Vítimas de jogo que incita ao suicídio têm entre 10 e 20 anos de idade
Um jogo mortal chegou este ano ao Brasil e tem enfileirado fanáticos, sendo classificado por algumas pessoas como uma “seita diabólica”. O jogo que iniciou na Rússia, nos primeiro meses de 2017 fez vítimas fatais em dois estados brasileiros. Tudo se inicia com um convite para a página privada e secreta deste grupo “#F57” no Facebook, e nela um instrutor passa alguns desafios aos seus novos jogadores. A partir de então, o que parece um jogo inocente, torna-se macabro e mortal.
No total, são propostos 50 desafios, tais como: escrever com uma navalha o nome daquele grupo na palma da mão, cortar o próprio lábio, desenhar uma baleia em seu corpo com uma faca, até chegar ao desafio final, que ordena tirar a própria vida.
Um dado preocupante é que, após a vítima iniciar os desafios, ela não poderá desistir. Dizem alguns participantes, que caso pretendam desistir, são ameaçados pelos administradores do game, pois se deve ir até o desafio final.
A Prefeitura de Curitiba emitiu na terça-feira, 18, um alerta aos pais sobre o jogo da Baleia Azul, que incentiva o suicídio, depois que a rede municipal de saúde registrou na madrugada cinco tentativas de suicídio entre adolescentes de 13 a 17 anos, que foram atendidos e encaminhados para acompanhamento em Centros de Atenção Psicossocial (Caps).
Em todos o casos, diz a prefeitura, havia sinais de automutilação e ingestão demedicamentos. O jogo da Baleia Azul, que surgiu nas redes sociais russas e virou uma grande preocupaçãorecente dos pais no Brasil, lista uma série de desafios aos participantes, que incluem automutilação e, no ápice, o suicídio.
Na França, Inglaterra e Romênia as escolas têm feito comunicados alertando as famílias de seus alunos para terem especial atenção com este jogo e comportamento de seus filhos.
A morte da jovem de 16 anos
A adolescente, segundo os escritos encontrados, devia realizar as seguintes tarefas: abraçar os pais, pedir perdão e tirar a própria vida. Pouco tempo antes do suicídio, a jovem já vinha realizando automutilação, com cortes nos braços e nas pernas. Em Minas Gerais também se investiga a morte de um rapaz de 19 anos, cuja mãe alega estar envolvido com o jogo.
Entre as tarefas, que antecedem a última e mortal, é relatado casos de jovens que fizeram selfies em edifícios altos e no cinema assistindo a um filme de terror. Um dos deveres considerados básicos, era que os jovens fizessem com uma gilete o desenho de uma baleia no braço. Entre as principais vítimas estão jovens com idades entre 10 a 20 anos de idade.
Um outro caso foi registrado na Paraíba, onde um aluno do ensino médio de Joaão Pessoa já estaria realizando as tarefas de automutilação determinadas pelo jogo “Baleia Azul”. Nesta semana um adolescente de 15 anos de Santa Catarina tentou suicídio. Segundo a mãe, ele foi instigado por um jogo em um grupo de conversas no celular. O convite veio em uma rede social.
“Era um grupo, vários adolescentes a nível de Brasil, onde eles conversam, eles recebem as regras, as normas, os desafios. Comentam sobre os cortes que fazem, tudo”, diz a mãe.
O alerta da psicóloga
A psicóloga Cláudia Guarnieri alerta os pais sobre os perigos em utilizar a internet de forma incorreta. Na visão da profissional é importante o controle do tempo que o jovem fica em frente ao computador. “Devemos acolher e observar o comportamento dos filhos adolescentes dentro de casa, nas suas relações e na escola. São inúmeros os riscos que crianças e adolescentes correm com mau uso da internet, WhatsApp e outros meios de comunicação: pedofilia, apologia à violência, preconceitos e bullyng são alguns deles”, explica.
Cláudia tem acompanhado as notícias sobre o jogo virtual Baleia Azul. Segundo ela, é mais um jogo que serve de alerta sobre a vulnerabilidade dos jovens para o suicídio. Segundo a psicóloga a busca por atenção, e a o sentimento de não pertencimento pode levar o jovem a buscar atenção no jogo.
“Alguns acessam estes jogos por simples curiosidade, pelo status de estar jogando e parecer corajoso para os amigos. Devemos prestar atenção também, para jovens que apresentam tendência a depressão ou alguma outra doença. Eles são o público especialmente atraído para estes tipos de jogos”, alerta.
A queda no rendimento escolar, choro, agressividade, mudanças bruscas de comportamento, automutilação e frases soltas com conteúdo de despedida são descritos por Cláudia como fatores de alerta. “É imprescindível que os pais conversem com seus filhos sobre o perigo destes jogos, que ofereçam ajuda e que procurem ajuda de um profissional para orientação e tratamento caso notem algumas das mudanças de comportamento citadas anteriormente”, orienta.
Investigações
A polícia de Mato Grosso investiga a morte de um adolescente relacionada com o o jogo. Na Paraíba, a PM abriu investigação após um oficial da corporação, coronel Arnaldo Sobrinho, descobrir que alunos de uma escola estavam cumprindo os desafios.
No Facebook, ele pediu aos pais para que fiquem alertas. “Há um engano porque (os pais) acham que é um aplicativo, um jogo, mas não é. O desafio é repassado por meio de mensagens em grupos”, disse. A corporação investiga se alguns jovens foram coagidos a participar do jogo, a partir de ameaças feitas após invasões a seus computadores.
A investigação na DRCI teve início há duas semanas, desde que comentários sobre o jogo começaram a circular nas redes sociais. A delegada acha que um aplicativo pode ser utilizado no repasse das mensagens. A investigação não parou neste feriadão. “Identificamos milhares de pessoas que estão praticando o jogo no Brasil. Fazemos uma grande filtragem para saber quais delas são do Rio”, disse Fernanda.
O advogado e perito em Direito Digital, José Antonio Milagre, disse que caso alguém seja interpelado pelos cibercriminosos deve salvar as mensagens. “É importante preservar chats para que possam servir de base para eventual medida para apurar autoria e responsabilizar os criminosos”.
Alerta da PF
A Superintendência da Polícia Federal em Pernambuco tem realizado uma série de palestras gratuitas sobre crimes cibernéticos nas escolas. A polícia Federal informa ainda que as condutas dos mentores da Baleia Azul é criminosa.
“Induzir (criar a ideia de suicídio em alguém), instigar (incentivar alguém que já estava pensando em suicídio) ou auxiliar (ajudar materialmente o suicida) o suicídio de outra pessoa é crime, de acordo com o artigo 122 do Código Penal, punindo com a pena de dois a seis anos de prisão, caso o suicídio seja consumado, ou de um há três anos de prisão, caso a tentativa de suicídio resulte em lesão corporal grave”, diz a PF, em nota.
Como prevenir
Mudança de comportamento
Os pais devem estar atentos a mudanças bruscas de comportamento dos filhos, o que pode ser um sinal de que a criança está sofrendo e não está sabendo lidar com o sofrimento.
Demonstre interesse
Para perceber que a criança está enfrentando problemas, é essencial que os pais se interessem por sua rotina. Segundo especialistas, esse deve ser um ato genuíno, não momentâneo por causa do jogo.
Diálogo constante
As conversas com os filhos, sobretudo os adolescentes, pode não ser fácil, mas os pais devem abrir canais para que eles se sintam confortáveis em compartilhar suas angústias e se sintam protegidos.
Vulnerabilidade
Para os especialistas, jovens e adolescentes com a autoestima baixa e sem vínculo familiar fortalecido são mais vulneráveis a armadilhas como o jogo da Baleia Azul.
Confiança
Os jovens precisam de pessoas de confiança para compartilhar seus anseios e frustrações, seja na escola ou na família.
Participação da escola
As escolas podem ajudar na prevenção de situações de risco, identificado entre os alunos os mais vulneráveis a se engajarem em jogos como esse e conscientizando os estudantes sobre a importância da vida.