Fiocruz: estudo revela que células podem ser reprogramadas para combater o câncer de mama

2015-04-10_190211

Resultados abrem caminho para novas pesquisas que poderão permitir o desenvolvimento de estratégias complementares ao tratamento desses tumores

 

Pesquisadores da Fiocruz Minas perceberam que é possível impedir o crescimento de tumores malignos de mama, por meio da alteração do perfil dos macrófagos, um tipo de célula de defesa do organismo que também faz parte do tumor. Resultados de um estudo publicado recentemente na revista científica International Journal of Pharmaceutics revelaram que uma estratégia foi capaz de reduzir quase 50% na massa tumoral de camundongos.

Para o líder do grupo de Imunologia Celular e Molecular e coordenador do projeto, Carlos Eduardo Calzavara, os resultados abrem possibilidades para novas pesquisas que, futuramente, poderão permitir a criação de estratégias complementares ao tratamento do câncer de mama.

Tratamentos que estimulam o sistema imunológico para combater o câncer vêm sendo o foco de estudos científicos no mundo inteiro. Segundo os investigadores, cerca de 50% da massa tumoral é composta por macrófagos e, por isso, as atividades dessas células influenciam diretamente no prognóstico do câncer.

Há dois tipos principais de macrófagos: os M2 têm características mais anti-inflamatórias, geralmente relacionadas com maior permissividade tumoral e os M1, que são pró-inflamatórios e mais eficazes em limitar a progressão do tumor. Assim, a proposta dos investigadores foi reprogramar o perfil dos macrófagos M2 no ambiente tumoral, usando nanopartículas de óxido de ferro , para transformá-los em M1, de forma a inibir o desenvolvimento do tumor.

“Por meio de uma ampla revisão da literatura sobre o tema, vimos que as nanopartículas de óxido de ferro tinham potencial para atuar na reprogramação do fenótipo de macrófagos. Então, a ideia foi transformar M2 em M1, por meio de tratamento local, realizado diretamente no tumor, o que permitiu um controle maior em relação a intervenções sistêmicas”, explica Camila Sales Nascimento, pós-doutoranda do grupo de Imunologia Celular e Molecular, que esteve à frente do projeto, em comunicado.

Para chegar aos resultados, o pesquisador realizou três experimentos: in vitro em duas dimensões (2D); in vivo, usando camundongos de laboratório; e in vitro em três dimensões (3D). No primeiro experimento, os cientistas usaram um sistema artificial especial para colocar células tumorais de mama em contato com os macrófagos. Ao incubar as duas células, os alimentos-se que os tumorais se multiplicaram. posteriormente, a equipe decompôs as nanopartículas e constatou que as células tumorais morriam.

No segundo experimento, a equipe injetou células tumorais em camundongos. Parte deles também recebeu as nanopartículas e todos ficaram em observação por 21 dias. No final desse período, os pesquisadores constataram uma redução de quase 50% na massa tumoral nos animais expostos à nanopartícula em comparação com aqueles que não receberam o tratamento.

No terceiro experimento, o modelo tridimensional multicelular, os investigadores simularam o microambiente tumoral, ao incluir outras células do organismo humano, além das células tumorais e dos macrófagos. Mais uma vez, as nanopartículas foram capazes de transformar os macrófagos M2 em M1.

As nanopartículas são biocompatíveis, ou seja, têm baixa toxidade para as células saudáveis, além de baixo custo e síntese rápida, o que facilita a produção em escala. O composto usado no estudo foi produzido nos laboratórios da Fiocruz Minas, por meio de uma parceria com o Departamento de Física da Universidade Federal de Pernambuco.