Fim do botox? Estudo do Butantan detecta moléculas que podem tratar rugas

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Você já deve ter visto ou até usado produtos cosméticos com ácido hialurônico, substância que confere aspecto firme à pele. Um novo estudo realizado por pesquisadores do Instituto Butantan identificou moléculas de colágeno capazes de inibir e de ativar a ação da hialuronidase — enzima responsável por degradar esse ácido.

Os cientistas descobriram, por meio de testes iniciais, que os peptídeos inibidores da enzima tem potencial para o tratamento de rugas na pele e de lesões na cartilagem. Já os peptídeos ativadores podem ajudar a tratar hematomas.

O projeto de pesquisa foi realizado no Laboratório de Estrutura e Função de Biomoléculas do Instituto Butantan. O estudo faz parte do programa de bolsas do Programa de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (PIBITI) financiadas pelo Centro Nacional de Desenvolvimento Tecnológico (CNPq) e pela Fundação Butantan.

A iniciativa conquistou o primeiro lugar no 5º Encontro dos Alunos de Iniciação Científica e Inovação Tecnológica da Escola Superior do Instituto Butantan, ocorrido em 20 de junho de 2023. O autor do estudo é o estudante de Medicina Caio Mendes, de 33 anos, que foi orientado por Fernanda Portaro, pesquisadora do Butantan, e por Bruno Duzzi, professor de Medicina da Universidade Nove de Julho.

Enzima de escorpião

O ácido hialurônico, colágeno e hialuronidase são produzidos naturalmente pelo corpo humano. Mas, quando envelhecemos, a produção desse ácido e a de colágeno diminuem aos poucos. Por isso, procedimentos estéticos os repõem artificialmente para rejuvenescer a pele.

Para se ter uma ideia, já a partir dos 23 anos de idade, estima-se que haja uma perda anual de 1% de colágeno. Ter mais hialuronidase do que colágeno no organismo é uma das características do envelhecimento. Mas a enzima é muitas vezes usada para reverter preenchimentos de ácido hialurônico ou corrigir erros.

Mendes queria procurar inibidores de hialuronidase dentro do colágeno hidrolisado. Então analisou resultados de revisões de literatura de 1994 a 2016, os quais sugerem a participação dessa proteína no rejuvenescimento da pele, desde que ingerido diariamente por 6 meses.

“O colágeno é uma proteína de alta massa molecular, composta por vários aminoácidos. Quando digerido, ele é quebrado em vários peptídeos, que não necessariamente chegam à pele. Então nos perguntamos: ‘será que no colágeno que a gente toma há algo que inibe a hialuronidase do nosso próprio organismo e melhora o aspecto da pele’?”, indagou o jovem cientista, segundo o Portal do Butantan.

Após se fazer este questionamento, Mendes aprendeu que poderia usar o veneno de escorpião como fonte de hialuronidase. O jovem fez seu doutorado em Biotecnologia sob a orientação de Portaro, que exemplifica que o veneno do aracnídeo foi “como anzol” e o colágeno hidrolisado “como a fonte de peixes”.

“Colocamos o veneno junto do ácido hialurônico e conseguimos medir a ação da enzima degradando a substância”, explica a pesquisadora. “Quando adicionamos os fragmentos de colágeno na amostra, eles inibiram a ação da hialuronidase sobre o ácido hialurônico, demonstrando que o colágeno hidrolisado de fato inibe a ação da hialuronidase.”

Em seguida, a equipe de Fernanda separou 33 frações de colágeno hidrolisado testados com diferentes porcentagens de ácido hialurônico e hialuronidase. Destes experimentos, descobriram quatro peptídeos que inibiram em 100% a ação da enzima.

Os pesquisadores então analisaram as frações por espectrometria de massas no Laboratório de Toxinologia Aplicada do Instituto Butantan (LETA), em colaboração com o pesquisador Léo Iwai. A ideia era saber quais peptídeos constituíam as frações selecionadas para depois fabricar um peptídeo sintético e testar suas propriedades inibitórias, conforme explica Mendes.

O estudante está analisando os dados de espectrometria junto de Duzzi. A próxima fase da pesquisa é fazer a melhor seleção possível dos peptídeos. “Queremos selecionar duas moléculas para serem sintetizadas, uma que está inibindo e outra que está aumentando a atividade da hialuronidase, para fazer testes in vitro e in vivo posteriormente”, conta o orientador.

Se a hipótese dos cientistas se confirmar, eles poderão “pensar em um creme antienvelhecimento e mesmo em medicamentos com potencial para tratar algumas condropatias, que são lesões na cartilagem tratadas com aplicações intra-articulares recorrentes de ácido hialurônico”, segundo diz Mendes.

“A outra possível aplicação seria em hematomas, pois trataria o extravasamento de sangue de forma mais rápida, ajudando a evitar possíveis manchas características na pele”, ele acrescenta.