Já se tornaram comuns ligações para confirmar supostas transações financeiras. Em nome de um banco, uma pessoa liga, informa que foi feita uma compra de alto valor e que precisa da confirmação do pagamento.
Mas essa prática, na verdade, tem sido adotada por golpistas que buscam roubar informações e dinheiro dos brasileiros.
Nesse tipo de fraude, quando a vítima atende a ligação e segue os procedimentos indicados pelo golpista, ela realiza uma transação bancária.
Os golpistas também utilizam outros meios de contato para aplicar a fraude. É comum receber mensagens de SMS, e-mail ou até mesmo WhatsApp com pedidos de confirmação de pagamento.
Na maior parte das vezes os valores são altos, de milhares de reais, e pegam de surpresa quem é, de fato, usuário do banco.
Arthur Igreja, especialista em tecnologia, pontua que este tipo de golpe tem se tornado cada vez mais sofisticado.
“Eles usam todo tipo de artimanha para imprimir confiança, como a imagem daquela instituição na foto de perfil do WhatsApp e, também no caso do SMS, já colocam na abertura da mensagem o nome da instituição”.
Nas ligações, os golpistas inserem ainda o nome do suposto banco no chamador. Segundo Igreja, em muitos casos eles conseguem clonar um número que está identificado, por exemplo, no range de contatos cadastrados pela instituição financeira.
Como golpistas têm acesso ao contato das vítimas?
Frequentemente, conforme explica o especialista em tecnologia, o contato das vítimas é exposto em vazamento de dados ou quando um telefone é roubado e o criminoso tem acesso à lista telefônica. Essa é uma das formas principais de dar início ao golpe.
Mas Igreja ainda alerta para um ponto importante: alguns números telefônicos são expostos pelas próprias vítimas.
“As pessoas acabam ajudando os golpistas, porque deixam muitas informações disponíveis, especialmente em redes sociais.”
“Por exemplo, no Facebook, muitas pessoas, quando criaram as contas há vários anos, tinham o hábito de deixar o número disponível no perfil. Então tem muita gente que tem nome, endereço e telefone celular na conta da rede social e nem mesmo se lembra disso”, completa.
Como se proteger dos golpes?
A principal dica do especialista para se proteger desse tipo de golpe é sempre colocar esse tipo de interação sob suspeita.
“Se você está desconfiado de uma ligação dizendo que é um procedimento de segurança para confirmar uma transação, desligue e entre em contato diretamente com o canal oficial do banco”, orienta.
Igreja explica ainda que o maior problema nestes golpes é que os criminosos levam as vítimas a iniciar uma conversa de forma passiva, seja acessando o link de uma mensagem ou atendendo a uma ligação.
Para se proteger, ele indica que os cidadãos invertam a lógica e façam o contato imediato com o banco.
O que fazer depois de cair no golpe?
Se o cidadão fizer uma transação bancária e depois perceber que foi vítima de um golpe, ainda é possível recuperar o dinheiro.
Mas segundo Maria Inês Dolci, advogada especialista em direito do consumidor, é preciso agir de forma rápida.
“Se a pessoa fez a transferência bancária, ela deve imediatamente entrar em contato com o banco, indicando que houve uma fraude, que houve o desvio do dinheiro e que não autoriza aquela transação”, aponta.
Caso o pagamento tenha sido feito via Pix, Dolci destaca que a vítima pode usar o Mecanismo Especial de Devolução (MED), do Banco Central (BC).
Assim, a vítima deve registrar o pedido de devolução do dinheiro na instituição financeira em até 80 dias da data em que fez o Pix no caso de fraude, golpe ou crime.
Depois disso, a instituição vai avaliar o caso, entender se faz parte do MED e bloquear os recursos do recebedor do Pix.
O caso é analisado em até sete dias. Se a solicitação for aceita, a vítima receberá integral ou parcialmente o dinheiro de volta em até 96 horas depois da análise.
Se for concluído que não houve golpe, o valor é liberado ao recebedor.
No entanto, caso a vítima não consiga contato direto com a instituição financeira envolvida, Dolci explica que é preciso formalizar uma denúncia.
“Geralmente esses golpes são bem planejados, porque são em períodos em que os bancos estão fora do horário comercial. Então, se não conseguir contato, é preciso fazer um boletim de ocorrência.”
Para isso, a especialista destaca que é importante guardar provas de que houve golpe. Se foi por meio de SMS, mensagem de WhatsApp ou e-mail, é importante fazer uma captura de tela que mostre o conteúdo enviado pelo criminoso.
No caso da ligação, é preciso registrar também o número que ligou. Guardar o extrato bancário em que consta a transação indevida também pode ser um caminho para provar o ocorrido.
Como identificar se é um golpista ou o banco?
Para que os brasileiros possam se prevenir desse tipo de golpe, a CNN coletou informações oficiais sobre como grandes bancos entram em contato com os clientes.
As instituições também dão dicas sobre como usar os sistemas de segurança disponíveis para evitar fraudes.
Banco Inter
O Inter destaca que normalmente os bancos não entram em contato por meio de ligações e indica que, se receber uma chamada suspeita, é válido desconfiar e não compartilhar informações pessoais.
Além disso, destaca que os bancos nunca ligam solicitando dados pessoais, como CPF e senha.
A instituição também destaca que usa inteligência artificial para identificar, em tempo real, situações suspeitas e que envia alertas de segurança aos clientes.
Nubank
O Nubank aponta que conta com a funcionalidade “Chamada Verificada”, que permite que os clientes acessem aplicativo durante uma ligação alegadamente feita pelo atendimento da instituição para checar se é mesmo um representante da companhia que está do outro lado da linha.
A instituição também tem o sistema “Alô Protegido”, que bloqueia chamadas feitas por telefones que “camuflam” o número para parecer que estão sendo realizadas da central de atendimento do Nubank.
Além disso, existe o “Alerta de Golpe”, que sinaliza, via notificação no próprio app e antes da conclusão da operação, que o cliente pode estar prestes a confirmar uma transação para uma conta suspeita.
Itaú
Já o Itaú indicou que “para entrar em contato com os clientes e alertar sobre alguma transação suspeita ou problema, o banco utiliza apenas os canais oficiais (notificação pelo aplicativo do banco, pelo Whatsapp, SMS ou ligação telefônica pelo número 11 4004-4828).
O contato do Itaú nestes casos sempre envolverá uma pergunta fechada ao cliente (“sim” ou “não”).
O banco indica ainda que nunca solicita dados da conta-corrente e saldo da conta bancária. Além disso, não é procedimento oficial da instituição pedir que o cliente acesse a conta e faça um “passo a passo” para resolver problemas, nem que ele atualize o cadastro por um app ou site desconhecido.
Bradesco
Enquanto isso, o Bradesco esclarece que a “BIA, Bradesco Inteligência Artificial, e os funcionários do banco nunca ligam para os clientes pedindo senhas e a chave de segurança, solicitando que o usuário baixe aplicativos para inspeção/limpeza remota ou ainda que acesse o App e faça um cancelamento de transação.”
Caso uma transação fique retida para análise de segurança, o cliente recebe um SMS ou WhatsApp, para confirmar ou cancelar a operação. A conta oficial no WhatsApp possui o selo de verificação e o contato é realizado exclusivamente por mensagem de texto.
O Bradesco indica ainda que qualquer mensagem suspeita recebida por um cliente pode ser enviada para o canal de denúncias evidencia@bradesco.com.br.
A instituição também conta com um mecanismo de segurança que alerta os clientes sobre possíveis golpes em ligações telefônicas.
Ao receber uma chamada e abrir o aplicativo do banco no celular, uma notificação de que a ligação pode o golpe da Falsa Central aparecerá na tela do aparelho antes do acesso. Com isso, o usuário poderá sinalizar que está falando com uma pessoa conhecida e clicar no botão “confio na ligação e quero continuar” ou na opção “sair”.
Santander
O Santander destaca que nunca entra em contato solicitando dados sigilosos como informações de acesso, senhas, códigos de dispositivos de segurança ou pedindo para realizar uma transação financeira para cancelar outra não reconhecida.
Além disso, o Santander afirma que nunca entra em contato solicitando um Pix ou qualquer modalidade de transferência financeira para o cancelamento de uma compra não reconhecida ou para proteger a conta bancária.
O banco também informou em nota que protege o cliente no momento das transações, com a identificação em chamadas suspeitas durante o uso do aplicativo.
Banco do Brasil
Por fim, o Banco do Brasil aponta que entra em contato com o cliente para confirmação de transações suspeitas de fraude por contato telefônico via Central de Relacionamento, contato do cliente com a agência ou envio de mensagem push.
O BB destaca ainda que o contato é feito apenas para confirmação da transação, e que nunca pede, em seus contatos ativos, dados pessoais, senhas nem a instalação ou atualização de aplicativos.