país trabalhava em Capão da Canoa quando recebeu o convite para residir na Coreia. “Desde fevereiro eu morava em Capão da Canoa, onde estava dando aula de ballet clássico e então num dia recebi uma ligação do diretor geral do Bolshoi, Pavel Kasarian. Ele havia me indicado para este trabalho na Coreia do Sul e a proposta foi inegável, pois eu, aos meus 19 anos estou realizando um grande sonho que é levar minha arte para fora do Brasil”, conta.

A adaptação
A pouca idade da jovem que aceitou o desafio de se aventurar na Ásia não impede que os sonhos floresçam ainda mais. Morando com o diretor da escola onde ensina ballet, Andreza descobre um estilo de vida totalmente distinto na Coréia, porém, conforme ela mesmo diz, de muito aprendizado.
“Morar na Coreia é uma aventura e tanto, dia a dia descobrindo coisas novas , comidas diferentes , cultura diferente. Mas aqui eles são muito disciplinados e respeitosos com os mais velhos, isso pego muito de inspiração. O fuso horário é de 12 horas em relação ao Brasil, então falar com a família e amigos as vezes é meio complicado mas a gente dá um jeito. Estou aprendendo o coreano, mas ministro as aulas no inglês com uma mescla de coreano, então é bem engraçado”, se diverte.
Os sonhos de Andreza ultrapassaram as fronteiras do Brasil, e devem ganhar voos ainda mais altos. “A princípio ficarei 6 meses aqui na Coreia, mas já tenho muitos planos futuros , um deles é poder abrir minha própria escola de dança, tenho esse sonho, e poder agregar a escola um projeto social , para oportunizar a várias crianças a mesma oportunidade que eu tive , e assim quem sabe mudar a história de cada um, pois eu acredito que muito além da dança , o ballet ensina disciplina, que é indispensável em qualquer profissão . Quero muito voltar para o Brasil e ensinar tudo o que eu estou aprendendo aqui, afinal quando a gente ensina a gente está aprendendo cada vez mais e mais”, projeta.

O conselho de Andreza
“Se eu pudesse dar um conselho para alguém, eu diria que jamais desista daquilo que enche seu coração de alegria, dificuldades no caminho irão existir mas use delas para lhe manter mais forte, e maduro. Quando a gente menos espera conquistamos coisas grandiosas, basta termos esperança de que todo o sonho vale a pena ser sonhado; é como uma sementinha , dia a pós dia sendo regada e uma hora estará pronta para colher”.

A professora
Por trás de uma grande bailarina sempre há um professor inspirador. No caso de Andreza não foi diferente. Deise Ceccagno, de 37 anos é professora de ballet desde 1996 e é uma das principais professoras de dança de Bento. Foi ela quem começou a ensinar os primeiros passos para a jovem.
“Ser professora da Andreza foi muito gratificante. Ela sempre foi muito dedicada e estudiosa, mesmo muito jovem era concentrada e super responsável com horários, ensaios, uniforme. E além disso, era muito querida por todas as colegas. Foi uma criança com muito talento, e fui percebendo que ela teria muita chance de seguir uma carreira na dança. Mas para isso era necessário sair de Bento”, diz.
Bento Gonçalves tem anualmente o Bento em Dança, um dos principais festivais de dança do país, porém, Deise, ainda lamenta o fato que todos os bailarinos e bailarinas da cidade trabalham em outras profissões para se sustentar, ou dão aulas, pelo fato também de não haver uma companhia profissional na cidade. Foi pensando em voos mais altos para Andreza, que Deise incentivou a jovem a buscar novos desafios. “
Andreza ganhava todos os prêmios dos Festivais onde participávamos: Bento em Dança, Santa Maria em Dança, Sul em Dança. Foi nesse festival que ela recebeu uma indicação de um dos jurados para a audição na Escola do Teatro Bolshoi no Brasil, então decidimos, junto com a família dela e com a coordenação do Projeto Coração Cidadão, levá-la para este teste. Ela foi uma das 19 aprovadas entre 300 candidatos”, lembra.
Deise conta ainda que no período que Andreza estudou em Joinville, sempre manteve um contato próximo com ela. “Nesse período na Escola do Bolshoi ela sempre me mandava mensagens, contando das matérias que estudava, os papéis que ganhava para os espetáculos, fotos provando os figurinos. Sempre muito carinhosa e agradecida pelas oportunidades. Tenho certeza que essa ida à Coreia vai ser uma experiência maravilhosa. Ela vai conhecer pessoas e lugares, outra cultura, vai dar aulas e vai aprender muito. Estamos conversando por mensagens e ela chegou lá muito feliz”, comemora.

Atualmente Andreza ensina ballet para crianças na Coreia do Sul
Andreza Borges nos primeiros anos de atuação na Escola Bolshoi

Andreza em performace no ano de 2010
Andreza que dança desde a infância atuou por sete anos na Escola Bolshoi
Andreza em performace no ano de 2008
Bailarina acompanhada pela mãe em audição

A professora Deise prestigiou a formatura de Andreza
Andreza ao lado da primeira bailarina do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, Ana Botafogo

Andreza em aula no seu primeiro ano Na Escola Bolshoi