Estamos vivendo dentro de um aeroporto

2015-04-10_190211

Inflação dispara em 2021 e deve ser a maior desde governo Dilma, prevê mercado

A percepção de aumento dos preços no Brasil multiplicou, nos últimos dias, as postagens em redes sociais que comparam valores encontrados em mercados e comércio de rua com preços salgados cobrados em lojas de aeroporto. Alimentos, conta de luz, gasolina e botijão de gás estão entre os vários itens cujos preços dispararam no Brasil nos últimos meses.

Os dados de inflação do ano até aqui e as projeções para os próximos meses mostram que não é apenas uma sensação pontual dos consumidores: a inflação hoje é persistente e está disseminada.

A estimativa é que a inflação oficial do país – medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) – termine o ano em 7,11%, segundo os cálculos de analistas do mercado financeiro divulgados pelo Banco Central. Esse é o dado mais recente do Boletim Focus, publicado da última segunda-feira (23), com levantamento feito com mais de cem instituições financeiras na semana passada.

Nos últimos meses, a estimativa dos analistas só tem crescido: esta é a vigésima semana consecutiva em que a projeção de inflação para 2021 tem alta, segundo o Boletim Focus. O dado mais recente divulgado pelo IBGE mostra que, no mês passado, o IPCA teve a maior alta (0,96%) para um mês de julho desde 2002. No ano, a alta acumulada é de 4,76% e, nos últimos 12 meses, de 8,99%.

Todas as regiões pesquisadas pelo IBGE apresentaram alta em julho. E, entre os grupos de produtos e serviços pesquisados, a maior alta está em habitação – afetada pelo aumento da energia elétrica. No ano passado, a inflação medida pelo IPCA foi de 4,52%, o maior índice desde 2016. O resultado foi influenciado principalmente pelo aumento nos preços dos alimentos.

Apesar de o Brasil passar por uma alta inflacionária generalizada, as famílias mais pobres vêm sofrendo um aumento de preços maior do que as famílias mais ricas. Em julho – dado mais recente disponível -, a taxa de crescimento dos preços foi maior para a classe de renda muito baixa (1,12%) em relação à observada para o grupo de renda alta (0,88%).

Em 12 meses, a taxa foi de 10,05% para as famílias mais pobres e de 7,11% para as mais ricas, segundo o Indicador Ipea de Inflação por Faixa de Renda. Para as pessoas com renda mais baixa, pesou mais o aumento de alimentos no domicílio, energia elétrica e do gás de botijão. No mesmo período, para as famílias de renda alta, pesou mais o reajuste dos combustíveis, das passagens aéreas e dos aparelhos eletroeletrônicos.

Para tentar levar a inflação, o Banco Central pode elevar a Selic, taxa básica de juros da economia. No início de agosto, diante da disparada de preços no Brasil, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu aumentar a Selic para 5,25% ao ano. Foi a quarta elevação consecutiva da taxa em 2021 e já é esperado outro aumento na próxima reunião, que acontecerá em 21 e 22 de setembro.