Alunos e professora comentam sobre a importância das provas e os perigos de fraudar um exame de nível nacional
As inscrições para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) abriram nesta semana e até esta quinta-feira, 10, já tinha mais de 2.697.519 candidatos inscritos, segundo informações do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. O ministro da Educação, Rossieli Soares, prevê que até o dia 18 de maio, quando acaba o prazo das inscrições, o total de candidatos chegue a 7,5 milhões.
Atrelado ao exame, no final de abril a Folha de São Paulo fez uma reportagem sobre a existência de fraude no Enem. O mérito do trabalho de reportagem foi dos jornalistas Daniel Mariani, Fábio Takahashio e Mariana Zylberkan, que fizeram uma análise estatística elabora a partir de dados oficiais presentes em banco de dados do exame.
Foram objeto de pesquisa 1.125 provas de candidatos que ficaram, entre 2011 e 2016, entre os 10% melhores resultados. Foram considerados suspeitos de fraude candidatos que erraram questões marcando a mesma questão incorreta, e também que erraram as mesmas questões consideradas de fácil dificuldade ou média.
Com cálculos de probabilidade, apesar do Inep (órgão federal responsável pelo Enem) e Polícia Federal divulgarem que apenas 14 casos de fraude foram confirmados até hoje, a análise do jornal provou que o número pode ser bem maior.
Em janeiro deste ano, por exemplo, a Superintendência da Polícia Federal (PF) na Bahia cumpriu em Salvador, mandado de busca e apreensão na casa de um estudante para apurar denúncia de fraude na prova. O candidato cometeu um plágio, copiando um trecho de um livro relacionado ao tema para a redação e confirmou o crime, confessando que usou um telefone celular para ter acesso ao conteúdo, sem que tenha sido visto pela equipe de fiscalização da prova.
O uso de celular, colas e quaisquer outros meios de fraudar são ilegais. De acordo com a professora de cursinho pré-vestibular, Fabiana Kaodoinski, nesta época de inscrição do Enem os estudantes tendem a ficar mais ansiosos. “Surgem dúvidas sobre como se preparar adequadamente para essa prova que ganha cada vez mais destaque no cenário nacional. Há também uma reflexão sobre a dificuldade do acesso ao ensino superior gratuito, bastante disputado. Esse cenário, por si só, gera pressão ao jovem” explica.
“Nesse contexto, quando descobrem que houve fraude, surge manifestação de indignação. Para além desse sentimento, penso que cabe refletir sobre os comportamentos que materializam o jeitinho brasileiro. Se pararmos para pensar, pequenas fraudes são cometidas no dia a dia, e é esse tipo de atitude que precisa ser modificada, pois toma novas e mais profundas dimensões. Por exemplo, colar em uma prova na escola é um comportamento tão reprovável quando fraudar um concurso nacional. A diferença está associada às consequências, mas parte do mesmo pressuposto: levar vantagem sem empregar muito esforço”, acrescenta.
Para o estudante Alexander Saravia, que com 18 anos vai fazer o Enem pela primeira vez, é preciso ter seriedade e comprometimento no momento das provas. “Nas aulas do ensino médio alguns professores comentavam sobre o Enem e nos davam dicas de estudo. Eles sempre contavam casos de fraudes, muitas vezes de alunos que tentavam se dar bem de um jeito errado. Por isso eu sei que é um momento importante da minha vida e preciso ir bem, quem sabe conseguir uma boa colocação, mas por méritos próprios”, pontua.
O mesmo pensa Gabriela Zanetti, de 17 anos, que tem o sonho de cursar medicina. “É preciso muita força e dedicação para atingir os objetivos. Meus professores sempre foram bem diretos quanto ao esforço que temos que ter para conseguirmos nossos objetivos. Em todos esses anos da aplicação da prova ficamos sabendo de esquemas de fraudes. Quem faz isso não tem o direito de entrar numa universidade, sem contar que é crime. Eu estudo mais de 10 horas por dia e estou me preparando para o Enem. Seria bacana se todos alunos pensassem em ir bem pelos méritos próprios”, desabafa.
Ricardo de Souza tem 16 anos e vai fazer o Enem deste ano na categoria treineiro. Mesmo não sendo a prova que vale classificação para instituições de todo o Brasil, ele tem conhecimento da importância de fazer o exame com o máximo de seriedade. “Esse será o segundo ano que realizo o Enem e espero ir ainda melhor que o ano passado. Sei da minha capacidade e que só com estudo contínuo é possível atingir o objetivo”, afirma.
Projeto de Lei prevê prisão e multa para quem colar em provas e exames públicos
O projeto de Lei do Senado n°440, de 2016, de autoria do senador Wilder Morais, prevê multa e prisão para quem colar em provas de concurso público, avaliação ou exames públicos, processo seletivo para ingresso no ensino superior, exame ou processo seletivo previstos em lei. O projeto altera o Código Penal (Decreto-Lei 2.848/1940) para tipificar como crime a conduta de repassar ou receber, por qualquer meio, informações que possam ser utilizadas nos exames, avaliações ou processos seletivos de interesse público, ou seja, Em tramitação na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, a população tem opinado a favor da sanção criminaliza a famosa “cola”.