Frio aumenta a incidência de infarto, arritmias e insuficiência cardíaca

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As baixas temperaturas promovem o aumento do metabolismo e a contração das artérias coronárias, o que pode contribuir para um infarto e outras complicações

Baixas temperaturas pedem coração aquecido. Com a chegada do frio, o cenário se torna ainda mais perigoso para quem sofre com doenças cardiovasculares.  No frio intenso, observamos mudanças na circulação sanguínea e no trabalho do miocárdio para manter as funções dos órgãos vitais. Nesse período, inúmeros registros mostram aumento não só do número de infarto, como de AVC e doenças respiratórias.

Durante as baixas temperaturas, é importante manter um sistema de calefação em domicílio: Na ausência dele, devemos nos manter sempre bem agasalhos para auxílio na manutenção da temperatura corporal e redução dos impactos do frio intenso.
Neste período, apesar de muitos fugirem, a atividade física regular é um fator protetor cardiovascular e deve ser mantida durante o inverno, tomando o cuidado de ter uma boa hidratação, se proteger do frio com roupas adequadas, mesmo durante atividade física intensa.
O risco aumenta dependendo da gravidade da doença cardiovascular. Pessoas que já apresentaram algum evento cardiovascular ou têm algum grau de cardiopatia tem risco mais elevado de novos eventos cardiovasculares durante as baixas temperaturas.

É que, no frio, o organismo sente a necessidade termorregulatória de se aquecer. Isso envolve a liberação de adrenalina para intensificar a atividade metabólica e a constrição dos vasos sanguíneos para reduzir a perda de calor através da pele. Esses dois fenômenos fazem com que o trabalho cardiovascular cresça, sobrecarregando o coração e elevando a pressão.

 Se o sistema arterial tiver áreas frágeis, elas podem se romper, propiciando um acidente vascular cerebral [AVC]. Além disso, como as artérias ficam ‘apertadas’, se houver placas obstrutivas, isso reduz a passagem do sangue, levando a um infarto, trombose ou um AVC isquêmico.

A possibilidade de isso acontecer é bem maior em pessoas com fatores de risco para eventos cardiovasculares, como obesidade, diabetes, hipertensão, colesterol alto e histórico familiar.

E há ainda a influência de doenças respiratórias, que são mais comuns nessa época. Estudos mostram que essas infecções pioram a situação do coração, aumentando o perigo cardíaco.

Essa relação já é amplamente conhecida na comunidade médica, principalmente em países com clima frio ou temperado. Segundo a AHA (American Heart Association), no inverno a possibilidade de infarto cresce em até 30%. No entanto, a relevância desses problemas em países quentes, como o Brasil, não era muito clara até pouco tempo.

Por isso, em 2018, Pesaro, que também trabalha no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, participou de um estudo com outros especialistas do hospital, da USP (Universidade de São Paulo) e da NYU (Universidade de Nova Iorque), nos Estados Unidos, para verificar se o mesmo acontecia na capital paulista.

Os pesquisadores coletaram dados de 76 mil hospitalizações por insuficiência cardíaca e 54 mil por infarto agudo do miocárdio em hospitais públicos da cidade ocorridos entre 2008 e 2015. O resultado mostrou que no inverno, as ocorrências de insuficiência eram 30% maiores que no verão. Já as de infarto eram 16% mais altas.

Mas o que isso tudo tem a ver com se exercitar? O cardiologista explica que, como a prática de atividade física é uma situação na qual o corpo é levado ao estresse e o coração naturalmente precisa trabalhar mais, o perigo acaba aumentado para pessoas com alta probabilidade de sofrer problemas cardíacos.

Como cardíacos devem se proteger

No entanto, isso não significa que essa população deva deixar de se exercitar quando a temperatura no termômetro cai, basta tomar alguns cuidados. O especialista da Socesp dá dicas simples: se agasalhar e procurar suar a camisa nos horários mais quentes do dia ou em locais fechados, como a academia.

Um lembrete importante é para o fato de as cidades no Brasil não serem tão bem preparadas para enfrentar temperaturas baixas. Muitas vezes, em países tropicais, há uma certa negligência com o inverno. As roupas não são tão potentes, as construções não têm calefação e as janelas e portas não têm vedação apropriada. Caso você faça atividades em espaços fechados, é necessário ficar de olho nisso.

Reduzir a intensidade do treino também é uma estratégia interessante. Costa, o ergometrista do grupo Dasa, conta que ao parar subitamente de se exercitar – algo muito comum no frio –, o corpo sofre uma uma piora significativa na condição física geral, o que coloca a vida em perigo.

 Se eu paro de treinar, esse esforço aumenta muito porque estou descondicionado. Então, o coração acelera muito mais, a pressão dispara e haverá uma maior sobrecarga cardíaca para uma coisa que é cotidiana, podendo antecipar um evento cardiovascular. Por isso, ao invés de parar, prefira diminuir a intensidade.

Claro, todas essas situações se tornam mais recorrentes entre quem é afetado por esse tipo de doença e não a controla. Então, estar em dia com os medicamentos e a avaliação médica também faz parte dos cuidados.

 Se sua pressão está desregulada, seus remédios não estão sendo tomados corretamente e você não está comparecendo às consultas de rotina, evidentemente qualquer exercício fica perigoso, não só no inverno.