Inflação cai abaixo de 10% em um ano, mas alimentos subiram mais que o dobro dos outros preços

2015-04-10_190211

Inflação cai puxada pela queda dos preços da gasolina  e da tarifa de energia,  mas ao longo da pandemia, a disparada de preços atingiu produtos básicos, como alimentos e bebidas, que seguem em nível alto 

Com impacto dos combustíveis, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) registrou deflação (queda) de 0,36% em agosto, informou nesta sexta-feira (9) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

É o segundo recuo consecutivo do índice oficial de inflação do país –a baixa havia sido de 0,68% em julho. Analistas projetavam queda de 0,40% em agosto, conforme a agência Bloomberg.

Com nova a trégua, o IPCA voltou a um dígito no acumulado de 12 meses. A alta atingiu 8,73% até agosto, após 10,07% até julho. Nessa base de comparação, o avanço estava acima de 10% desde setembro de 2021 –11 meses de divulgação, ou quase um ano.

Uma sequência tão longa não ocorria desde o intervalo de 2002 a 2003. À época, o índice permaneceu acima de 10% por 13 meses consecutivos, de novembro de 2002 a novembro de 2003.

Mesmo com a perda de força, o IPCA caminha para estourar a meta de inflação perseguida pelo BC (Banco Central) pelo segundo ano consecutivo. Em 2022, o centro da medida de referência é de 3,50%, com teto de 5%.

A carestia às vésperas das eleições pressiona o governo Jair Bolsonaro (PL), que teme os efeitos da perda do poder de compra dos brasileiros. Para tentar reduzir os danos, o governo aposta em um pacote que incluiu o corte de tributos.

Bolsonaro sancionou em 23 de junho a lei que definiu o teto para a cobrança de ICMS (imposto estadual) sobre combustíveis, energia, transporte e telecomunicações.

Um dos reflexos foi a queda dos preços da gasolina, o subitem com maior peso na composição do IPCA. A Petrobras também passou a cortar preços de combustíveis nas refinarias com o alívio das cotações do petróleo no mercado internacional.

A partir de medidas como o teto de ICMS, analistas reduziram as projeções para a inflação no acumulado de 2022. A estimativa do mercado financeiro recuou para alta de 6,61%, conforme a mediana do boletim Focus, divulgado na segunda-feira (5) pelo BC.

Também na segunda, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que a “batalha” contra a inflação ainda “não está ganha”.

Em uma tentativa de conter a carestia, o BC vem subindo os juros, o que joga contra a recuperação do consumo das famílias e encarece os investimentos produtivos das empresas.

Ao longo da pandemia, a disparada de preços atingiu produtos básicos, como alimentos e bebidas, que seguem em nível considerado alto por consumidores.

A situação afeta sobretudo os mais pobres, que têm menos condições de lidar com a carestia. Com a pressão inflacionária, brasileiros substituíram marcas ou até cortaram do cardápio mercadorias como carne e leite.

A divulgação desta sexta é a última do IPCA antes do primeiro turno das eleições, agendado para 2 de outubro. Os dados da inflação de setembro serão conhecidos em 11 de outubro, conforme o calendário do IBGE.