Frango, porco e ovo devem ficar mais caros

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Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) alertou o governo federal de que "novas elevações nos preços" dessas proteínas podem ocorrer "nos próximos meses". Foto: Infográfico/G1

Frigoríficos afirmam que custos de produção aumentaram e pedem ajuda ao governo

Com a disparada dos preços da carne bovina em 2020 e a queda da renda das famílias durante a pandemia, o consumidor teve que recorrer a proteínas mais baratas como o frango e o ovo, mesmo com o aumento do valor destes alimentos nas gôndolas dos supermercados.

No mês passado, a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) alertou o governo federal de que “novas elevações nos preços” dessas proteínas podem ocorrer “nos próximos meses”, por causa da alta dos custos de produção do setor.

Inflação retida
Economistas avaliam que os preços das proteínas podem subir mais, mas veem dificuldades para as empresas repassarem todos os seus custos ao consumidor, neste momento de desemprego alto e queda dos rendimentos.

Na prévia da inflação de maio, o frango inteiro subiu 14% nos últimos 12 meses, enquanto os pedaços tiveram alta de 13,5%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O preço do ovo, por sua vez, avançou 7%, e, dentre as carnes de porco, a linguiça disparou 30% e até mesmo a salsicha ficou 12% mais cara.

Custos
A principal queixa dos frigoríficos é com relação à escalada dos preços do milho e da soja no mercado internacional, que tem encarecido a ração dos animais, além dos custos com o diesel e as embalagens. O Índice de Custos de Produção (ICP), calculado pela Embrapa Suínos e Aves, mostra que produzir frango em abril estava 39,79% mais caro do que o mesmo mês de 2020.

Já para suínos, essa alta foi de 44,5%. Os frigoríficos pediram uma série de medidas ao governo para enfrentar a situação, como incentivos e redução de custos para importar milho e soja, mesmo o Brasil sendo um grande produtor desses grãos.

Produção dos insumos
Os Estados Unidos são o maior produtor de milho e, “mesmo que dê tudo certo” com a safra deles neste ano, ela ainda terminará com estoques historicamente baixos. Já no Brasil, maior produtor do grão depois dos EUA e China, a segunda safra de milho do ano, deve vir menor do que o esperado devido a problemas climáticos.

Monetização
No Brasil, outro fator que contribui para a redução da disponibilidade de grãos é a desvalorização do real em relação ao dólar, que faz com que as empresas nacionais prefiram vender para outros países.

Procura
A oferta é menor, mas a China tem necessitado de um volume grande de grãos para recompor o seu rebanho suíno, após a peste africana que dizimou boa parte dos animais no país. Além disso, com o avanço da vacinação contra a Covid-19 em muitos países, a tendência é de que ocorra uma aceleração da demanda por vários tipos de produtos, incluindo alimentos.

Repasse de custos
Se os produtores irão conseguir repassar os seus custos para os preços ao consumidor neste momento é uma incógnita. O desemprego está alto, a renda está muito comprometida, o auxílio emergencial está em um valor menor. Qualquer transferência mínima de custos já é sentida mais intensamente pelas pessoas no atual cenário.

Frigoríficos diminuem produção
Com o aumento dos custos, os frigoríficos, principalmente os menores — que são mais voltados para o mercado interno — começaram a diminuir a sua produção de carne. Os grandes ainda conseguem lucrar com a exportação. E, quem se organiza em cooperativas, também acaba tendo um poder maior para negociar insumos.

Reivindicações
Alguns dos pedidos da ABPA para o governo federal são medidas para reduzir os custos de importação do milho e soja, que estão maiores por causa do dólar elevado.
Segundo o setor, é necessária uma suspensão do imposto Adicional ao Frete para Renovação da Marinha Mercante (AFRMM) sobre a importação de grãos de países não-integrantes do Mercosul; Suspensão temporária de cobrança de PIS e Cofins para comprar milho e soja de países de fora do Mercosul; Suspensão temporária de cobrança de PIS e Cofins sobre os fretes realizados no mercado interno.

O que diz o Governo
Segundo Rogério Boueri Miranda, subsecretário de Política Agrícola e Negócios Agroambientais do Ministério da Economia, a questão do imposto da Marinha Mercante já foi encaminhada pelo Executivo, com a criação do Projeto de Lei 4199/2020, conhecido como BR do Mar. “A lei já está no Congresso. Agora depende da agenda do Legislativo. A parte do Executivo está feita”, diz.

“Já a questão do PIS e Cofins é um problema porque, pela lei de responsabilidade fiscal, para você desonerar alguém, você tem que onerar ou reonerar algum setor. E convenhamos que não é fácil a gente achar setores neste momento que tenham espaço para onerar”, ressalta.

Os frigoríficos também pediram políticas de incentivo de plantio de milho e de cereais de inverno no Brasil. Sobre isso, o Ministério da Agricultura afirmou que está formatando políticas que serão anunciadas durante a divulgação do Plano Safra 2021/2022.

O setor quer ainda autorização do governo para importar tipos de milho transgênico que ainda não foram aprovados pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CNTBio), do Ministério da Ciência.