Fórum apresenta inspirações para Bento Gonçalves inovar

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“O impossível é o início de todas as possibilidades e que 85% das profissões de 2030 ainda não foram criadas”

Se a criação do Inova Bento foi a principal resolução do 1º Fórum de Inovação, o encontro de especialistas do setor ocorrido no dia 08 de novembro, no Centro Empresarial de Bento Gonçalves, contribuiu de forma determinante para fomentar a inserção da cultura da inovação como prática estratégica dos negócios.

Ao longo da programação, palestrantes e empreendedores promoveram uma imersão em pautas como inovação, empreendedorismo, tecnologia e startups, conectando empresas a novas possibilidades de crescimento. “Esse é um momento para aproveitarmos as lições compartilhadas, entender o que é a cultura da inovação e por que razões ela precisa fazer parte de nossa rotina empresarial”, disse Marijane Paese, presidente do Centro da Indústria, Comércio e Serviços de Bento Gonçalves (CIC-BG), entidade promotora do evento.

Em comum, os encontros trouxeram o protagonismo das pessoas ao centro do debate ao destacá-las como essenciais no processo de inovação das organizações. E também ajudaram a desmistificar alguns conceitos que rondam o tema. “Inovar não quer dizer destruir o que foi feito ou criar algo nunca feito antes. Mas sim melhorar a cada dia, isso traz inovação e uma sociedade melhor”, pontuou Cesar Maurício Samuel do Nascimento, gerente regional do Sebrae na Serra gaúcha, entidade parceira na realização do evento.

No primeiro painel, o secretário de Inovação de Porto Alegre, Luiz Carlos Pinto, falou sobre a “Trajetória de Transformação Humana pela Inovação“, destacando a importância das parcerias na construção de um ambiente para o surgimento da inovação e para a manutenção dos talentos na cidade. “A disputa do século 21 vai ser por gente criativa. Ou a gente faz uma cidade amigável, receptiva, empoderadora desse talento, ou ele vai embora”, disse o secretário, contando sobre o surgimento do Pacto Alegre, acordo entre instituições de ensino, governo, iniciativa privada e sociedade civil para estimular o empreendedorismo colaborativo.

O movimento permitiu a união de diferentes atores do ecossistema. “Temos que utilizar a mesma energia para chegar mais longe, formar uma união conjunta. É preciso reduzir o ego, falar menos de mim e ter mais aliados para nos ajudar a subir e ir mais longe. O fundamental é a capacidade que vamos ter de nos reconhecer como ecossistema, é essa a chave mestra que vai permitir que todos os outros processos possam gerar impacto para toda cidade”, contou o secretário.

Na sequência, Alexandre Blauth, da Gartner, empresa norte-americana com atuação global que auxilia clientes a tomarem decisões mais inteligentes, apresentou algumas das principais tendências de tecnologia extraídas do último fórum realizado pela organização, semana passada. Segundo ele, 80% das empresas vão aumentar o investimento em tecnologia. Elas são centradas em pessoas, localização independente e entrega resiliente. Entre as principais estão o aumento do uso da inteligência artificial e da automação. “Em 2023, pelo menos 75% dos líderes de tecnologia terão que fazer alguma experiência de inteligência artificial dentro de suas organizações. A inteligência artificial vai ser um divisor de água tanto quanto foi o PC, a internet, o smartphone. E quem conseguir trabalhar fortemente a hiperautomação nas suas organizações, pode reduzir até 30% seus custos operacionais”, disse.

Como aplicar

Linhas de crédito com juros subsidiados como foco no desenvolvimento da cadeia produtiva foram apresentadas, na sequência, por Kalil Sehbe Neto e Gabriel Vital, respectivamente diretor e superintendente de inovação do Badesul. Kalil apresentou o banco, que funciona como uma agência de fomento. “Nos últimos 10 anos o Badesul aportou R$ 3,2 bilhões para incentivar a produção no Rio Grande do Sul, sendo que R$ 2 bilhões foram apenas no agronegócio”, contou Sehbe. Vital focou na apresentação de linhas de financiamento para a área da tecnologia e inovação, destacando que o Badesul pratica as taxas de juros mais baixas do mercado financeiro nacional. “Para empresas com faturamento de até R$ 16 milhões ao ano, os juros são de 4,2% por ano, mais a Taxa Referencial, que é o índice de correção da poupança. Para as que faturam acima deste valor, o juro sobe 1 ponto, ficando em 5.5% ao ano mais a TR”, propagandeou o superintendente do Badesul.

“Inovação na Prática” foi o tema da palestra de Tony Chierighini, diretor executivo da Celta, empresa de Santa Catarina. “Para onde nós vamos e o que queremos? Isto é o que precisa ser respondido porque, para inovar, é preciso ter propósito, inspiração e certeza do que estamos fazendo para que o nosso negócio atinja um patamar de desenvolvimento”, comentou. Citando exemplos da evolução tecnológica, cases de inovação e modernização digital em empresas, instituições de ensino e órgãos de governo de Santa Catarina, o executivo assegurou que o desenvolvimento de empresas por meio da inovação passa, necessariamente, pelas pessoas. “Um ecossistema de inovação começa no meio empresarial, mas passa pela comunidade, pelos recursos financeiros e pessoais, pelo habitat virtual, além de fatores locais e externos. E em todos eles estão as pessoas que farão essa roda girar”.

Cases inspiradores

No Painel Indústria, mediado por Renata Sandrin, diretora executiva do Grupo Sandrin Móveis, Diego Tolotti (supervisor de P&D da Bruning Tecnometal, de Panambi), Valter Sonda (diretor administrativo e financeiro da Soprano) e Leo Vitor Redondo (head da Conexo), abordaram processos de inovação no setor. Para Tolotti o processo deve ter uma meta definida. “No caso da Bruning, nosso propósito foi gerar prosperidade conectando pessoas através do fomento à inovação”, disse. A mudança deve começar pela direção da empresa. “Inovação, palavra que tem uma definição muito ampla, precisa ser implantada de cima. As metas a serem alcançadas têm que ser discutidas e definidas por quem faz a gestão e tem a palavra final. Não é um processo que começa na base, embora dependa dos colaboradores de modo geral”, garantiu.

Sonda comentou que as histórias das empresas se fundem, porque todas enfrentam problemas, superam dificuldades e trabalham com objetivos definidos. “As empresas, entretanto, têm que se unir, derrubar paredes, se adaptarem às mudanças que estão acontecendo no mundo a uma velocidade espantosa. Inovação, hoje, é a reengenharia dos anos 80, e é preciso ter cuidado ao inovar. Não é apenas por modismo, tem que ter os pés no chão”, aconselhou. Pela Conexo, o diretor Leo Vitor Redondo citou o Grupo Rondon, do qual a empresa faz parte. “A inovação na Randon está acontecendo pela entrada no mercado financeiro e por meio da tecnologia agregada aos produtos que coloca no mercado”, afirmou. Segundo Leo, a Conexo tem, no seu portfólio de serviços, cerca de 50 empresas da região. E trabalha com a filosofia de que a mudança é deixar de obrigar as pessoas quererem alguma coisa, mas fazer as coisas que as pessoas precisam.

O papel do líder

Em uma das palestras mais aguardadas na programação, o co-fundador da Angel Investor Club, Fernando Seabra, especialista em negócios, desenvolvimento de gestores e startups, mentoria e avaliação, abordou o tema Liderança para Inovação. Dizendo que o impossível é o início de todas as possibilidades e que 85% das profissões de 2030 ainda não foram criadas, Seabra comentou que a evolução tecnológica é tão violenta que um smartphone comum tem, hoje, 11 mil vezes mais tecnologia do que o primeiro foguete tripulado que foi enviado à lua. Sobre liderança, disse que é a capacidade que gestores têm de influenciar pessoas para que lutem por objetivos compartilhados. “Inovação é a implementação de um produto, bem ou serviço, novo ou significativamente melhorado, um processo, um novo método de marketing ou novo sistema organizacional”, definiu. E completou afirmando que inovar deve ser um processo contínuo e planejado, e que não existe inovação sem um choque de cultura.

O empresário e Diretor de Comunicação do CIC-BG, Bruno Benini, diretor geral da 31ª ExpoBento, foi o mediador do painel Comércio, que teve a participação de Cleidi Dayane Soberanski, gerente de inovação do grupo de Empresas Sim, e Marcelo Paes, diretor da Fecomércio Lab. Cleidi discorreu sobre o varejo citando os postos Sim, explicando que a inovação vem sendo praticada com a finalidade de manter e atrair clientes que não gostam de abastecer, para um produto que tem um cheiro ruim e é caro, referindo-se à gasolina. “O investimento em tecnologia é pesado. Erramos, acertamos, e felizmente temos conseguido um crescimento considerável com o processo de inovação que estamos aplicando com coisas simples, mas muito significativas para o nosso público”, afirmou. A maior dificuldade está na capacitação dos colaboradores, principalmente os frentistas. “É preciso mudar a cultura, e isso leva tempo” falou.

Marcelo Paes assegurou, em sua exposição, que é possível inovar em todas as áreas. “Para isso é preciso conjugar fatores como pessoas, tecnologia e negócios, aprimorando-se processos e, às vezes, até corrigindo rumos. Não existe transformação digital e nem inovação sem que que ocorra uma transformação humana. A inovação não depende só da tecnologia, mas principalmente das pessoas, que são as primeiras que precisam se transformar”, disse. No terceiro painel da tarde, Ecossistemas, o presidente da Rede Gaúcha de Ambientes de Inovação (Reginp), Artur Roberto Gibbon, também deu ênfase à importância do envolvimento de todos os colaboradores e diretores para o sucesso de um processo de inovação. “Não se faz um ecossistema sem que as pessoas envolvidas estejam verdadeiramente engajadas aos ambientes de inovação”.

Juliana Marchioretto, empreendedora no universo de startups e presidente da Associação Gaúcha de Startups (AGS), comentou que um pilar importante para que a inovação tenha êxito é a diversidade. “É preciso entender que as pessoas são diferentes, pensam, têm necessidades e gostos diferentes. É necessário estar preparado para entender esses públicos e entregar a eles o que eles querem”, acrescentou. O terceiro painelista, David Viegas, do SebraeX, braço de inovação e tecnologia do Sebrae no Rio Grande do Sul, fez uma apresentação da instituição que incentiva o surgimento de empreendimentos de inovação, com a criação de cerca de 150 novas startups somente neste ano. “Muito importante, para que se tenha inovação de fato, é a comunicação e o comprometimento entre empresas, de pessoas, um engajamento para disseminação dos processos de transformação e formação de ecossistemas”, afirmou.

Encerrando a programação, o presidente de Transformação Digital da Associação dos Dirigentes de Vendas do Brasil no Rio Grande do Sul (ADVB-RS), Ricardo Galho, falou sobre “Transformação Digital de Onde Vem Para Onde Vai”. O especialista foi mais um a defender a importância das pessoas nos processos evolutivos. “Tecnologia, inovação e meios digitais dependem das pessoas, de todas as áreas de atuação e com conhecimentos variados”, pregou. Quanto mais digital está o mundo, mais humanos os processos precisam ser. “É preciso nos adaptarmos, aprendermos a conviver com o mundo híbrido e ter a consciência de que o futuro é uma grande incógnita. O metaverso, por exemplo, já está aí, um ambiente no qual podemos ser o que quisermos”, concluiu.