Itens como arroz, feijão e cebola sobem até 131%

2015-04-10_190211

Alimentação no domicílio subiu 45,35%, de março de 2020 a fevereiro deste ano, segundo levantamento do Ibre/FGV

Vilões da derrota em 2022, os preços dos alimentos perderam o início do ano, e a carne ficou mais barata pela primeira vez em 15 meses. Mas isso não significa que a luta para encher o carrinho no supermercado terá uma trégua até o fim do ano. Desde o início da pandemia, boa parte dos produtos básicos passou por uma escalada de preços . E não dá sinais de que vá sair deste patamar, o que mantém o orçamento das famílias sob pressão.

Desde março de 2020 até fevereiro deste ano, a alimentação no domicílio subiu 45,35%, de acordo com levantamento do Ibre/FGV a partir de dados do IPCA, índice oficial de consideração.

A cesta do café da manhã disparou: as frutas acumularam alta de 67,72%, o queijo subiu 50,28% no período, o pão aumentou 36% e nem mesmo o café passou incólume desse movimento, com alta de 39% no período .

Pressão no orçamento

A disparada de preços vai bem além da primeira refeição do dia. Economistas ouvidos pelo GLOBO afirmam que o aumento dos custos de produção, a redução da área plantada e os efeitos adversos do fenômeno La Niña no primeiro trimestre tendem a se refletir em preços mais altos na tradicional combinação de arroz e feijão.

No caso de proteínas, como frango, ovo e carne, avaliem que não há espaço para grandes quedas. Além da questão ambiental, que afeta a pecuária desde o ano passado, os preços seguem seguidos em razão dos custos e de restrições na produção em ocorrência do surto de gripe aviária.

— Dá para ver a pressão que a alimentação vem exercendo sobre o orçamento familiar, porque esse aumento vem se acumulando e comprovando o poder de compra — afirma André Braz, economista e coordenador dos Índices de Preços do Ibre/FGV.

Braz estima que os alimentos não devem repetir o mesmo ritmo de alta registrado no ano passado, o que significa que não seriam novamente os vilões. Mas não há espaço para queda generalizada.

O arroz subiu 59,26% desde março de 2020. No mesmo período, o feijão preto teve alta de 39,91%. Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção brasileira de arroz, cuja safra já começou, deve ser a menor em 25 anos.

A expectativa é de uma safra de 10,38 milhões de toneladas no período de 2022/2023, uma queda de 3,8% em relação à temporada passada. Já o feijão deve ter volume de produção 2,4% menor que o de 2021/2022, somando 2,9 milhões de toneladas.

— A fachada de alimentos deu uma melhorada, mas não deve ter preços em níveis pré-pandemia. Temos um cenário de preços de commodities, que são grandes balizadores dos preços de alimentos, que seguem altos, e ainda continuarão em patamar elevado. Não vamos voltar a ter preços como os que a gente tinha em 2019 — afirma Gabriela Faria, analista da Tendências.

Nos cálculos da consultoria, alguns preços ao produtor vão subir quase 10% em média este ano. O arroz deve ficar 9,7% mais caro, seguido pelo ovo, com alta de 7,4% e pelo feijão, com avanço de 2,8%.

O preço cobrado ao produtor acaba servindo como um sinal do que pode chegar ao consumidor final, já que suas variações são geralmente repassadas para as gôndolas.

Até mesmo um cardápio simples, como macarrão com salsicha, passou por uma escalada de preços de dois dígitos desde o início da pandemia. O macarrão subiu 40,74% e a salsicha teve alta de 34,5

— A produtividade da soja aumentou e o feijão teve evolução muito pequena nos últimos anos. A pressão sobre a pressão deve perdurar ainda pelos próximos 45 dias diante do aumento do custo ao produtor.

impacto do dólar

Ricardo Santin, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), alerta que os insumos de produção, como milho e farelo de soja, subiram cerca de 121% nos últimos dois anos. Estes têm se mantido em patamares elevados, o que não abre espaço para cortes nos preços dos ovos, frango e outras proteínas animais:

— A perspectiva de preço da carne de frango é ano segue a tendência das outras proteínas, que é se manter em padrões elevados e até subir, em alguns casos, se houver aumento de custos. Além da ração mais cara, houve aumento no custo de logística, energia, papelão e materiais plásticos importantes na solução da cadeia.

Ele lembra ainda que, no caso do ovo, já há um aumento de preço puxado não só pelos custos como pela sazonalidade em razão da Quaresma, período de 40 dias antes da Páscoa.

Outro ponto de influência nos preços dos alimentos é a taxa de câmbio. Lucilio Alves, pesquisador da área de arroz do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, lembra que os preços de diferentes culturas no Brasil são bastante observados no mercado internacional.

Além disso, acrescenta que qualquer fator que possa afetar a cotação do dólar, como a recente crise no setor bancário internacional, pode elevar o custo de produção dos alimentos.

— Esse contexto mundial favorece uma velocidade da taxa de câmbio, e o contexto de oferta doméstica apertada não abre espaço para queda dos preços. No caso do arroz, por exemplo, há uma demanda ajustada à menor oferta em 25 anos. Ou seja, não tem margem para grandes quedas de preço — conclui Alves.

De acordo com a pesquisa Focus, do Banco Central, a projeção para a influência deste ano caiu pela segunda semana seguida, e ficou em 5,93%. Para o próximo ano, porém, as estimativas subiram para 4,13%.