Frota de veículos em Bento aumenta mais de 30% em dez anos

2015-04-10_190211
O contribuinte já pode parcelar o imposto do IPVA em até três vezes ou quitar com descontos que podem alcançar 22,4%

Segundo o Detran, no final de 2007 o município tinha 51 mil automóveis registrados em circulação. Hoje o número ultrapassa 78 mil

O número de veículos em circulação no país não para de crescer. Segundo dados do Departamento Nacional de Trânsito (DENATRAN), são quase 50 milhões de automóveis rodando. E esse cenário se estende muito além das grandes metrópoles: aqui em Bento Gonçalves, na última década, o índice de veículos registrados circulando no município aumentou cerca de 30%, de acordo com as informações de Gerson Tadeu Astolfi Vivan, credenciado ao Detran e responsável pelo Centro de Registro de Veículos Automotores (CRVA) em Bento Gonçalves.
E esse movimento não ocorre só no Brasil. De um modo geral, é um panorama comum nos países emergentes.
Segundo estimativas do Laboratório Francês de Estudos Prospectivos e Cartográficos (LEPAC), haviam 360 milhões de automóveis em todo o mundo em 1980 e de acordo com o cientista social e chefe do Laboratório, Jean-Christophe Victor , no relatório “Tendências do Transporte Público” – editado em 2015 pela União Internacional dos Transportes Públicos (UITP) – em cerca de vinte anos, somente a China já terá esse número.

Município contabiliza mais de um carro por motorista cadastrado
O responsável pelo CRVA chama a atenção para o fato de que em 2007, haviam 51 mil carros registados em circulação no município. “Dez anos depois, esse número saltou para mais de 78 mil – um aumento de aproximadamente 34% da frota. Para se ter uma ideia, em 2012, chegamos a emplacar 660 carros num só mês”, comenta.
Os dados do Detran apontama uma constatação preocupante: aqui, assim como no resto do país, a valorização crescente do automóvel enquanto bem de consumo e a escolha deste como opção preferencial de mobilidade já acarretam consequências preocupantes no panorama geral do nosso trânsito. E essas consequências exigem medidas rápidas e eficientes para conter o avanço do problema.
Vivan destaca. “O carro é uma resposta à exigência da vida corrida que levamos, é compreensível. Mas os problemas de trânsito resultantes desta escolha tendem a piorar”. E ele levanta outro ponto muito importante. “São 78.101 veículos registrados em circulação efetiva em Bento. E 61 mil motoristas cadastrados. Ou seja: em média, mais de um carro por motorista”, ressalta. E acrescenta. “Proporcionalmente, temos mais carros aqui e isso revela as escolhas da população. O problema é que essas escolhas cobram restrições, que acabam afetando a mobilidade urbana”.
A questão cultural, da valorização do carro, tão presente na região, também é citada por Vivan. Mas ele acredita que a mudança de postura por parte da população não pode vir sozinha. “É necessário que as pessoas alterem hábitos, é claro. Mas antes disso, é preciso que sejam intensificadas novas formas de incentivo por parte dos órgãos competentes para que a comunidade escolha outros opções de locomoção, além do carro – a pé, de bicicleta, usando transporte público ou até mesmo um sistema de caronas”, afirma. E completa. “Para que isso aconteça, é preciso que a cidade ofereça alternativas. E aí vem o grande desafio do poder público”.
Vivan acredita que um centro mais humanizado, mais seguro, muito contribui para estimular essas alterações de hábitos. Ele cita também a importância de o município oferecer à população transporte público que atenda às necessidades das pessoas, em relação a horários e itinerários, com conforto e segurança. E reafirma. “As políticas públicas devem fornecer instrumentos para que as pessoas mudem a postura. O desafio é de parceria: poder público em conjunto com a população. Afinal, não devemos esquecer que o trânsito é um ambiente coletivo – o individualismo não deve prevalecer”.
Mas, segundo o responsável pelo CRVA, ainda há muito trabalho relativo à criação de políticas públicas efetivas de trânsito.
“Não existem intervenções resolutivas, pelo menos não conseguimos vê-las ainda”, cobra.
“Precisamos de políticas de trânsito que garantam a fluidez caso contrário, a cidade vai travar. E o poder público precisa eleger princípios que norteiem essas políticas”. Mas ele reconhece que existem barreiras. “Sabemos que limitações orçamentárias, agravadas pelos entraves geográficos e mesmo pelo traçado da cidade, a construção dela, acabam dificultando a implementação de mudanças”.

Trânsito do Centro pode sofrer alterações nos próximos meses

Instalação de sinaleira, retirada de parada de ônibus e modificação do ponto de táxi estão entre principais mudanças

O trânsito do centro de Bento Gonçalves pode passar por mudanças pontuais nos próximos meses. Na próxima segunda-feira, 27, o Secretário de Mobilidade Urbana, Amarildo Lucatelli, vai apresentar na Câmara de Vereadores um projeto sobre mudanças no centro da cidade. A retirada da parada de ônibus da Rua Marechal Deodoro, mudanças sobre o ponto de táxi próximo ao shopping do centro e a instalação de um semáforo no local estão entre as principais mudanças.

“A posição dos táxis não está correta porque os passageiros têm que entrar pela calçada, e não pelo lado da rua. A ideia da retirada da parada de ônibus é também em virtude de uma determinação da legislação que diz que não é permitido ter um ponto de ônibus próximo aos bancos”, explica.

Se o projeto da obra for aprovado, em poucos dias as mudanças serão colocadas em prática. Ainda segundo o secretário ainda não é possível estimar qual será o valor da obra.

A parada da Júlio
A polêmica referente a parada de ônibus da Rua Júlio de Castilhos, que teve como investimento o valor superior a R$ 200,00, também foi comentada brevemente por Lucatelli. Segundo ele, no momento não há o que fazer com a obra, já que, “tudo foi feito dentro da lei. Não podemos fechar a parada porque pode virar um local para pessoas dormirem à noite, e no meu entender está bem elaborada”, sintetizou.

As declarações do secretário não condizem com a realidade, já que em dias de chuva a população se abriga em estabelecimentos comerciais da redondeza, em virtude da parada ficar impossibilitada de abrigar. A equipe da Gazeta esteve no local na última semana fez uma reportagem sobre a obra. Na ocasião, não foi difícil encontrar relatos de indignação.

A “desmotorização” da população

Nas nações mais desenvolvidas, uma nova tendência vem surgindo: a chamada “desmotorização” – redução do número de veículos por habitante. A expressão ainda é pouco utilizada por aqui, mas tem ocupado um lugar de destaque nos Estados Unidos e países europeus, como uma forma de amenizar os problemas de mobilidade nas metrópoles.

Segundo a diretora do Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP) no Brasil, Clarisse Linke, melhorar a infraestrutura de transporte público não é suficiente. É preciso criar restrições para o uso do automóvel. Ela frisa que são necessárias políticas que pesem no bolso do usuário do transporte individual e o empurrem para longe do carro. A afirmação se baseia nas experiências de países desenvolvidos, que cobram uma espécie de pedágio urbano – um imposto para se locomover em automóveis nos grandes centros urbanos, como é o caso de Londres e Cingapura e, por exemplo.

De acordo com o relatório da UITP, existe uma boa perspectiva futura em relação à “desmotorização”. O documento cita diversos estudos realizados no Japão, na América do Norte e na Europa, que contabilizam um grande número de jovens que vivem em cidades desenvolvidas menos propensos a adquirir um carro.

O relatório aponta como motivos para essa tendência a existência de redes de transporte público mais eficientes e integradas nesses países, que facilitam a locomoção para todos os cantos da cidade (e deixando o automóvel apenas para o lazer ou viagens mais longas).

Outro fator importante citado destaca que esta é a primeira geração que está crescendo em um mundo dominado pela internet móvel, e assim, muitos preferem usar o transporte público principalmente por causa da tecnologia – buscam viajar conectados, usando a internet ou fazendo outra coisa que não poderiam se estivessem dirigindo.

Desestímulo ao uso do automóvel

As primeiras cidades, datadas de 3.500 AC, inauguraram espaços feitos para encontros, trocas e interações entre pessoas. No decorrer dos séculos, as cidades foram se adaptando de acordo com novos padrões de densidade, zoneamento e transporte. Mas foi no século XX, ou mais especificamente no pós-guerra, que as cidades começaram a mudar radicalmente. Com o surgimento do automóvel, houve uma inversão total. As cidades para pessoas passaram a ser cidades para carros.

Mais carros levam a maior congestionamento, poluição, consumo de combustível e emissões de gases de efeito estufa. Se a quantidade de viagens de carro acompanhar o mesmo ritmo do crescimento da população, os ganhos com a eficiência do combustível e tecnologias mais limpas serão anulados por velocidades menores e os motoristas continuarão presos nos congestionamentos.

Como agir para reduzir os problemas causados por esse quadro? Em termos gerais, a abordagem que visa lidar com essa problemática tem sido chamada de gerenciamento de demanda por viagens, objetivando buscar soluções para o crescente aumento dos congestionamentos e os problemas associados a eles, não ampliando a oferta de vias, mas administrando com eficiência os deslocamentos e os meios de transporte disponíveis na cidade.

Assim, a ideia é que as viagens de carro possam ser mantidas em níveis suportáveis para as vias disponíveis, por meio das políticas de gestão da demanda por viagens (GDV), limitando tanto a circulação de carros quanto o estacionamento. Ou seja: medidas como a adoção de parquímetros, áreas de estacionamento limitado, pedágios urbanos, zonas com velocidade controlada (como as Zona 30), dentre outras.

E para que uma estratégia de GDV seja eficaz, é necessário contar com incentivos positivos (medidas para “atrair” usuários para meios de transporte mais sustentáveis) e incentivos negativos (medidas para “afastar” usuários da utilização do automóvel).
Fonte: Site ITDP Brasil